Trabalhadores protestam contra a privatização do serviço de coleta de lixo em Florianópolis, estado de Santa Catarina. Foto: Ana Vaz/NSC TV
Trabalhadores da Autarquia de Melhoramentos da Capital (Comcap) foram atacados pela Polícia Militar (PM) e pela Guarda Municipal (GM) após deflagrar greve e fazer um protesto contra a privatização da empresa, no dia 21 de setembro, em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.
Os trabalhadores decidiram entrar em greve após realizarem uma assembleia. Eles iniciaram o protesto por volta de 11h e bloquearam a entrada do Centro de Valorização de Resíduos (CVR), na rodovia SC-404, impedindo a entrada e saída de veículos da empresa privada de coleta de lixo, Amazon Fort, cujo dono é Carlos Gilberto Xavier Faria.
Por volta de 12h30, a Guarda Municipal do prefeito Gean Loureiro (DEM) atacou os manifestantes. Os trabalhadores foram agredidos com golpes de cassetete, bombas de gás lacrimogêneo, sprays de pimenta e tiros de bala de borracha pelas forças de repressão do velho Estado. Em resposta, os trabalhadores reagiram montando barricadas e atirando pedras nos seus malfeitores.
Três trabalhadores e três agentes da repressão ficaram feridos, conforme informaram a prefeitura e o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem).
Trabalhadores da Comcap bloqueiam a entrada do Centro de Valorização de Resíduos (CVR). Foto: Duda Dalponte/ NSC
Mesmo diante da brutal repressão, os trabalhadores permaneceram no local. Com isso, em uma decisão expedida durante o período da tarde, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) ordenou que os trabalhadores desbloqueassem a entrada do CVR. A PM foi até o local por volta de 15h30 e tentou negociar com os grevistas. Estes, por sua vez, fizeram uma nova votação e decidiram permanecer no local até que suas exigências fossem atendidas.
Por volta de 16h, os militares e GMs avançaram novamente contra os trabalhadores disparando bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha. Os trabalhadores novamente ergueram barricadas, ateando fogo em pneus e outros objetos.
Os trabalhadores forma reprimidos durante greve combativa em Florianópolis. Foto: Ana Vaz/NSC TV
Após resistirem bravamente, os trabalhadores foram obrigados a se retirar do local, porém não pararam o protesto e fecharam os dois sentidos da rodovia SC-404. Novamente os PMs e Guardas perseguiram os manifestantes e reprimiram o novo protesto com a mesma brutalidade que já tinham aplicado anteriormente.
Por conta das agressões, bombas e tiros disparados, um trabalhador sofreu um corte de quatro centímetros na cabeça e precisou ser levado ao Centro de Saúde de Itacorubi.
Um dos trabalhadores sofreu ferimentos na cabeça causados pela repressão brutal da PM e da GM. Foto: Reprodução
Trabalhadores lutam contra prefeito privatista
A luta dos trabalhadores da Comcap é contra a tentativa do prefeito Gean Loureiro de privatizar e terceirizar o serviço de coleta de lixo na capital catarinense.
Eles denunciam o vergonhoso cancelamento do concurso público da Comcap, chamado oficialmente em 2019 e conquistado após dura greve em Data-base. Segundo o Sintrasem, a prefeitura não repõe os trabalhadores, sobrecarregando e adoecendo a categoria, para criar uma falsa demanda e terceirizar os serviços.
O reacionário Gean Loureiro contratou a empresa Amazon Fort para realizar a coleta de lixo no município. Contudo, segundo o Sintrasem, tal contratação é ilegal pois desrespeita a clausula 27 do Acordo Coletivo de Trabalho.
“A contratação é ilegal e imoral, porque desrespeita a cláusula 27 do Acordo Coletivo e porque não existe a necessidade de contratação, já que não existe emergência ou calamidade pública, como especifica a lei federal 8.666/ 93, usada pela prefeitura.”. Diz o sindicato em nota.
O Sintrasem continua: “A categoria exige a retirada dos editais que terceirizam as funções da Comcap, o cumprimento da decisão judicial e a saída imediata da Amazon Fort de Florianópolis. Lutamos também em defesa dos nossos postos de trabalho e de todos os direitos do acordo coletivo, conquistados durante décadas com muito sangue e suor. Mesmo diante da situação caótica que vive o Norte da Ilha e da decisão judicial que proíbe a terceirização da Comcap, Gean Loureiro avança com seu projeto de entrega do patrimônio público, publicando licitações que terceirizam o setor operacional, a varrição e diversas outras funções”, diz o texto.
Os trabalhadores denunciam que a Amazon Fort vai receber R$ 16,8 milhões ao ano para fazer só cinco roteiros da coleta convencional; enquanto a Comcap faz mais de 40 roteiros, além de pelo menos outros 16 serviços como coleta seletiva, hospitalar, de verdes, remoção, capina, limpeza de valas, varrição de ruas e etc.
Outra denúncia dos trabalhadores é que no novo contrato firmado entre a prefeitura e a Amazon Fort, a empresa vai receber da administração municipal R$ 1,4 milhão por mês, para realizar um serviço que a Comcap já faz. Com isso os moradores da cidade estão pagando duas vezes pelo mesmo serviço.
Além de receber benesses milionárias da prefeitura, a empresa ainda lucra em cima da exploração máxima de seus funcionários. No começo de 2021, a Amazon Fort estava pagando R$ 100 ao dia para um gari coletar lixo por 12 horas, denunciou o Sintrasem. Também foram flagrados garis trabalhando de chinelo e com os pés enfaixados, num total descaso para com a saúde do trabalhador.
Os trabalhadores afirmam ainda que não vão assistir de braços cruzados Gean Loureiro destruir seus postos de trabalho para garantir os lucros dos “empresários do lixo”. A categoria exige a retirada dos editais que terceirizam as funções da Comcap, o cumprimento da decisão judicial e a saída imediata da Amazon Fort de Florianópolis.