Povo Xokó – Ilha de São Pedro. Foto: Triboxokó.wixsite.com
A luta do povo indígena Xokó, habitantes do Sertão Sergipano ganhou um importante baluarte e autêntico símbolo de resistência e preservação da sua cultura: o livro Histórias do talento Xokó, de Anísio Apolônio Lima Xokó. Publicado em 2019 e lançado em três oportunidades: na festa anual da retomada do território Xokó em setembro, realizada no próprio território Xokó em Sergipe; durante a 9ª Bienal do Livro realizada em Maceió pela Universidade Federal de Alagoas em novembro; e no dia 12 de dezembro, no campus de Aracaju da Universidade Federal de Sergipe (UFS), durante um evento organizado por professores da UFS e que contou com a participação de estudantes da universidade e apoiadores da luta indígena.
Neste livro conhecemos a história, a cultura e a luta do povo Xokó, o único povo indígena existente no estado de Sergipe, sobrevivente do genocídio colonialista português, contadas em onze poemas e ainda uma peça teatral, sendo apenas uma pequena seleção da vasta obra do autor. O trabalho, organizado pelo professor e apoiador da luta indígena José Nascimento de França, permite conhecer os principais marcos da trajetória dos Xokó, desde a usurpação do seu território por missionários católicos no século XVIII e a grilagem das suas terras por latifundiários, a perseguição ao povo Xokó e a quase extinção da sua cultura, até o resgate da sua história e identidade cultural pelos indígenas e a retomada do seu território.
Os Xokó habitam hoje as terras do Sertão Sergipano que retomaram nos anos 70, reconhecidas oficialmente nos anos 90, a Ilha de São Pedro no Rio São Francisco e a terra Caiçara às margens do mesmo rio. Dedicados à produção artesanal de louças e panelas de barro e à agricultura, os Xokó lutam hoje por manter viva a sua história, preservando sua cultura e seu território contra a aculturação e as dificuldades econômicas da sua pequena produção camponesa e da escassez de água provocada pelas hidrelétricas do São Francisco.
O livro de Anísio Apolônio Lima Xokó é uma grande contribuição nesta empreitada, como coloca o organizador do livro: “Dividido entre o sustento de sua família e sua arte, o poeta vivencia os dramas da história do seu povo, de seu meio cultural e social, expressando-os todos em sua obra”.
Em A verdade da minha vida, o primeiro poema do livro, podemos conhecer um pouco do talento Xokó retratando a agressão colonialista contra os indígenas e a destruição da sua cultura:
“[…] Despido como nascido / Sobre formigueiros sentados / Maltrataram-me como nunca / Meus guerreiros foram afogados / Minha cultura, meu mundo / Tudo isso me foi roubado / E ainda depois de tudo / Ali fui escravizado / De índio para branco / Acabara de ser transformado […]”.
Em Hino Nacional Xokó encontramos a verdadeira essência da luta histórica dos Xokó por retomar não apenas o seu território originário, mas por recuperar a sua identidade e cultura indígena:
“Em ti e por ti Caiçara terra, / Eu me pus para ser degolado, / Com muita fome eu fui para guerra, / E na guerra eu fui escravizado, / Em ti e por ti Caiçara terra, / Meu passado é mais que ensanguentado. […] E tu, meu templo de liberdade, / Fez-se por cem anos cativeiro, / Nele fui partido em metade, / Em outros solos eu fui forasteiro, / Em ti e por ti Caiçara terra, / Exclui-me dos olhos brasileiros. […] Contudo se fez pátria amada, / Idolatrada pelo fruto da dó, / Amante me tornaste de ti, / E por ti muitas vezes me fiz pó, / Em ti e por ti Caiçara terra, / Voltei da guerra em nome dos Xokó”.
Anísio Apolônio Lima, fala sobre o lançamento do seu livro, em evento na UFS. Foto: Comissão organizadora do evento.
Anísio Apolônio (autor do livro) Lima, posa para foto junto de professores e apoiadores da cultura indígena em Sergipe. Foto: Comissão organizadora do evento.