Como se já não recebessem o bastante para desempenhar suas atividades improdutivas, indiferentes ou até mesmo contrárias aos interesses da Nação, as Forças Armadas reacionárias brasileiras têm buscado usar os recentes acontecimentos entre a Guiana e a Venezuela para pressionar o Congresso a aprovar uma PEC que aumenta para 2% o valor do PIB destinado para os gastos em “defesa”. As informações são do colunista do monopólio de imprensa Estadão, Marcelo Godoy. No dia 8 de dezembro, o representante dos militares reacionários no governo, José Múcio, também agiu e pressionou Luiz Inácio para aumentar os investimentos nas Forças Armadas, durante uma reunião descrita pelo ministro como “muito boa”.
A PEC é de autoria do líder do ex-partido de Bolsonaro, Carlos Portinho (PL-RJ), e conta com apoio dos bolsonaristas no Congresso e de uma parcela significativa da base governista, inclusive o líder do PT no Senado e bajulador da caserna, Jaques Wagner. Se aprovada, a proposta elevará os gastos com as Forças Armadas reacionárias para R$ 200 bilhões, se for levado em conta o PIB de 2022, no valor de R$ 10,1 trilhões. A cifra é R$ 78 bilhões acima do orçamento de 2023, calculado em R$ 122 bilhões e dos quais 80% foram com gastos pessoais. Dado o histórico recente de comilança, bebedeira e corrupção das Forças Armadas, para evitar mencionar os casos mais embaraçosos de remédios muito usados para fins libidinosos, é de se imaginar quais foram os “gastos pessoais” optados pelo generalato.
Essa não é a primeira vez nesse ano que os militares exigem do governo (e este, subserviente, atende) aumentos vultosos nos investimentos. No dia 18 de agosto, o atual comandante do Exército criou um Grupo de Trabalho para pressionar o governo, dentre outras coisas, a aumentar o dinheiro enviado à instituição. Também esse ano, o governo, cedendo à pressão da caserna, anunciou que reservaria a fatia de R$ 53 milhões reservados do “Novo PAC” para gastos com as Forças Armadas.
Mas agora as novas exigências dos militares buscam camuflar-se com outra “justificativa”: a ausência de munições e equipamentos adequados nas fronteiras, sobretudo em Roraima, onde desenvolvem-se as tensões entre Essequibo e Guiana. Desde o início do fenômeno, o Exército reacionário já aumentou os efetivos de homens na região e enviou veículos blindados de diferentes tipos para Roraima, mas reclama da falta de munições. Em um dos transportes para a região, dando mostras do apreço que tem pelos materiais que possui, o piloto de um caminhão da Força terrestre tombou o veículo, que explodiu na beira de uma estrada com saldo de dois militares feridos.
Será que é necessário um assalto tão grande aos cofres da Nação para bancar o aumento das atividades das Forças Armadas reacionárias, dentre elas as festanças regadas a comidas e bebidas de “primeira categoria” ou exercícios militares (muitos de caráter contra insurgente) realizadas com exércitos imperialistas (como o do USA) em regiões estratégicas do País (como a Amazônia)?
Ora, se os militares querem mais dinheiro, que não mirem os cofres da Nação e o dinheiro arrecadado às custas do povo, mas sim que abram os cofres e torneiras dos generais e alto oficialato. Afinal, a atuação desavergonhada dessa casta não se encerra nos gastos vultosos nas comemorações e medicamentos duvidosos. Está também no acúmulo de supersalários, que chegaram a atingir mais de R$ 30 mil para 215 oficiais (R$ 6,4 milhões) em 2022, fora os bônus e remunerações extras, e na prática desavergonhada e generalizada de esquemas corruptos, dentro e fora da caserna, voltados ao enriquecimento ilícito. Foram vários desses nos últimos anos, desde a compra superfaturada e sem licitações de coletes balísticos no Gabinete de Intervenção Federal do Rio de Janeiro, chefiado pelo general Braga Netto, às práticas similares em ministérios e órgãos no governo de Bolsonaro, e o enriquecimento pessoal por esquemas montado por figuras como Osmar Crivelatti. Claro, não houve, para nenhum desses representantes da moralidade, a expulsão da força e corte dos gordos salários.
É um escárnio que, na situação em que se encontrem, os militares reacionários ainda exijam um aumento nas verbas destinadas às diferentes forças. Assim o será, também, se o governo ceder ao apetite voraz dessa cúpula imoral.