SP: Entregadores organizam protestos e greves em cidades do interior

SP: Entregadores organizam protestos e greves em cidades do interior

Entregadores paralisam atividades durante greve em Jundiaí, São Paulo. Foto: Gabriela Moncau

Entregadores por aplicativos organizaram greves em várias cidades do interior do estado de São Paulo durante o feriadão dos dias 9, 10, 11 e 12 de outubro. As paralisações se deram juntamente a protestos que aconteceram em Jundiaí, São Carlos e Paulínia. Entregadores de Bauru irão parar no dia 15 e os de São José do Rio Preto estão com assembleia marcada.

As principais reivindicações dos entregadores são melhores taxas de entrega, fim da coleta dupla e do bloqueio sem justificativa.

A coleta dupla é quando o trabalhador precisa fazer duas ou mais entregas de uma vez só, sem receber a taxa mínima por cada uma delas. Já os bloqueios sem justificativa acontecem quando a plataforma exclui o entregador e o impede de seguir trabalhando sem explicar o motivo.

Superexploração é denunciada

“Está cheio de motoboy na rua. Ao invés deles dividirem essas entregas, eles liberam duas entregas para um companheiro e deixam o outro sem pegar nenhuma. Eles não dividem justamente porque querem ganhar mais ainda em cima do trabalhador”, relata um trabalhador que trabalha há nove anos como motoboy e há dois como entregador de aplicativo ao jornal Brasil de Fato.

“Eles aproveitam da situação econômica do país que já está difícil, em crise: a pessoa está desempregada então acaba se sujeitando a trabalhar por um valor menor do que merecia receber. Eles sabem disso e usam isso como artifício”, denuncia o trabalhador.

“Precisamos do Brasil inteiro no mesmo foco, não só os entregadores, mas a população em geral, os restaurantes. Porque a gente está sendo explorado. A única maneira que a gente tem de reverter isso é mostrando que a gente tem voz ativa: é parando e agredindo o bolso e a imagem deles”, fala um entregador de Jundiaí .

Mobilização e fechamento de pontos de coleta geram mais adesão à greve

Em Jundiaí, mais de 200 entregadores por aplicativos fizeram um grande protesto para exigir mais direitos trabalhistas e contra a exploração feita por empresas como iFood e outras. O ato aconteceu no dia 9 de outubro.

Pela manhã, os trabalhadores fecharam a avenida Nove de Julho, no centro de Jundiaí. Eles levaram faixas e cartazes denunciando as empresas de entrega pelas taxas abusivas e bloqueios arbitrários feitos por essas. Os entregadores também cobraram a implantação do código de segurança em 100% das entregas. No dia 12, os entregadores entraram em greve, para pressionar as empresas a atender as demandas.

No dia da paralisação, os trabalhadores se dividiram em grupos e foram até redes de fast-food e shoppings da cidade para bloquearem as entregas.

Os grevistas conversavam com entregadores que chegavam para fazer a entrega, na tentativa de convencê-los da necessidade da paralisação. Como resultado, mais e mais entregadores aderiram à greve. A mobilização conseguiu também fazer com que importantes pontos de coleta ficassem inoperantes. Os aplicativos tiveram oscilações e várias lojas apareceram como “fechadas” e com entrega indisponível.

O único restaurante que tentou atravessar a greve foi um que pertence à rede Madero, do bolsonarista Junior Durski. No local que fica no Jundiaí Shopping, o gerente do restaurante chamou a Polícia Militar (PM) para intimidar e reprimir os entregadores. No entanto, a paralisação não foi interrompida.

Faixa foi pendurada em frente ao Jundiaí Shopping para denunciar o restaurante da rede Madero, único que se colocou contra a greve e chamou a PM pra reprimir os trabalhadores. Foto: Reprodução

Em São Carlos a greve aconteceu nos dias 11 e 12 de outubro. Cerca de 100 entregadores se reuniram no terminal rodoviário, por volta das 9h30m da manhã, para deflagrar a paralisação contra as empresas de entrega por aplicativo.

“A gente vai deixar os aplicativos fechados e vamos comunicar as plataformas de entrega avisando que estamos em paralisação. Vamos dar uma volta na cidade fazendo nossa manifestação e em alguns pontos fixos de locais que saem mais pedidos”, explicou Cristian Nascimento, que trabalha como entregador.

Os entregadores afirmam que seguirão de braços cruzados e travando lutas até as empresas sentarem para conversar sobre as exigências dos trabalhadores.

Trabalhadores de entrega de São Carlos também aderiram a greve e exigirão mais direitos trabalhistas e outras demandas. Foto: CBN São Carlos

Trabalhadores se organizam contra novo modelo de exploração

A greve de entregadores no interior de São Paulo acontece um mês após os entregadores de São José dos Campos fazerem uma paralisação de seis dias, o que se tornou a maior greve da história da categoria no estado de São Paulo.

Por conta da greve, algumas empresas como o iFood foram obrigadas a sentar com os trabalhadores para ouvirem suas reclamações. Essa foi a primeira vez que uma empresa de entrega por aplicativo teve que conversar com os trabalhadores no Brasil.

Após a reunião, o iFood se comprometeu a criar um “fundo combustível” de R$ 8 milhões “para ajudar a suavizar o impacto” da alta do combustível. Contudo a “ajuda” só durará nos meses de novembro e dezembro. A empresa anunciou também um reajuste do valor de quilômetro das rotas para quem usa moto, de até 8%.

Os trabalhadores, no entanto, disseram que tal “ajuda” não passa de migalhas.

“Uma palhaçada né? Você imagina passar todo esse tempo e as coisas todas só aumentando, a gasolina subiu 39% no ano, e aí eles vem aumentar 8% para nós?”, disse um entregador de Jundiaí. “Esses 8% para nós, esquece. Não dá”, completou.

Os trabalhadores denunciam que a empresa dificulta a luta por direitos fazendo bloqueios indevidos e usando outros artifícios a fim de perseguir os trabalhadores mais ativos nas reivindicações.

“Tem cara que está há mais de cinco anos trabalhando na plataforma, dando o sangue, e de repente ele acorda um dia e está bloqueado sem saber o motivo. Não tem como recorrer, não tem com quem falar, são robôs e respostas automáticas”, conta um entregador.

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