Os 500 anos da expedição brasileira que descobriu o império dos incas antes dos espanhóis, contrariando a história oficial da América do Sul, estão sendo celebrados em cidades catarinenses, por onde passou o grupo de viajantes liderados por Aleixo Garcia.
Este português naufragou em embarcação espanhola perto da Ilha de Meiembipe (hoje Florianópolis) e anos depois foi chamado pelos seus salvadores, os índios guaranis-carijós, a fazer uma viagem às montanhas geladas, no oeste, “onde existiam índios que vestiam roupas, aldeias de pedra e coisas que brilhavam (objetos de ouro e prata)”, conforme a jornalista e pesquisadora Rosana Bond.
“A viagem à cordilheira dos Andes começou numa data imprecisa, mas indícios apontam entre 1522 e 1523”, diz Rosana, repórter do AND, autora do livro A saga de Aleixo Garcia, o descobridor do império inca.
Mesas Redondas
Para comemorar o feito histórico, de importância internacional, estão sendo realizados vários eventos. O primeiro deles foi em julho, através da autorização para a Prefeitura de Barra Velha construir a sede do Parque Natural Municipal Caminho do Peabiru.
Outro ato será em 31 de agosto, com Aula Magna e Mesa Redonda na universidade FADESC-Uniasselvi, campus de Palhoça (local litorâneo onde Garcia teria morado com os guaranis, ao lado de Florianópolis).
Para setembro está programada Mesa Redonda na cidade de Corupá, com a presença do líder guarani Leonardo Werá Tupã, Rosana Bond, Fábio K. Nunes (pesquisador que obteve cerca de 30 manuscritos dos anos 1500 e 1600 sobre o caminho peabiruano do Rio Itapocu) e Marcos J. de Abreu.
Solidariedade contra vereador
Também para setembro está prevista uma Mesa Redonda em formato de live, mediada pela arqueóloga Cláudia Parellada do Museu Paranaense, de Curitiba/PR.
Todos os atos dos 500 Anos servirão também como manifesto de apoio a Rosana Bond, que está sendo vítima de perseguição por parte do vereador de Joinville, Henrique Deckmann.
Ele, numa tentativa de censura e intimidação, abriu queixa-crime contra a jornalista depois que ela denunciou na Assembleia Legislativa o falseamento histórico criado por ele a respeito do percurso do Peabiru, com fins eleitorais escusos.
Pelo Caminho do Peabiru
Aleixo Garcia foi o primeiro homem branco a merecer a confiança dos guaranis em conhecer a existência do Caminho do Peabiru, que com cerca de 4 mil km unia o oceano Atlântico ao Pacífico.
Em SC, o percurso iniciava-se em Palhoça – Florianópolis, subindo o litoral rumo ao norte, entrando ali a oeste pela foz do Rio Itapocu, em Barra Velha. Seguia por S. João do Itaperiu, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Corupá e S. Bento do Sul.
“Os guaranis iam sempre aos Andes, onde mantinham intercâmbio comercial com os incas (sementes, animais, objetos, etc) e de conhecimentos variados (agricultura, medicina, astronomia, etc) mas onde também travavam batalhas em tempos mais difíceis, como os de fome e pouca colheita”, conta Rosana.
E adiciona: “Em uma das caminhadas a tribo convidou Aleixo Garcia, que havia sido guaranizado, com mulher indígena e filho, tornando-se um deles. Assim ele virou o ‘descobridor branco’ da civilização dos incas, muito antes dos castelhanos Pizarro e Almagro.”