No mesmo momento em que a cidade do Rio de Janeiro presencia um crescimento das manifestações populares em solidariedade à Palestina, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, estará presente em um evento que marcará a adesão à definição de “antissemitismo” de uma organização internacional, a Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). No evento estará presente, além do prefeito, o subprefeito da zona sul (Flávio Valle), o presidente executivo da ONG StandWithUs Brasil (André Lajst), presidente da Confederação Israelita do Brasil/Conib (Claudio Lottenberg), além do presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Alberto Klein) e representante do Combat Antisemitism Movement (Shay Salamon).
Em sua definição, além de tratar dos crimes dos nazistas contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial e de outras corretas definições de preconceito étnico e religioso, a IHRA apresenta a seguinte descrição: “Negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo afirmando que a existência do Estado de Israel é um empreendimento racista”. Isso significa que quem denunciar o efetivo estado de apartheid que vigora contra palestinos no território ocupado por Israel, estará no mesmo patamar dos antissemitas de extrema-direita e nazistas.
Ora, mas a realidade é teimosa. É um fato que o Estado sionista de Israel é um empreendimento racista, não só. Na própria legislação de Israel consta uma divisão de direitos civis e sociais para determinados grupos; além de que todo o sistema político em Israel sustenta-se na concepção de que o Estado é governado por um grupo étnico dominante, a despeito de viverem ali como cidadãos de segunda categoria muçulmanos palestinos. A lei israelense também conta com proibições públicas de luto na data oficial da “independência de Israel” (Nakba).
O sistema de apartheid racista se reflete, também, no sistema educacional israelense. As autoridades israelenses proíbem o ensino da história palestina ou da Nakba, mesmo em escolas árabes. A pesquisadora Nurit Peled-Elhanan aponta estas e outras demonstrações de um projeto supremacista que coloca a legitimidade dos judeus, enquanto grupo étnico-racial, em detrimento dos povos árabes palestinos.
Por esta definição da IHRA, mesmo a professora Nurit, que é israelense e professa a religião judaica, seria antissemita. Vejam só!
Por que agora?
Esta ação política da prefeitura do Rio de Janeiro atende a uma série de pressões feitas pelo sionismo na cidade. A ONG StandWithUs Brasil afirmou que “provocações e discursos de ódio contra os judeus se intensificaram”. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) chega a dizer que os casos de antissemitismo cresceram mais de 951% sem, contudo, apresentar detalhes do que foi tratado como antissemitismo.
Na segunda semana após o conflito iniciado em 7 de outubro, um ato denominado “Caminhada contra o terrorismo e apoio a Israel” (sic) reuniu judeus sionistas no calçadão de Copacabana no dia 15 de outubro. Ali, viam-se, basicamente, um único grupo político (judeus sionistas e ultrarreacionários) atacando os palestinos e reproduzindo os argumentos utilizados pelos políticos israelenses (com a extrema-direita de Netanyahu à frente) – tudo, porém, revestido com o discurso de que toda e qualquer crítica ao Estado de Israel e seus ataques contra os palestinos é antissemitismo.
Desde então, se desenvolveram também inúmeros outros protestos em oposição aos ataques contra os palestinos por parte de Israel. Entre panfletagem, debates em universidades e manifestações populares, um deles se destacou por reunir manifestantes árabes, judeus, vítimas de violência policial e ativistas políticos que se opõem aos ataques em Gaza no calçadão de Copacabana dia 4 de novembro, mesmo local onde, semanas antes, os sionistas se reuniram.Além deste ato, por toda cidade se vê pichações com a frase “Palestina resiste! Palestina triunfará!”. Uma delas foi utilizada pela ONG StandWithUs Brasil como expressão de antissemitismo. Eles citaram uma pichação próximo ao Memorial às Vítimas do Holocausto, em Botafogo. Por detrás da condenação como “antissemita” toda crítica à Israel, inclusive contra os bombardeios de Netanyahu contra palestinos (que já vitimaram 10 mil em um mês de guerra), está a defesa da continuidade do massacre.