Will foi assassinado a sangue frio por policias, quando já se encontrava rendido. O jovem deixa esposa e duas filhas pequenas. Foto: Reprodução
Na noite do dia 15 de março, por volta de 20h, a Polícia Militar (PM) do estado de Sergipe realizou uma ação sangrenta contra trabalhadores que moram em barracos dentro de uma ocupação coordenada pelo Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST). Sem nenhuma ordem judicial, militares entraram atirando e agredindo moradores da Ocupação Valdice Teles, no bairro Santa Maria, em Aracaju. Um jovem foi executado.
De acordo com os moradores, mais de 20 tiros foram disparados pelos militares, em um local em que moram um grande número de crianças e que abriga 350 famílias. Na ação, os policiais executaram o jovem Will Goiana da Silva, de 21 anos, morador da ocupação. O jovem foi rendido e posto de joelhos pelos policiais no quintal de sua própria casa, tendo sido executado no local, segundo denunciam moradores. Will foi assassinado no mesmo dia em que comemorava o aniversário da sua mãe, que morava em uma rua na frente da ocupação. De acordo com a família, ele trabalhava vendendo acessórios para aparelhos celulares. Will deixa esposa e duas filhas.
Uma violenta ação policial nesta terça, 15, na ocupação Valdice Teles, em Aracaju (SE), resultou em um morador morto. “Foi assassinado pela Polícia Militar do Sergipe”, denuncia Isadora Britto, do @mtst. Assista vídeo com imagens dos moradores.#Aracaju #justiça #mtst #moradia pic.twitter.com/K7jakgyffp
— Esquerda Online (@esquerdaonline) March 16, 2022
Outros moradores que tentaram impedir a ação foram torturados e presos. Um homem conhecido como “Badá” foi brutalmente espancado pelos policiais, tendo que ser levado para o hospital por conta dos ferimentos.
Para justificar a ação, a PM alegou que havia homens armados dentro da ocupação e que os moradores tentaram impedir e dificultar a entrada dos militares. A polícia alega ainda que ocorreu confronto, porém essa versão foi negada pelas massas trabalhadoras.
De acordo com o advogado da brigada jurídica do MTST, Lucas Santana: “Não teve disparos por parte dos moradores, não teve confronto da parte dos moradores, não teve resistência da parte dos moradores. Todas as bases, todos os disparos foram efetuados pela polícia militar do estado de Sergipe”, afirmou.
A coordenadora do MTST em Sergipe, Izadora Brito, afirmou que os trabalhadores vão lutar para que seja feita justiça e para que os policiais sejam punidos: “A gente já recolheu aqui 20 cápsulas de balas e a gente acaba o dia enterrando um trabalhador, que já estava rendido quando recebeu um tiro. Esse crime não pode ficar impune. A gente vai tomar todas as providências judiciais possíveis. Fazer denúncia no Ministério Público. Vamos fazer denúncias nas cortes internacionais. A gente tá aqui em coletivo se solidarizando com a família, mas também se organizando para que uma barbárie como essa não aconteça novamente”.
Os moradores fizeram um protesto dentro da ocupação no dia 16/03, dia seguinte ao assassinato. No ato, a família de Will afirmou que o rapaz era trabalhador e que não era justo que tivesse sido morto daquela forma. Outros moradores denunciaram a violência da PM e afirmaram que o que ocorreu foi uma execução.
“Ele (policial) mandou todo mundo se retirar do lugar. Quando todo mundo se retirou, ele executou a sangue frio”, denunciou uma moradora da ocupação que não quis se identificar.
Moradores exibem algumas cápsulas de munições que forma disparadas pelos policiais dentro da ocupação. Foto; Reprodução