No dia 14 de junho, moradores do bairro Maria Dirce protestaram em resposta à morte de um jovem pelas mãos da Guarda Civil Municipal (GCM). O rapaz foi submetido a tortura e morreu eletrocutado com um taser (arma de eletrochoque). A manifestação trancou com uma barricada de fogo a Rodovia Dutra e foi reprimida pelo Batalhão de Choque, que lançou bombas e tiros contra as pessoas enquanto adentrava a favela, fazendo crianças e idosos passarem mal com a fumaça.
Em uma grave denúncia feita ao correspondente local de AND em Guarulhos, os moradores contaram que os GCMs cobram propinas dos traficantes e, insatisfeitos com o que vinham ganhando, prometeram matar uma pessoa dali. Para as famílias, já é cotidiano que os policiais cheguem no bairro aterrorizando-as, atrás de acertos com o tráfico de drogas.
De acordo com a denúncia dos moradores, o jovem Walison (ou Meno, como o conheciam) havia sido ameaçado de morte pelos policiais, quando correu para dentro de um mato na beira do córrego e foi seguido por um cão farejador. Quando os GCMs o encontraram, usaram um taser para o paralisar e o torturaram até a morte. Há relatos de que o jovem tinha problema cardíaco, mas pessoas próximas negaram a afirmação, o que, de um jeito ou de outro, revela o nível da crueldade praticada.
Após a execução, várias viaturas da GCM e da ROMu (Ronda Ostensiva Municipal) chegaram ao local. Os colegas dos executores se posicionaram entre a cena do crime e os moradores, que protestavam de suas calçadas gritando “Assassino!”, enquanto eram registrados pelo celular de um policial (uma prática de mapeamento repressivo). O corpo foi levado para o IML e só pôde ser visto depois de os próprios pais insistirem muito. Ele apresentava hematomas que, segundo os entrevistados, indicavam queimadura por choque elétrico.
Revoltados com a brutalidade perpetrada pelos policiais, os moradores se dirigiram até a Rodovia Presidente Dutra e atearam fogo em pneus para trancar a via principal no sentido Rio de Janeiro. Um tempo depois, agentes da Polícia de Choque chegaram ao local para reprimir os manifestantes.
Os repressores lançaram bombas e tiros e os perseguiram até sua favela. A fumaça provocou mal-estar mesmo nas pessoas que estavam dentro de suas residências. Durante a noite, policiais circularam na região vestindo toucas ninjas para intimidar.
O caso não é isolado
Os moradores deram outros exemplos de agressão promovida pelo velho Estado. Um jovem relatou que já houveram duas vítimas da violência reacionária em sua família: a irmã que foi detida brutalmente (“arrebentou a cara dela”) e o primo que foi executado de joelhos com um tiro. Um entrevistado também relembrou uma chacina realizada na região por policiais no ano de 2015.
Cotidianamente, famílias de trabalhadores no Brasil inteiro encaram a violência do velho Estado, reacionária e direcionada contra as massas populares em luta no campo e na cidade.
No monopólio de imprensa, retrata-se os policiais travando guerra contra o narcotráfico, porém, na realidade o que se percebe é uma guerra civil reacionária.