Será exibido o filmes Cidadão Boilensen.
Para quem nunca ouviu falar deste personagem obscuro da história brasileira, o documentário Cidadão Boilesen é surpreendente. Para quem o conhece só por alto, terá uma análise completa de Henning Albert Boilesen, sua chegada ao Brasil com rápida ascensão à nata do grande empresariado, seu apoio econômico e logístico ao regime militar fascista, especialmente nas suas ações mais horrendas, até seu justiçamento por grupos da resistência armada.
O diretor do documentário, Chaim Litewski, pesquisou o caso durante quinze anos, colhendo centenas de depoimentos de quem o conheceu na escola primária até colegas empresários, de amigos e familiares até inimigos, das suas vítimas e inclusive de quem participou da sua execução.
Com a missão de exterminar qualquer oposição ao regime fascista, o alto comando do Exército Brasileiro montou em São Paulo, em 1969, a Operação Bandeirante (Oban), como grupo paramilitar comandado pelo então major Brilhante Ustra e seletas equipes da mesma arma, secundados pelos mais truculentos policiais recrutados na PM e na Polícia Civil. Estes últimos trouxeram toda a experiência e os métodos dos esquadrões da morte.
Empresários da Fiesp, empreiteiras, banqueiros, etc., coordenados por Boilesen, passaram a cooperar com a Oban contribuindo com grandes somas de dinheiro e apoio político. Algumas empresas foram além: o grupo Folha (jornal Folha de São Paulo) passou a emprestar suas viaturas para os operativos paramilitares. O grupo Ultra, poderosíssimo na época, também. Em diversas oportunidades militantes dos grupos da resistência armada perceberam a frequência de caminhões da Ultragaz nas áreas dos cercos contra os guerrilheiros montados pela repressão. Como Boilesen era o presidente do grupo Ultragaz, coordenador das “caixinhas”, e tinha sido visto por sobreviventes torturando na Oban, os grupos ALN (Ação Libertadora Nacional) e MRT (Movimento Revolucionário Tiradentes) decidiram por seu justiçamento em abril de 1971. Tanto pela sua participação nesses fatos como para dar exemplo aos outros empresários que se sentiam impunes financiando e apoiando a repressão.
Com bons recursos técnicos de edição e som, recorrendo a sequências de filmes que retratam diversas épocas, contando com artigos de jornal e documentos secretos desclassificados, ademais dos depoimentos, o filme é uma animada aula de História. História que permanece mais viva do que nunca, ainda mais no atual momento, quando à frente do velho Estado estão os compadres políticos e os herdeiros de primeiro grau de Boilensen e sua classe.
O Cine-debate será às 18:45, na segunda-feira 2 de setembro, na sede do Comitê de Apoio ao AND em São Paulo, na Rua Silveira Martins, 133, conjunto 22 Sé e será aberto ao público.