Sequência AND #4: Turquia – cultura de revolução

Sequência AND #4: Turquia – cultura de revolução

 

1 – Yoldaş [Camarada] – Emekçi (Özgürlük Mahkumları / Durma Öyle, 2002)

2 – Haziranda Ölmek Zor [É duro morrer em junho] – Grup Yorum (Haziranda Ölmek Zor, 1991)

3 – Sevev Tüya [Sete sonhos] – Ozan Rençber (Wad / Soz, 2019)

4 – İsyan Ateşi [Fogo da rebelião] – Grup Munzur (Babanın Türküsü – Onların Kavgası, 1993)

5 – Başın Öne Eğilmesin [Nunca curves tua cabeça] – Ruhi Su (El Kapıları / Sabahın Sahibi Var, 1993; composição sob poema “Sejas forte, meu coração”, de Sabahattin Ali)

6 – İbrahim’e Ağıt [Requiem para Ibrahim] – Grup Munzur (Beklenen Uzak Değil, 2000)

7 – Ağla Kızılırmak Ağla  [Chora, rio Kızılırmak, chora] – Emekçi (Güle Barut Serdin mi, 2003)

8 – İbom Ölüyor [Morre o İbo] – Aşık Mahzuni Şerif (Sınıfsız Okul, 2002)

9 – Un Çiyaye – TİKKO Müzik Topluluğu (Un Çiyaye, 2000)

10 – Dünyanin Üzerinde [No topo do mundo] – Grup Yorum (Türkülerle, 1989; composição original de Ruhi Su)

 

Extra: Mao Zedong Yoldaşim [Camarada Mao Tsetung] – Ozan Rençber (Yürüyoruz Iktidara, 1980); Şehitlerimiz [Nossos mártires] – Garip Şahin (Töre, data desconhecida)*

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“Somos o fogo da rebelião”

A cultura de esquerda revolucionária na Turquia é uma das mais expressivas do mundo e isso deve-se principalmente a dois fatores: primeiro, que há neste país uma forte tradição revolucionária, de forja em luta contra sucessivos regimes de terror aberto – o que, naturalmente, impacta a psicologia da sociedade como um todo; segundo, que o desenvolvimento dessa tendência conta com a intervenção e suporte direto do elemento consciente, do movimento comunista.

O movimento comunista turco desenvolveu-se sob duras condições. Ainda em sua infância, o Partido Comunista foi duramente golpeado por mando das milícias kemalistas¹ em 1921, num massacre que martirizou 15 quadros, incluindo o principal dirigente e fundador Mustapha Suphi. Ainda que sob o peso do esmagamento fascista, uma afirmação comunista conseguiu manifestar-se na cultura e arte turcas, seja por influência da fronteiriça União Soviética, seja pela produção popular de comunistas – a exemplo dos poetas Nâzim Hikmet e Ahmed Arif e do compositor Ruhi Su.

Ruhi Su apresentando canções folclóricas em 1974.

Todavia, uma linha oportunista de direita predominou no movimento comunista até a tempestade dos anos 60-70, onde a esquerda se impôs numa nova onda de atividade revolucionária cuja principal expressão foi o gigante İbrahim Kaypakkaya, chefe do Partido Comunista da Turquia/Marxista-Leninista (TKP/ML) e da Guerra Popular. Com a nova situação política, abriu-se espaço para o enrobustecimento da frente cultural, onde músicos independentes como Emekçi, Garip Şahin e Ozan Rençber tomaram posição pela linha de Kaypakkaya. 

“Eles têm medo de meu camarada Mao Tsetung como do bicho papão”, diz a canção famosa de Ozan Rençber.

Como extensão desse período, a partir dos anos 80 vemos o estabelecimento de vários grups² de esquerda, que são expressão de continuidade da luta popular na Turquia. Destaca-se o Grup Yorum, que teve vários de seus membros presos, exilados e martirizados em greve de fome; além do pró-maoista Grup Munzur, cuja defesa de Kaypakkaya em slogans resultou na prisão de seus membros sob acusação de “terrorismo”.

Ainda hoje, músicos turcos são perseguidos por canções que aludem ao movimento revolucionário ou mesmo reproduções de poemas populares, e ainda assim permanecem e permanecerão em seu ofício. O combustível que os impulsiona a lançar-se conscientemente a este desafio, e também aos reveses de sua posição combativa, é justamente a existência de um movimento comunista que mantém aceso o fogo da rebelião:

Fomos fuzilados cinco vezes nos topos das montanhas

Fomos crucificados nas casas de tortura

[e ainda assim] o sangue troveja em nossos corações

Nosso ardor brota na primavera de Munzur.

(…)

Somos o fogo da rebelião, queimamos intensamente

Nos picos das montanhas, nos fuzis da vitória

(İsyan Ateşi [Fogo da rebelião], Grup Munzur. Babanın Türküsü (Onların Kavgası), 1993)

Fotograma de O Caminho (1982), obra-prima do cineasta curdo Yılmaz Güney, dirigida desde a prisão. Na época em que mais foi perseguido pela polícia política e pelas milícias fascistas, o TKP/ML fez sua guarda pessoal. Foto: Reprodução.

Notas:

1 – Movimento nacionalista reacionário turco, caracterizado pela linha maoista na Turquia como fascista.

2 – Grupos musicais de filiação rotativa.

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