Seguindo diretriz de Villas-Bôas, Comandante do Exército busca apaziguar com extrema-direita

Tomás Miguel Paiva, comandante do Exército. Foto: Divulgação/Exército

Seguindo diretriz de Villas-Bôas, Comandante do Exército busca apaziguar com extrema-direita

No dia 18 de agosto, o comandante do Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva expediu a chamada “Ordem Fragmentária n°1”, voltada a resolver crises internas e externas do Exército, principalmente através do apaziguamento com setores da extrema-direita da caserna. A ordem foi expedida um dia antes de uma reunião dos comandantes das três forças com Luiz Inácio e o ministro da Defesa José Múcio.

Logo no início do documento, destaca-se uma máxima do Exército nos últimos anos: “os quadros da Força devem pautar suas ações pela legalidade e legitimidade, mantendo-se coesos e conscientes das servidões da profissão militar”. 

O bordão de “legalidade e legitimidade” (junto de estabilidade) foi usado pela primeira vez pelo ex-comandante do Exército, o general Villas-Bôas, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Depois, foi usado diversas vezes pelo mesmo general e chegou também a ser usado por Mourão, em 2021. Villas-Bôas ficou conhecido nos últimos anos como articulador da participação cada vez mais ativa dos militares na política e pelas declarações de tom ameaçador e golpista em redes sociais. 

Seguindo as linhas gerais de Villas-Bôas, o documento promete novos cargos e investimentos no Exército, destinados a agraciar tanto militares de alta patente quanto reservistas e baixas patentes. Os pontos que se destacam são: 

  • c. fortalecer as ações voltadas para o bem-estar da Família Militar, a fim de ampliar a coesão e a satisfação do público interno, otimizando o Sistema de Assistência Social;
  • d. aperfeiçoar o Sistema de Saúde do Exército, melhorando as estruturas de saúde existentes;
  • e. aperfeiçoar o Sistema Colégio Militar do Brasil, sobretudo por meio do avanço do processo de seleção de professores, instrutores e monitores;
  • f. majorar o número de moradias em guarnições de difícil recompletamento;
  • g. acompanhar a tramitação do novo arcabouço fiscal, visando ações oportunas para o atendimento de demandas reprimidas;
  • h. buscar a ampliação de recursos orçamentários, por meio de créditos adicionais, emendas parlamentares, convênios com ministérios e outras parcerias de interesse do Exército;

As ações propostas pelo comandante do Exército ocorrem em momento de grave crise militar nas Forças Armadas, sobretudo no Exército. Internamente, a corporação passa por um grave quadro de desunião das tropas intensificado após a postura do Alto Comando de, no ano passado, não ter se lançado no aventureirismo golpista de Bolsonaro. À época, a força chegou a discutir o tema em reuniões lideradas por Braga Netto em novembro, mas decidiu que não era momento.

Apesar do enfraquecimento de Bolsonaro e da desmoralização da extrema-direita, o setor ainda não se encontra derrotado. A alta cúpula do Exército preocupa-se que o avanço das investigações, sobretudo contra militares como Mauro Cid (pai, que integrou o Alto Comando do Exército, e filho, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro) e Osmar Crivelatti (ex-auxiliar de Villas Bôas que também foi assessor de Bolsonaro), possam intensificar ainda mais o grau da desunião ao instigar a extrema-direita e lançar ainda mais as Forças Armadas no descrédito geral frente ao povo brasileiro.

Outros militares do alto escalão que tiveram íntimo contato com a extrema-direita e são suspeitos de terem auxiliado nos eventos golpistas do ano passado e deste ano, como Gonçalves Dias e Augusto Heleno, ambos ex-ministros do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, e Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, também não estão fora das investigações. No dia 23/08, militares da cúpula do Exército reuniram-se com o presidente da CPMI do 8/1. No dia seguinte à reunião, o parlamentar decidiu postergar a votação para definir o dia de convocação dos três generais à CPMI. 

Agora, a ordem do comandante do Exército soma-se aos episódios de tutela ao governo para tentar apaziguar com a extrema-direita não somente freando o cerco aos generais, mas também concedendo novos cargos e benefícios à milicada da caserna e da reserva, dentre os quais os setores da extrema-direita. Afinal, o choque com a extrema-direita dentro do exército não interessa, uma vez que agudizaria a desunião das tropas e descartaria a extrema-direita do tabuleiro dos generais, impedindo o uso da peça como moeda de ameaça nas negociações contra o governo.

Exemplo dessa relação ocorreu no dia seguinte ao lançamento da Ordem Fragmentária n° 1, quando Tomás Paiva se reuniu com os comandantes das duas outras forças, o ministro da Defesa e o presidente Luiz Inácio no Palácio da Alvorada, em pleno sábado, para discutir a crise militar. Dentre os temas da discussão, predominou a necessidade de novos investimentos no Exército a fim de reverter o quadro da atual crise. Luiz Inácio, seja por crença ou por pressão imposta pela tutela, lança mão de investimentos como forma de resolver a instabilidade na caserna.

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