Presídio de responsabilidade do governo de São Paulo (João Dória, PSDB) é alvo de graves denúncias por familiares de presos. Foto: Reprodução/Edson Lopes Jr
A penitenciária 2 de Presidente Vencelaus, localizada no interior de São Paulo, está mantendo os detentos sem comida há mais de três dias e em celas sem ventilação, de acordo com reportagem apurada por Caê Vasconcelos para o portal Ponte Jornalismo.
Uma obra de reforma para o presídio se tornar uma unidade de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) fechou as entradas de ventilação das celas, que já não eram adequadas. Atualmente, somente uma pequena janela de aço cumpre a função de circular o ar. A frente das celas é manuseada automaticamente e lacrada, e a parte de trás, onde tem ventilação, deverá ser fechada para a obra.
O atual contexto de pandemia multiplica a condição degradante. Os detentos são mantidos presos 20 horas por dia nas celas fechadas e saem somente por duas horas para o banho de sol.
As esposas presentes no local para visitas contaram que a situação nunca esteve pior.
Também há falta de comida no presídio. Há mais de três dias o faxineiro não pode ir até os detentos entregar as marmitas fornecidas pelo governo pois está sendo barrado. Uma das esposas relatou que a refeição é uma sopa dentro de uma caneca que nem um cachorro iria comer.
“Meu marido me contou que estava com muita fome e achou um caramujo dentro da comida, mas viu os outros comendo com tanta vontade que não contou. Mas depois que comeram ele contou. Ele comeu a comida assim. A gente pede socorro”, relatou a esposa de outro detento.
Familiares não têm permissão de levar mantimentos e só podem enviar sedex uma vez por mês. Também é comum fiscais deixarem a comida vencer.
Negligência médica
A reportagem também colheu relatos que revelam o descaso da gestão do presídio com a condição de saúde dos detentos.
Uma esposa afirmou que seu marido teve dois derrames, em 2019 e 2020 e nenhuma providência foi tomada. O médico não chegou a dar um diagnóstico e como sequela o detento ficou com o lado direito do rosto dormente.
Quatro pessoas morreram dentro da cadeia durante um ano de pandemia. “O último óbito que tivemos ciência, há duas semanas, é de uma senhora evangélica, que o marido sofria de uma doença que nenhum dos médicos conseguiu descobrir o que era, mas ele ficou extremamente debilitado, ele precisava de uma alimentação específica e a unidade dava o que tinha. Ela está muito abalada para contar”.
“A gente viaja por 10 horas daqui da capital para Presidente Prudente, e ela teve que voltar três vezes porque o marido estava no hospital. Ela gastou dinheiro e tempo para viajar e só saber lá. É desumano. Na última vez, ela pôde ir ver ele no hospital. Ela tentou prisão domiciliar, mas não conseguiu e o marido faleceu”, detalhou uma esposa.