Cerca de 1,3 mil trabalhadores da Qintess, megaempresa de tecnologia, entraram em greve no dia 10 de abril, contra atrasos nos salários e ataques aos direitos dos trabalhadores, como férias, vale-transporte, e outros. A empresa opera no Brasil serviços terceirizados de Tecnologia da Informação (TI) para empresas como Natura, Banco Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, assim como para os órgãos Ministério da Justiça e Supremo Tribunal Federal (STF). A greve de milhares de trabalhadores de TI em uma empresa privada do setor no país é inédita.
Os trabalhadores também realizaram uma manifestação em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, na zona oeste da capital paulista, para o qual a empresa também presta serviço terceirizado de TI.
A greve foi aprovada em assembleia com 900 participantes no dia 31 de março. Entre os principais ataques aos direitos dos trabalhadores estão os constantes atrasos no pagamento de salários, férias, vale-refeição/alimentação, vale-transporte, reembolso por quilômetro rodado, banco de horas e depósitos do FGTS. Também foram recebidas denúncias de assédio moral contra os empregados que cobravam posicionamentos da empresa referentes aos atrasos.
O Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd) exige que a megaempresa pague de imediato todas as pendências trabalhistas e que pague, também, um abono como indenização pelos atrasos.
Qintess persegue trabalhadores para desmobilizar greve
Segundo o Sindpd, a empresa se utilizou de desculpas como a “guerra na Ucrânia”, a “quebra de bancos americanos” e outras questões recentes e sem relação direta para explicar os descumprimentos da Convenção Coletiva que ocorrem há muito tempo.
Usou até mesmo das demissões em massa nas chamadas BigTechs estadunidenses – como Meta (Facebook), Alphabet (Google), Amazon e Microsoft – para tentar desmobilizar a greve, como uma ameaça velada de que a greve levaria a demissões. Denúncias foram enviadas ao sindicato de coação e assédio da empresa para evitar a greve.
Empresa tem donos e conselheiros ianques
A Qintess opera desde o ano de 2011, tendo comprado outras grandes empresas brasileiras do ramo (Cincorp, Damovo, Getronics, Sopho, Resource e CSC Brasil), e tem como presidente e diretor-executivo o ianque Nana Baffour. Há outros dois conselheiros executivos ianques na direção da empresa.
A Resource, antes de ser comprada pela Qintess em 2019, fechou 2018 com um faturamento de R$ 470 milhões, um crescimento de 20% em relação a 2017. Ela foi comprada, de acordo com o monopólio de imprensa reacionário Istoé, por cerca de R$ 6 bilhões.
Na aparência, a Qintess se demonstra comprometida com a “diversidade” e a “sustentabilidade” e divulga relatórios de participação com organizações não governamentais (ONGs). Na prática, a empresa atrasa os salários dos trabalhadores, descumpre os acordos coletivos de trabalho, e tenta desmobilizar greves utilizando desculpas esfarrapadas e ameaçando demissões em massa.
Trabalhadores brasileiros se mobilizam em greves frente à crise
Variadas categorias de trabalhadores brasileiros têm se mobilizado contra os atrasos nos salários, tentativas de não pagamento de garantias devidas nos contratos coletivos de trabalho, arrocho salarial, entre outros ataques aos seus direitos de trabalhar com um mínimo de dignidade. Esses problemas são os sintomas de uma série de contrarreformas, entre elas a trabalhista, realizadas a mando de organismos imperialistas como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
As mobilizações massiva ocorrem em meio à aguda crise do capitalismo burocrático no país, que em fevereiro deste ano marcou um aumento de quase 9% da cesta básica em comparação com 2022. A inflação para este ano também foi revisada e jogada para cima, passando de 4,6% para 5,5%, no mesmo período em que o Banco Central (BC) fixou em 13,75% a taxa básica de juros (Selic).
As empresas apertam a corda ao redor do pescoço dos trabalhadores, negam seus direitos, para que possam em meio à crise continuar a atingir superlucros que são remetidos para fora, para bancos e outros monopólios imperialistas, e nunca se convertem em qualquer desenvolvimento nacional ou melhora para o povo.
Contra a superexploração, somente no estado de São Paulo (SP), contando com a atual greve da Qintess, foram três grandes greves nas últimas duas semanas, entre elas as dos trabalhadores do Metrô de SP e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Nas duas ocasiões, as respectivas empresas se recusavam a pagar a participação dos trabalhadores no lucro anual. Já no Brasil como um todo, são outras centenas de greves, realizadas principalmente por professores, enfermeiros, trabalhadores do transporte público e servidores estatais.