Reproduzimos abaixo um artigo publicado no portal Palestine Chronicle. O Palestine Chronicle é um portal online dedicado à cobertura jornalística dos eventos na Palestina. O Editor-chefe de Palestine Chronicle é o conselheiro editorial de AND, Ramzy Baroud. Ramzy Baroud foi entrevistado pelo AND no programa A Propósito, na edição que pode ser conferida aqui.
Em um comunicado na terça-feira, o Movimento de Resistência Palestina Hamas anunciou que Yahya Sinwar é o seu novo líder, após o assassinato do gabinete político do movimento, Ismail Haniyeh.
Haniyeh foi assassinado em Teerã em 31 de julho, deixando o Hamas com a decisão e o desafio de escolher um novo líder.
A liderança do Hamas é dividida entre três comandos, um liderado por Saleh al-Arouri na Cisjordânia, outro por Yahya Sinwar em Gaza e Khaled Meshaal no exterior.
Haniyeh era o líder geral.
Israel assassinou Arouri em janeiro e Haniyeh há alguns dias.
Após dias de deliberações, o conselho palestino da shura (deliberação) elegeu Sinwar como seu novo líder geral.
Quem é Sinwar
Robert Inlakesh, redator da equipe do Palestine Chronicle, escreveu recentemente:
Sinwar nasceu em 29 de outubro de 1962, no campo de refugiados de Khan Younis.
Em 1948, seus pais foram etnicamente limpos de suas casas em Majdal-Askalan, hoje ocupada por colonos israelenses e rebatizada de Ashkelon.
Marcado por suas experiências de crescimento como pessoa deslocada e sob a ocupação militar da Faixa de Gaza, que ocorreu em 1967, seu pai disse que “a vida de Yahya foi cheia de agonia devido à agressão sionista. Desde sua infância, ele estava determinado a resistir à ocupação”.
Com alto desempenho acadêmico na escola, ele passou a estudar na Universidade Islâmica de Gaza, onde ajudou a fundar o Bloco Islâmico e ocupou vários cargos no conselho estudantil da universidade.
Em 1982, Sinwar e outros membros do conselho estudantil viajaram para visitar mulheres palestinas em Jenin que supostamente haviam sido vítimas de uma tentativa de envenenamento por israelenses.
Foi em resposta a essa visita que ele foi preso e colocado sob detenção administrativa (mantido sem acusação nem julgamento) por seis meses, sob a alegação de que participava de atividades islâmicas subversivas.
Durante sua detenção, Sinwar fez amizade com outros ativistas, como Saleh Shehade, que viria a liderar o braço armado do Hamas até seu assassinato em 2002.
Sinwar foi responsável pela criação de uma rede de segurança, conhecida como Majd.
O Majd operava em segredo enquanto a organização alinhada à Irmandade Muçulmana que precedeu o Hamas, o Mujamma Islamiyya, permaneceu como um grupo não combativo até a criação do Hamas no final de 1987.
Em 1988, Sinwar foi preso e supostamente torturado durante seis semanas após a descoberta de células armadas que pertenciam ao Majd.
Em 1989, o Hamas realizou seu primeiro ataque armado significativo, matando dois soldados israelenses. Sinwar foi condenado sob a alegação de ter planejado o ataque e sentenciado a 426 anos de prisão.
Sendo o líder do Hamas de maior perfil libertado em um acordo de troca de prisioneiros em 2011, Sinwar retornou a Gaza e acabou sendo eleito líder do Hamas na Faixa, substituindo Ismail Haniyeh.
Em 2017, o Hamas passou por uma reformulação e atualização de seu estatuto, que indicava que o Movimento de Resistência Islâmica estaria aberto a aceitar uma solução de dois Estados.
Nesse mesmo ano, Sinwar desempenhou um papel importante na tentativa de reparar os laços entre a Autoridade Palestina (AP), liderada pelo Partido Fatah, e o Hamas, mas sem sucesso.
Em 2018, sob a liderança de Yahya Sinwar, o Hamas adotou a plataforma política de resistência não violenta em uma tentativa de se abrir para negociações diplomáticas que poderiam acabar com o cerco a Gaza.
A liderança do Hamas endossou o movimento de protesto não violento em massa, conhecido como a “Grande Marcha do Retorno”, que começou em 30 de março de 2018.
No entanto, após a decisão dos EUA de reconhecer unilateralmente Jerusalém como capital de Israel e a morte de centenas de manifestantes desarmados nas mãos de soldados israelenses, o Hamas mudou novamente sua abordagem.
Em maio de 2021, o Hamas lançou a batalha de Saif al-Quds, que foi apoiada por vários outros grupos armados dentro da Faixa de Gaza.
Desde então, os discursos e as aparições públicas de Yahya Sinwar o tornaram um líder celebridade muito popular em todo o mundo árabe.
O que isso significa
O Palestine Chronicle acredita que a eleição de Sinwar tem significados e simbolismos profundos:
Primeiro, significa que o Hamas, em todas as suas ramificações, permanece unido.
Segundo, o Hamas vê que a resistência em Gaza continua forte, unida, organizada e capaz de liderar uma longa guerra de desgaste contra a ocupação israelense.
Terceiro, as notícias da mídia, algumas divulgadas pelos principais meios de comunicação do EUA, de que há um conflito entre os “moderados” e os “linha-dura” do Hamas não são verdadeiras.
Quatro, o Hamas continua a apoiar a estratégia de resistência Sinwar após mais de 300 dias de guerra.
Cinco, o Hamas emerge ainda mais forte e unido após o assassinato de seu líder, Haniyeh.
Seis, que o Hamas, apesar da guerra e dos assassinatos, é um movimento de instituições e que as decisões são tomadas por meio de um processo democrático, que permanece em vigor apesar da guerra e do genocídio israelense em curso em Gaza.