Pais se manifestam contra ataque à educação de seus filhos. Foto: Revide
A Secretaria Municipal de Educação (SME) de Ribeirão Preto (SP) publicou em diário oficial no dia 6 de julho uma resolução de reestruturação da educação infantil. A reestruturação reorganiza a educação das crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade. Com a reorganização, o número de alunos por etapa aumentará, sobrecarregando os professores. A mudança por meio da resolução n° 14/2022 foi imposta pela Secretaria de Educação sem nenhuma consulta com os professores e com as famílias dos alunos. Tal medida é um ataque ao direito à educação dos bebês e das crianças pequenas.
No dia 08/07 pais e professores se manifestaram contra o ataque da Secretaria Municipal de Ribeirão Preto à educação pública brasileira organizando um ato na entrada da Secretaria localizada no Jardim Paulista.
A nova medida aconteceu justo no retorno às aulas do segundo semestre, momento em que o governo inimigo da educação esperava não enfrentar muita resistência. Porém, a mobilização espontânea desenvolveu-se, com pais, responsáveis e trabalhadores da educação colocando-se dispostos a defender uma educação pública que sirva aos interesses do povo. Neste contexto, a reorganização é denunciada como uma interferência direta do Estado no trabalho já realizado pelos professores com suas turmas tanto relativo ao aspecto pedagógico quanto ao desenvolvimento das relações sociais e afetivas.
A atitude de ignorar os posicionamentos de pais e professores por parte do governo foi também em parte seguida por setores da direção do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis. Em um mês de “reorganização” na educação infantil, a entidade realizou apenas um trabalho burocrático e de acompanhamento das escolas durante a reorganização com objetivo de reunir provas para processar a prefeitura, ignorando a organização dos pais e professores. O sindicato ignorou os pedidos feitos pelos próprios professores de se ampliar a discussão sobre a mobilização contra a “reorganização”. Somente após muita pressão aconteceu uma assembleia no dia 3 de agosto, quase um mês depois da resolução. Claro está que a demora acarretou prejuízos na mobilização dos trabalhadores contra o ataque. Desarticulando os professores e demonstrando um descaso com a situação educacional dos seus filhos, a situação gerou um incômodo geral.
Na assembleia do dia 03/08, a direção do sindicato não abriu para discussão e propôs simplesmente uma greve. A falta de democracia foi rechaçada pelos presentes. Durante a pandemia e consequente paralisação das atividades presenciais, a prefeitura despejou toda a culpa em cima dos próprios professores, desviando os reais culpados pela negligência na educação: a Secretária de Educação e o Ministério da Educação (MEC). Tal tática do governo acabou funcionando e as famílias acabaram ficando contra os professores. Neste atual momento de um novo ataque, em que as famílias estão ao lado dos professores dispostas a fazer o que for preciso para barrar as mudanças que prejudicam a educação das crianças, os presentes apontaram que fazer uma greve é deixar novamente as famílias sozinhas, à mercê das desculpas esfarrapadas do governo.
Uma professora presente realizou a contraproposta de realizar uma paralisação de um dia. A proposta foi aceita pelos seus colegas de profissão. O sindicato, porém, não abriu para falas ou posicionamentos de outros trabalhadores e somente defendeu a necessidade da assembleia ser rápida, impedindo, assim, a ampla democracia no espaço de discussão e de definições. Os presentes na assembleia foram contrários à postura do sindicato e um debate iniciou-se. A direção do sindicato paralisou a reunião por 10 minutos para discutir e, na volta, defenderam que uma greve ou paralisação por um dia não tinham grande diferença. Apontaram também que a assembleia era para tirar um indicativo de greve respeitando a legislação de 72h e na próxima reunião é que se decidirá se haverá uma paralisação ou uma greve.
Novas discussões ocorrerão e os pais e professores devem manter-se unidos para que a luta contra os ataques contra a educação infantil pelo governo seja capaz de garantir tanto o direito à educação pública, gratuita e de qualidade às crianças, como condições dignas de trabalho, contra a superlotação e precarização do ensino. Um sindicato de luta é um instrumento de luta que expressa as reivindicações da categoria e deve estar ligado aos anseios das massas trabalhadores para dirigir as mobilizações e também para atingir outros trabalhadores, explicando a situação e unindo-os na luta por direitos. Para ser vitorioso em suas pautas, deve estar disposto a ir até as últimas consequências.