Nos dias 12 e 13 de junho, dois casos de tortura e espancamento foram registrados em diferentes pontos da capital São Paulo envolvendo a Polícia Militar (PM). Nos dois casos, os alvos foram jovens moradores de comunidades pobres. Um dos jovens teve seu rosto desfigurado.
O caso mais grave ocorreu no dia 13. Militares da 1ª Companhia do 43º Batalhão da Polícia Militar (PM), no Jaçanã, na zona norte da cidade de São Paulo, foram filmados agredindo e torturando um jovem rendido às 4h da madrugada.
A agressão aconteceu na rua das Flores, no Jardim Portal I e II, na mesma região. Em imagens divulgadas na internet é possível ver pelo menos cinco policiais militares desferindo socos, chutes e golpes de cassetete. O morador da comunidade, W.F.G, de 27 anos, gritava que era trabalhador e que estava indo buscar a namorada, enquanto era torturado pelos covardes.
Moradores revoltados com a covardia filmaram toda a ação e, ao perceberem que estavam sendo filmados, os policiais ameaçaram as pessoas: “Vai defender vagabundo também?”. Na sequencia o jovem é arrastado em um escadão, onde apanha ainda mais. Enquanto alguns policiais batem, outros ameaçam os moradores: “Vou quebrar todo mundo”.
Os policiais militares flagrados agredindo o jovem demoraram seis horas para apresentá-lo ao 73º Distrito Policial, no Jaçanã, e quando o jovem foi apresentado narrou uma versão diferente da flagrada por vídeos feitos por moradores.
W.F.G, que foi filmado sendo agredido em uma escadaria, afirmou na delegacia que as lesões aparentes em seu olho direito ocorreram após ele cair ao chão e bater a cabeça contra a escada. Exatamente a mesma versão que os torturadores Francisco Xavier de Freitas Neto, 22, e Eduardo Xavier de Souza, 27, apresentaram, evidenciando que a vítima sofreu ameaça dos policiais para mudar a versão dos fatos.
Testemunhas do caso disseram, sob anonimato, que o jovem está com medo. As testemunhas afirmaram que o rapaz trabalha em uma pizzaria, que estava indo para a casa da namorada no momento da agressão e diz que policiais em cinco viaturas participaram da ação.
Os moradores que flagraram as agressões também disseram temer represálias de policiais.
Segundo amigos do jovem, ele “não quer nunca mais ser encontrado por nenhum policial”. E até a última atualização, o jovem havia desaparecido por medo de ser morto pelos torturadores da PM.
Em Barueri, a cena se repete
Já no Jardim Belval, em Barueri, na grande São Paulo, policiais militares abordaram um homem que está sentado na calçada mexendo no celular e o agrediram.
A agressão ocorreu quando a viatura parou ao lado do jovem, os agentes deixam o veículo e o homem se levantou. Um dos policiais pulou em seu pescoço e aplicou um golpe mata-leão mesmo diante da falta de reação da vítima. Pessoas que passavam pelo local no momento da agressão tentaram ajudar o rapaz e também foram agredidos pelos policiais, que estavam visivelmente transtornados.
Um dos homens que tentou ajudar o rapaz foi agredido com golpes de cassetete e um outro foi empurrado ao chão enquanto os policiais gritavam para que eles deixassem o local.
Em entrevista ao monopólio G1, o rapaz agredido, que preferiu não se identificar, contou que os policiais depois de o abordarem agressivamente tentaram levar ele para o escadão e ele se recusou:
“Foi aí que eu neguei de ir para o escadão. Falei: ‘o senhor tá me abordando aqui, não acho justo o senhor me levar pro escadão’. Ele [o policial] então me disse: ‘você tá fodido, seu macaco, vou chamar reforço, você vai ver só’”. Depois da agressão, o jovem desmaiou, foi jogado dentro da viatura e teve uma pancada na cabeça.
O tio do rapaz, que por motivo de segurança e medo preferiu não se identificar, também foi agredido pelos policiais. Em entrevista, contou: “Falei pra ele [policial] que não precisava fazer aquilo, que aquilo era abuso de autoridade. Nessa hora veio os Rocam, começaram a me agredir com cassetete, que não foram nem apresentados na delegacia. A minha mãe, com 78 anos, saiu pra tentar ajudar, jogaram gás de pimenta na minha mãe”, finalizou.
As agressões não pararam e quem tentou intervir também foi espancado pelos covardes. Um dos agredidos foi um outro rapaz, que não fazia parte da família da vítima e que também tentou intervir para cessar a agressão injusta. Ele denunciou: “Um policial foi e deu uma rasteira em mim que eu caí no chão, bati a costela e bati a cabeça. Depois ele saiu me puxando para a guia. Eu fiquei apagado dois minutos”, denunciou.