No dia 6 de fevereiro, o presidente da Turquia, o ultrarreacionário Recep Erdogan, emitiu diversas ameaças militares ao governo sírio de Bashar al-Assad, caso este não retirasse suas tropas da província síria de Idlib, área controlada por forças mercenárias financiadas pelo Estados Unidos (USA) em “oposição” ao governo de Assad (semicolonial e semifeudal, serviçal do imperialismo russo) desde o início da guerra, até o fim do mês. Como consequência, no dia 10 de fevereiro, as forças sírias deram início a um ataque contra as tropas turcas presentes no nordeste da Síria, levando à morte cinco soldados turcos, segundo informações do Ministério de Defesa da Turquia.
Este avanço das forças sírias se deu após um ataque semelhante na semana anterior, em que as tropas do governo de Assad haviam matado outros oito soldados turcos. Após o ataque mais recente, em Idlib, a Turquia respondeu com retaliação, atingindo mais de 100 alvos sírios selecionados, como a base militar de Teftanaz, tomado das tropas sírias e transformado em um novo posto de observação. Ela também enviou reforços para a região, a fim de fortalecer seus postos avançados em Idlib enquanto tenta conter a veloz ofensiva síria.
Esse confronto direto entre as duas nações se dá concomitantemente a uma visita que uma delegação da Rússia faz à capital da Turquia, Ancara, para discutir a situação em Idlib e a permanência do Exército turco dentro de fronteiras sírias. A Síria, sob o governo de Assad (serviçal da Rússia) que já dura 20 anos, se encontra sob tutela do imperialismo russo, bem como sob a forte influência regional do Irã (também serviçal russo), de forma que todos os últimos avanços das forças do governo sírio são apoiados pela Rússia.
O porta-voz do partido de Erdogan descarta a possibilidade de retirar suas tropas da Síria, que atuam em uma operação no nordeste das fronteiras sírias desde outubro de 2019 que já foi responsável pelo deslocamento forçado de mais de 700 mil civis (calculado desde dezembro), que procuram se refugiar na Turquia, onde já se abrigam aproximadamente 3,6 milhões de refugiados sírios, mas encontram a fronteira fechada.
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As reuniões diplomáticas entre a Turquia e a Rússia foram retomadas no dia 6 de fevereiro, quando as tropas leais ao governo sírio desataram uma ação militar para retomar a cidade estratégica de Saraqib, localizada no oeste da província de Idlib, onde as rodovias M4 e M5, que percorrem toda a província e se conectam à importante cidade de Aleppo, se convergem. Em Saraqeb estão diversos postos de observação e de reforços militares da Turquia e aliados do USA no país, como os soldados do Exército Livre da Síria (ligado à Frente de Libertação da Síria, mercenários pró-ianques que tentam desestabilizar o regime pró-russo de Assad).
A incursão militar na Sìria
O Exército turco está presente em território sírio desde o mês de outubro de 2019, após o USA ter retirado suas próprias tropas do norte e nordeste do país e abandonado seus antigos aliados curdos, como noticiado pelo AND.
A justificativa da Turquia para a invasão foi, inicialmente, de assentar na região os refugiados sírios que residem no país e para combater os curdos organizados e armados na Síria, próximos à fronteira com a Turquia, que são considerados pelo governo turco como uma “organização terrorista” (organizações que foram inclusive financiadas pelo USA para desestabilizar o regime Assad).
No entanto, as forças turcas ocuparam, já de início, uma enorme faixa territorial do país sírio, e foram avançando continuamente na ampliação de sua área de ocupação, escancarando o projeto de expansionismo reacionário das classes dominantes da Turquia, assegurado por Erdogan. O avanço turco só foi obstruído após a intervenção russa, que forçou uma negociação de um cessar-fogo em Sochi (cidade na Rússia).
Simultaneamente, a Rússia busca conciliar os interesses das classes dominantes sírias (que rejeitam a hipótese de perder território para o expansionismo turco) e, ao mesmo tempo, não antagonizar com a Turquia, pois é um potencial aliado estratégico na região. Recentemente, os turcos, que sempre foram afiançados pelos ianques, têm se distanciado por divergências quanto ao apoio às organizações curdas, e a Rússia imperialista pretende aproveitar-se desse desgaste para ampliar sua influência na região.
Soldados ligados ao governo de Bashar al-Assad, na Síria, em ofensiva contra os rebeldes na província de Idlib no início de fevereiro. Foto: AP