No último domingo (05/01), Reginaldo Júnior foi assassinado após ser perseguido e alvejado pela Polícia Militar (PM) no bairro Maria Eugênia, em Sorocaba (SP). A execução covarde, feita pela PM de São Paulo comandada por Tarcísio, ocorreu durante a noite do domingo após denúncias de moradores sobre a ação de dois caligrafistas urbanos no bairro. Ao serem vistos pela polícia, os dois pichadores que estavam realizando a intervenção tentaram fugir de carro. Na fuga, foram alvos de diversos disparos de arma de fogo, levando à óbito Reginaldo Júnior, que assinava nas paredes dos grandes centros urbanos como “África Menor”.
Poucos minutos após o ocorrido, na tentativa de justificar o crime cometido, páginas de extrema-direita de Sorocaba vincularam o caso como uma tentativa de assalto que havia sido frustrada, em um combinado com a narrativa dos policiais, enquanto o corpo de Reginaldo ainda estava no local do crime e não havia sequer chegado a perícia. Porém a informação é contraditória, pois a denúncia feita foi sobre pichação e não foram encontrados nenhum material fruto de roubo no carro que estava Reginaldo, apenas as tintas e uma arma que tudo indica ser plantada.
Cena do crime forjada
Protesto de amigos e familiares em frente a delegacia de Plantão Policial em Sorocaba
De acordo com denúncias feitas por amigos e familiares de Reginaldo, os policiais forjaram a cena do crime: colocaram uma pistola .380 dentro do veículo que a vítima estava para e afirmaram que houve uma troca de tiros, para criminalizá-lo. Uma pessoa que transitava no local do crime afirma que “passou só a polícia metendo bala no carro”
A sigla de pichadores que Reginaldo fazia parte, “Os Piores de SP” denunciaram o homicídio em post do instagram: “PROTESTO a morte do nosso mano África Menor! A punição dos assassinos que dispararam vários tiros em uma pessoa que tinha somente sprays de tinta e depois que viram o extermínio que fizeram, forjaram uma arma e ainda alegaram que houve troca de tiros. Tudo mentira. Não tinha ninguém armado, ninguém trocou tiro, a polícia chegou e assassinou brutalmente Reginaldo Júnior, chega de covardia, chega de mentira! Até quando policiais fardados vão chegar na periferia e matar quem eles querem sem motivo e ainda vão sair como heróis. Não aguentamos mais isso e não vamos ficar quietos! Vamos todos nos unir para esse ato de dignidade do menor!”
O crime cometido pela polícia gerou a revolta de todos que conheciam Reginaldo, e principalmente quem acompanhava as suas caligrafias como África Menor. Amigos e familiares afirmam que ele era uma pessoa pacífica, não andava armado e era apaixonado pela caligrafia subversiva. Eles argumentam que não faz o menor sentido um pichador andar armado, visto que a sua arte é criminalizada e a sua ação exige que busquem não serem mais penalizados que já são.
O caso gerou revolta e na manhã seguinte (6/1) várias pessoas foram para a porta da delegacia de plantão policial em Sorocaba. As pessoas gritaram várias palavras de ordem como “Polícia assassina, spray não atira, a tinta não mata, polícia covarde” e seguravam cartazes com frases denúnciando o assassinato de Reginaldo e a cena do crime forjada. Os cartazes diziam “A arma foi forjada”, “Uma mentira de farda vale tipo dez verdades” e “polícia assassina”.
Pixadores respondem por crime ambiental, enquanto latifundiários passam impunes
A origem da pixação no Brasil é datada na década de 1960 onde estudantes que resistiam ao regime fascista começaram a pichar muros pela cidade com palavras de ordem contra a ditadura militar. Desde então o movimento urbano de intervenções subversivas se modificou, ganhando novos elementos e cada vez mais sendo criminalizado.
Atualmente os pichadores e grafiteiros em situação flagrante são enquadrados na Lei de Crime Ambiental 9506/98, que nas distorções jurídicas, criam artifícios para criminalizar os caligrafistas urbanos que, na maioria dos casos, fazem suas intervenções em prédios e paredes de imóveis abandonados que servem apenas à especulação imobiliária, possuindo dívidas exorbitantes em impostos.
Ao mesmo tempo as queimadas feitas pelo latifúndio seguem impunes. Como ocorrido nos últimos anos na Amazônia e no Pantanal, ou no caso dos posseiros de Barro Branco/PE onde os camponeses atuam para impedir o envenenamento dos poços de água, frente a atuação criminosa do latifúndio.