SEBASTIÃO AZULIM: PIONEIRO DA ROÇA POPULAR
“Minha coragem meteu medo neles, mas faltou a instrução. Se eu tivesse leitura, eles tinham comido fogo!“
Na noite de 10 de dezembro de 2017, o movimento Fóruns e Redes de Cidadania homenageou Seu Sebastião “Azulim” de Sousa Lima na comunidade de Santa Maria em Urbano Santos. O barracão estava cheio de gente ansiosa pelo reencontro com a história do homem que iniciou a luta pela terra na região.
O homenageado, hoje com 83 anos de idade, estava atento a tudo que acontecia. Aos poucos sua história foi se tornando conhecida por aqueles que participavam de um dos encontros do Círculo de Cultura mais emotivos do período.
Sr. Sebastião Azulim, nasceu no povoado de Mirim, em Barreirinhas; mas fincou sua moradia e vida na comunidade Raiz/Santa Maria em Urbano Santos. Sempre muito corajoso e determinado plantava as maiores roças e tinha muitos animais de criação.
Conheceu os trabalhos das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e com muita alegria e entusiasmo, Seu Sebastião aceitou ser o dirigente da comunidade e assim começou a reunir e organizar as pessoas: logo da primeira atividade deu uma grande e bonita roça comunitária que produziu muita mandioca, arroz, feijão, maxixe e melancia.
Mas, os supostos donos da terra, para quem a comunidade trabalhava como foreira, não gostaram da ideia e tentaram impedir a organização proibindo-os de retirar a madeira para cercar a roça. Só que a comunidade persistiu e Seu Sebastião sofreu violentas perseguições sendo proibido até de plantar para si, mas seus companheiros fizeram uma roça por ele… Que mais tarde foi queimada por aqueles que o perseguiam
Seu Sebastião descobriu, em uma visita ao cartório da cidade de Brejo, que os que se diziam donos da área não tinham tanta terra assim e quando levou essa notícia aos outros membros da Raiz enfureceu ainda mais os latifundiários que com a ajuda da prefeita de Urbano Santos na época, Rosalina, fraudaram os documentos e autorizaram a Polícia Militar a despejar Seu Sebastião.
Ficou profundamente marcado na memória de todos este momento uma grande mobilização popular realizada após o primeiro despejo, em que todos os membros das comunidades da região de Santa Maria foram a pé, até o povoado Queimadas, quase duas léguas de distância, local em que seus pertences foram jogados, buscar tudo, fazendo uma grande “romaria” por dentro do matagal para levar tudo de volta para a sua morada.
Seus companheiros, num gesto de solidariedade e senso de justiça, reconduziram Sebastião Azulim à comunidade só que a PM foi mais violenta num segundo despejo ateando fogo na casa e destruindo toda a produção.
As crianças e jovens que participaram desse momento, hoje adultos e idosos, ficaram extremamente emocionados ao lembrar do ocorrido, não esquecendo de dizer a forma como os poderes – públicos e privados, sempre se unem para perseguir os pobres e camponeses.
Mesmo depois de tanta violência, Seu Sebastião Azulim, continuou participando das atividades das CEBs e a injustiça sofrida por ele nunca foi esquecida por todos que testemunharam a guerra dos poderosos contra os pequenos lavradores.
Ontem (10/12/17), os Fóruns e Redes, homenagearam Seu Sebastião por sua organização, coragem e determinação.
Reconhecendo-o como herói da luta do povo e intitulando o Círculo de Cultura com seu nome, fazendo dele o patrono da primeira turma do Projeto de Alfabetização Popular de Adultos pelo método de Paulo Freire.
Diante da homenagem feita, salão comunitário lotado, Seu Sebastião afirmou, com muita emoção: “Eles não me derrotaram, eles perderam. Eu estou aqui com vocês!”
Sebastião Azulim, nosso herói e inspiração!
Sebastião Azulim, herói do povo, pioneiro da roça coletiva!
PRESENTE NA LUTA!