Os feirantes que vendem doces ao lado do Restaurante Universitário da UFSC, em Florianópolis, foram ameaçados de despejo no dia 01 de novembro, valendo a expulsão desde o dia 04 de novembro, após uma suposta intoxicação alimentar dentro do Restaurante Universitário.
O caso de intoxicação teria ocorrido em setembro, mês em que foi expedido, pela Diretoria de Vigilância em Saúde de Florianópolis, um auto de intimação proibindo a venda irregular de alimentos dentro da Universidade.
A intimação foi respondida através de um Ofício Circular, emitido pela reitoria da instituição em 1º de outubro, solicitando que a Secretaria de Segurança Institucional e a Administração do Restaurante Universitário não mais permitissem a venda de alimentos por feirantes que não fossem regularizados, tal qual ocorre na saída do RU pelo menos desde 2008.
A universidade, contudo, não realizou qualquer movimentação para a retirada dos feirantes no mês de outubro, período em que as mobilizações estudantis exigindo a melhora nas condições sanitárias do R.U ganhou força. Foi realizada uma audiência de estudantes com a reitoria para pressionar por reformas no restaurante, no mesmo mês circulou nas redes sociais um vídeo de uma barata em um prato da refeição do R.U e o Sindicato de Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina – SINTUFSC, protocolou uma denúncia ao Ministério público sobre as condições de funcionamento do R.U.
Nesse relatório foram citadas, entre outras falhas gravíssimas de higiene, o transbordamento de esgoto na cozinha do restaurante em períodos de chuvas, bem como as condições de trabalho insalubres e perigosas dentro da cozinha que, segundo a denúncia, não possui o tamanho adequado para o número de refeições diárias que prepara.
Após toda essa mobilização, em 1º de novembro, a diretoria do RU notificou os feirantes que estes deveriam se retirar de seu local de trabalho, de acordo com o relato de uma feirante que prefere não se identificar, a diretora do RU teria se aproximado dos trabalhadores com um grande sorriso no rosto e dito: “tenho uma péssima notícia para vocês”, retornando à diretoria do restaurante e posteriormente se aproximando dos feirantes acompanhada de quatro seguranças patrimoniais, momento em que entregou aos trabalhadores o Ofício Circular assinado pela Reitoria.
Sobre a tentativa de intimidação, relata Aristteu, outro feirante: “Eles chegaram a ameaçar (…) ela disse que se nós viessemos na segunda-feira o segurança ia tirar a barraca à força”
Com medo de perderem seu único meio de sustento, os trabalhadores se reuniram com estudantes na segunda seguinte, 04 de novembro, para planejar modos de garantir a permanência da feira em seu local atual de funcionamento. Se fizeram presentes nessa reunião, além dos feirantes, estudantes independentes e o Movimento Maruí.
Foi decidido na ocasião que os estudantes se fariam presentes durante o horário de trabalho dos feirantes para garantir que a diretoria do restaurante não retiraria suas barracas. Também seriam realizadas panfletagens denunciando a perseguição aos trabalhadores, bem como um abaixo-assinado para demonstrar o apoio da comunidade acadêmica e para pressionar a reitoria à transformar a feira em um projeto de extensão da universidade, tal qual foi realizado em 2022 em outra feira que ocorre na UFSC.
A mobilização se seguiu do dia 04 em diante, o Movimento Maruí e os feirantes elaboraram um documento, em meio à coleta de assinaturas e mobilização estudantil, que descreve todo o histórico da feira, o caso de perseguição da reitoria e as demandas dos feirantes para a sua regularização, um sonho dos trabalhadores que utilizam o local.
Clemente, um dos feirantes e representante da feira, atuante no local desde 2014, relata:
“Após mais de 20 dias de mobilização e mais de 3600 assinaturas coletadas, o Movimento Maruí e os feirantes entregaram o documento à reitoria, durante a sessão do Conselho Universitário desta terça, 26/11. Ao entrarem na sessão, o Movimento leu a carta e exigiu que a Reitoria se comprometesse a não retirar mais os feirantes até que sua situação fosse regularizada.
Após certa hesitação por parte da Administração da universidade, o Reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, em áudio concedido ao Movimento Maruí, afirmou que a permanência dos feirantes será garantida até a sua regularização, por meio de projeto de extensão da Universidade:
“Nós vamos fazer a renegociação, assim como fizemos com a feirinha, também com o pessoal que vende os docinhos ali(…), não vai ter nenhuma intervenção da segurança da universidade em relação à venda dos docinhos.”