SP: Paralisação e Ato no Hospital Universitário da USP denunciam grave situação dos profissionais de saúde

SP: Paralisação e Ato no Hospital Universitário da USP denunciam grave situação dos profissionais de saúde

Trabalhadores da saúde protestaram contra a precarização do serviço e as péssimas condições de trabalho. Foto: Comitê de Apoio ao AND de São Paulo

Trabalhadores do Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP) realizaram um ato denunciando as péssimas condições de trabalho, no dia 6 de maio.

A manifestação ocorreu durante a paralisação decidida em assembleia e organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e repudiou o conluio do governo com a reitoria da universidade e seu representante, o superintendente Paulo Margarido, que, segundo as denúncias, não solucionam os problemas enfrentados pelas centenas de funcionários do hospital.

O ato contou com a participação de dezenas de trabalhadores, que se revezavam dentro do hospital, de modo a manter o atendimento na unidade de saúde e também participar da manifestação. Todos com máscaras e demais materiais de proteção confeccionados artesanalmente.

Usuários do hospital e a população que transitava pelo entorno apoiaram amplamente as reivindicações dos profissionais de saúde.

Os trabalhadores denunciam o avanço da precarização das condições de trabalho e apontam que funcionários tipificados no grupo de risco da doença (idosos acima de 60 anos, diabéticos, hipertensos, imunossuprimidos, entre outros) não estão sendo dispensados, com exceção dos médicos.

Já os enfermeiros, técnicos em enfermagem, técnicos em laboratório, seguranças patrimoniais, cozinheiros, faxineiros, e demais profissionais do HU, só são afastados do trabalho após a confirmação de infecção pela Covid-19 via testes, os quais somente são realizados em pacientes com sintomas graves.

Situação essa que tem resultado no aumento considerável da contaminação dos funcionários.

 Atualmente, mais de 40 funcionários do HU estão afastados com os sintomas da doença. E, apesar da baixa no quadro de pessoal, não estão sendo feitas novas contratações, o que tem acarretado em uma perigosa sobrecarga de trabalho sobre os profissionais. Alguns trabalhadores chegaram a pedir demissão por não suportar as condições, e o clima no hospital é de apreensão.

 A declaração de Jorge, técnico em enfermagem e diretor do Sintusp, mostra o descaso da administração:

 — Eles só nos enrolam. O superintendente até agora não emitiu um pronunciamento, nem chamou o sindicato para uma reunião. Quando vem ao hospital, passa de cabeça baixa e fica por isso mesmo.(…) Como pode a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) ter aprovado milhões para contratações no HU e não vermos nada disso acontecendo? O que foi feito desse dinheiro? Onde estão os nossos materiais de proteção?

 Uma das técnicas em laboratório afirmou, em entrevista ao AND, que a administração do hospital só passou a fornecer máscaras após algumas mobilizações dos trabalhadores:

 — Temos direito a um kit com máscara descartável no começo do turno, nada mais que isso. Antes nós não tínhamos nada, só com pressão é que conseguimos. Mas de que vale uma máscara que dura apenas duas horas para nós que fazemos turnos de 6 horas ou mais?

 Os relatos dão conta ainda que a situação na cozinha do HU é ainda mais grave. Nenhum funcionário recebe equipamentos de proteção individual (EPIs), mesmo os que servem a comida aos pacientes diariamente. Uma copeira da instituição nos dá detalhes das irregularidades:

 — Trabalho na UTI do hospital. Nossa única indicação é de lavar as mãos, mais nada. Do que adianta? Não deram uma máscara sequer para as copeiras, com a desculpa de que não temos contato direto com os pacientes. Quem é que leva comida para eles no leito todos os dias? Tanto eles como nós, podemos ser infectados pela doença desse jeito. Uma pessoa mesmo, entrou com apendicite, e durante a internação descobriram que ela estava com a Covid-19. Nenhuma medida de precaução foi tomada [na ocasião], e ela pode ter infectado muita gente.

 Uma das técnicas em nutrição que também trabalha na cozinha relatou a crítica situação dos profissionais da saúde nesse momento:

 — Queremos salvar os pacientes, mas se recebemos [somente] uma máscara por plantão, estamos colocando eles em perigo. Nos colocam contra a parede, pois ou morremos tentando salvar nossos pacientes, ou paramos de trabalhar devido as condições, mas nesse caso eles morreriam.

 A equipe de AND recebeu ainda o relato de duas técnicas em laboratório do HU sobre o que ocorreu com uma ex-funcionária do hospital após contrair a doença:

 — No laboratório tiveram duas pessoas infectadas. Uma teve alta e a outra pediu demissão. Esta segunda teve síndrome do pânico após contrair a doença e infectar a filha. Será que se o hospital tivesse condições adequadas para os profissionais de saúde ela teria se infectado? — questiona a trabalhadora. E prossegue: — Uma coisa absurda é que apesar da suposta separação dos pacientes da Covid-19 para o HC e os que têm outros problemas para o HU, tem gestantes sendo transferidas de lá pra cá sem a realização de testes. Como vamos saber se já não estão infectadas?

 Frente à grave precarização relatada, o superintendente alega que o hospital não atende pacientes infectados pela Covid-19 — os quais estão sendo transferidos para o Hospital das Clínicas —, e que, por isso, não seria necessário que os funcionários tivessem os equipamentos de proteção.

 A alegação do superintendente, porém, não se sustenta, uma vez que não há testes para  determinar quais dos pacientes que chegam ao hospital estão contaminados e quais não estão.

 A situação revela para os trabalhadores como esta alegação não passa de pura manobra de politicagem para tentar preservar as quebradas contas desse velho Estado e jogar ao léu os profissionais de saúde, aqueles que mais tem estado ao lado do povo diante de tamanho sofrimento provocado pelos autênticos parasitas, vampiros da massa empobrecida, que estão ordenando através de canetadas ou repressão direta a morte de centenas de milhares de pessoas. Tudo isso de cima do alto de suas mansões, e em alguns casos, de suas UTI’s particulares – com o melhor tratamento possível, é claro.

 As exigências dos funcionários do Hospital Universitário giram em torno, principalmente, de novas contratações de funcionários e materiais de EPI para todos. Exigem também que sejam realizados testes periódicos em todos os funcionários, pois apesar do atendimento no hospital estar direcionado somente para casos que não são de contaminação pela Covid-19 (partos, cirurgias eletivas, entre outras operações), a exposição à doença é muito grande, conforme comprovam os números.

— Já são mais de 40 afastamentos devido à doença e alguns entubados em UTI’s, e eles tratam como se fosse uma coisa qualquer, relata o diretor do Sintusp. E continua: — A própria mídia não aparece aqui, apesar dos convites. Chamamos a Band por exemplo e não apareceu ninguém. Quando sai no jornal, é só notinha de rodapé, como se nossa vida não valesse nada, como se os profissionais de saúde não contassem nada.

 O sindicato dos trabalhadores repudiou também a ardil manobra da administração do hospital que concedeu o direito de afastamento somente aos médicos no intuito de dividir os trabalhadores da instituição:

— Temos enorme respeito pelos médicos, e achamos que os que fazem parte do grupo de risco tem direito ao afastamento. Mas por que só os médicos? Temos guardas patrimoniais, técnicos em enfermagem, e vários outros funcionários. Os enfermeiros, por exemplo, tem muito mais contato com o paciente que o médico. Por que então não são dispensados? — questiona o representante da categoria.

 Apesar da situação crítica, os trabalhadores mostram disposição de lutar pelos seus direitos.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: