SP: Operários realizam dezenas de greves contra os baixos salários e conquistam melhorias

SP: Operários realizam dezenas de greves contra os baixos salários e conquistam melhorias

Trabalhadores em greve na Avibras, em 19/09. Foto: Roosevelt Cássio

Operários de São José dos Campos e região têm se mobilizado há meses contra os baixos salários, corroídos diante da crise. Somente entre setembro e outubro, foram cerca de 10 greves reivindicando aumento salarial, pagamento de salários atrasados e exigindo o fim das demissões em massa. Os operários da Avibras, por exemplo, estão em greve por tempo indeterminado desde o início de setembro por atrasos nos salários e os operários da  Cal Leve conquistaram 10% de aumento salarial após uma greve de 48h.

Operários deflagram greves contra demissões e por aumento real

No início de setembro, operários da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo entraram em greve do dia 08 ao 12/09 contra a demissão de 3,6 mil trabalhadores e a terceirização de parte das operações desenvolvidas na fábrica. O Brasil sedia, em São Bernardo, a maior fábrica da Mercedes-Benz fora da Alemanha. A empresa argumenta que a medida faz parte da “estratégia para recuperar sua rentabilidade”.

Já os trabalhadores da Avibras em Jacareí, empresa bélica, iniciaram uma greve por tempo indefinido no dia 09/09 contra o atraso nos salários de quase cinco meses e exigindo estabilidade no emprego para todos. Em março deste ano, a empresa demitiu quase 500 trabalhadores da fábrica de Jacareí. Mas, após intervenção do Sindicato dos Metalúrgicos, as demissões foram revertidas para “suspensão dos contratos”. Desde então os trabalhadores vivem sob constante ameaça de demissão.

Os metalúrgicos da Gerdau e Atlas Schindler realizaram greves e paralisações exigindo aumento real dos seus salários. O aumento proposto pelas empresas era de 8,83%, repondo apenas a inflação. Os operários da Atlas Schindler realizaram uma paralisação de 24 horas e conquistaram 9,5% de aumento salarial e reajuste no valor do vale-refeição. Metalúrgicos da Armco, Ardagh e Embraer também realizaram greves e paralisações. 

Monopólios e multinacionais alcançam lucros recordes e negam aumento para operários

A Mercedes-Benz, que pretende demitir 3,6 mil operários brasileiros, é um monopólio imperialista alemão que apenas no final do ano de 2021 (4° trimestre) triplicou seu lucro para 12,74 bilhões de euros (mais de R$ 63,5 bilhões). O monopólio imperialista ainda aumentou sua projeção de lucro para 2022, e espera que seus lucros cresçam pelo menos 15% este ano sobre os ganhos obtidos no ano passado.

O aumento na lucratividade ocorre justamente pelo aumento da exploração dos operários, tanto no primeiro mundo (Alemanha), mas principalmente no terceiro mundo, como é o exemplo dos operários brasileiros. Suas vagas agora serão preenchidas por empregados terceirizados sem quaisquer direitos. Isso faz parte do “plano amplo de corte de custos fixo de 20% até 2025” da empresa.

Já a Schindler Holding Ltd., que se negava a dar aumento salarial real aos operários, é uma empresa multinacional suíça que fabrica escadas rolantes, elevadores, entre outros em todo o mundo. O total de ativos da empresa em 2021 era de 11,97 bilhões de francos suíços (mais de R$ 60,4 bilhões). O lucro em 2021 foi de 1,17 bilhões de francos suíços, cerca de R$ 59,2 bilhões.

Exploração e crise

No Editorial semanal publicado em agosto Os ventos do leste na América Latina, afirma-se, sobre as previsões econômicas no mundo e, em especial, na América Latina, que “trata-se de momento em que se ultimam os preparativos para enfrentar uma nova crise geral cíclica de superprodução de mercadorias e capitais, que já se avoluma na superpotência hegemônica única (o imperialismo ianque)”. 

Essa nova crise, por sua vez, acontecerá apenas dois anos e poucos meses depois da crise ocorrida logo no início da pandemia de Covid-19, em que já havia precipitado a paralisação global da produção e circulação. É diante das crises cíclicas do imperialismo, cada vez mais frequentes, que todos os direitos trabalhistas, conquistados em lutas do proletariado e massas populares, são dizimados para salvaguardar os superlucros dos monopólios imperialistas. 

Direitos trabalhistas são pedra no caminho do imperialismo

A reforma trabalhista, imposta em 2017 pelo governo Michel Temer (MDB), é fruto da necessidade do imperialismo de manter e ampliar seus superlucros, explorando cada vez mais as semicolônias como o Brasil. Ao contrário do prometido, a “flexibilização” das leis trabalhistas não acabou com o desemprego, mas sim o aprofundou. Uma das medidas dessa contrarreforma é a possibilidade da terceirização de todo tipo de atividade das empresas, inclusive das atividades-fim, ou seja, a atividade principal da empresa. 

É isso o que possibilita, por exemplo, que mais de três mil operários da Mercedes-Benz no Brasil sejam demitidos para que setores como logística, manutenção, ferramentaria, laboratórios e fabricação de eixos sejam terceirizados. As novas vagas de trabalho a partir da terceirização contarão com salários mais baixos e menos direitos, não terão direito a convenções coletivas ou acordos com a empresa contratante, acabando com a possibilidade de piso salarial, convênios médicos e segurança do trabalho.

Em entrevista ao AND em 2018, na edição n° 202, o diretor do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Clemente Ganz Lúcio, afirmou sobre a reforma: “O Brasil possui uma força de trabalho ocupada desestruturada, muito flexível, e provavelmente isso se ampliará com essas novas formas legais de contratação, que são todas formas de ocupação precária, pois a pessoa não terá mais um emprego estável ou uma remuneração estável. Ela estará habilitada a ser contratada por várias empresas, por uma remuneração que ela desconhece e por tempo indeterminado. Como essas pessoas estruturarão suas vidas com esse nível de instabilidade é algo a ser observado mais à frente, mas é óbvio que será uma situação instável, insegura e precária.”

Lúcio acrescenta, ainda, que “a tendência é que tenhamos empregos com remuneração potencialmente menor do que aquela remuneração estável. Se antes tínhamos cinco pessoas ocupadas por oito horas, agora poderemos ter dez pessoas ocupadas trabalhando cada uma duas horas por dia. Como teremos mais pessoas trabalhando isso pode até manter a massa salarial, mas a remuneração média cairá, pois as pessoas estarão ocupadas em empregos precários.”

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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