Na primeira foto, amigos de Leandro Lo protestam em frente à delegacia; na segunda, Leandro conquista o ouro no Pan-americano de jiu-jitsu. Foto: Reprodução/ G1; Beatriz Lina / GRACIEMAG, respectivamente
Amigos e colegas do campeão mundial de jiu-jitsu Leandro Lo protestaram na tarde do dia 7 de agosto em frente à delegacia da Zona Sul de São Paulo, dia em que estava previsto para ocorrer o depoimento do policial suspeito de matar o atleta. Eles gritavam palavras de ordem como Assassino! quando foram reprimidos com bombas de efeito moral, spray de pimenta e tiros para cima pelo Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (GARRA), da Polícia Civil.
Leandro Lo, oito vezes campeão mundial de jiu-jitsu, foi assassinado no dia 06/08 pelo tenente da Polícia Militar Henrique Otávio Oliveira Velozo, identificado por foto por testemunhas. O assassinato ocorreu após Leandro imobilizar o policial em um bar, depois que o militar reacionário iniciou uma confusão com o grupo da mesa em que o atleta se encontrava, provocando-os e roubando uma garrafa de bebida. Após ser solto pelo atleta, o policial se afastou, deu um tiro na cabeça de Lo, e chutou mais duas vezes a cabeça do atleta depois que esse já se encontrava caído no chão. Henrique Velozo era faixa roxa de jiu-jitsu e a mãe de Leandro Lo afirma que o policial conhecia o seu filho. Lo morreu por morte cerebral no hospital naquele mesmo dia.
O jiujitsuka havia conquistado, mais recentemente, em 2022, o oitavo título de campeão mundial pela categoria meio-pesado. Leandro foi campeão mundial pela primeira vez em 2012 pela categoria peso leve. O atleta era um dos grandes expoentes do esporte de origem japonesa que tornou-se bastante popular no Brasil.
Lutadores de jiu-jitsu se revoltam
[AGORA] Policiais civis do Garra (Grupo Armado de Repressã a Roubos e Assaltos) jogam spray de pimenta para afastar praticantes de jiu-jitsu que protestam contra o assassinato do campeão mundial Leandro Lo. O suspeito é o tenente da @PMESP Henrique Otávio Oliveira Velozo. pic.twitter.com/Q6rCu455WF
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) August 7, 2022
Os amigos de Leandro Lo se reuniram no 17º Distrito Policial – Ipiranga, uma vez que a Secretaria de Segurança Pública (SSP) havia informado que o policial responsável pelo assassinato estaria no local. Revoltados, eles cercaram um carro da corregedoria militar achando que o assassino estaria lá, e enfrentaram os agentes da Garra na esperança de pegar o tenente da PM. A polícia reprimiu o grupo que buscava justiça pela morte do companheiro e colega.
Eles seguiram protestando em frente ao DP até por volta das 22h40, denunciando que a corporação estaria escondendo o policial militar.
Assassino tinha longo currículo e formava outros policiais
Tenente Henrique Velozo. Foto: Facebook/Reprodução
O tenente Henrique Velozo fez uma “limpa” de todas as suas redes sociais após o assassinato. Entretanto, antes da exclusão, no perfil no sítio dedicado a expor currículos, o Linkedin, o policial se afirmava ser “especialista em Defesa Pessoal, sendo docente nas Escolas de Formação da Polícia Militar” e ter “atuação majoritária como gestor de serviço operacional como Comandante de Força Patrulha e Comandante de Força Tática em Batalhões territoriais do Litoral e Capital Paulista desde a formação na Academia de Polícia Militar do Barro Branco e conhecimentos na área de Inteligência Policial e especializado pelo Centro de Inteligência da Polícia Militar (CIPM) atuando como chefe de Agência de Inteligência em Batalhão territorial da Zona Norte de São Paulo” (negrito nosso).
Desmascarando a farsa de que os policiais que cometem crimes contra o povo seriam “despreparados”, o currículo do tenente mostra que, na verdade, o policial estava muito bem preparado para exercer sua função de repressão e guerra contra o povo. Dando aulas de “defesa pessoal” e sendo “idealizador” de um projeto “contra a violência doméstica”, Henrique se apresentava como especialista em proteção de gênero e violência doméstica contra a Mulher pela Escola Paulista da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ). Hipocrisia muito semelhante a do recente caso do inspetor carioca da Delegacia da Mulher que espancava e torturava a namorada.
Henrique Velozo tinha, na verdade, histórico de agressão até mesmo contra seus próprios colegas de profissão. Em agosto do ano passado, ele havia sido condenado em segunda instância no Tribunal de Justiça Militar por agredir um soldado da PM e insultar um colega de farda. Sua pena foi de seis meses de prisão, que ele cumpriu em regime aberto.
Em outubro de 2017, a polícia foi acionada durante a madrugada para atender uma ocorrência na casa noturna The Week, onde o tenente havia começado uma briga. Um soldado tentou contê-lo e levou um soco no braço e quase levou outro na cabeça.
O tenente ainda desacatou outro militar da mesma patente que atendia à ocorrência. “Você é meu recruta; seu covarde, filho da p…”, gritou Veloz, enquanto fez uma referência ao ano em que o colega teria entrado na academia militar. As imagens de uma câmera mostram que o agressor teve de ser contido por um segurança.
A realidade mostra claramente que assassinatos e abusos são cometidos diariamente, o tempo todo, por policiais em serviço e fora dele. Longe de ser um problema de indivíduos em particular, no treinamento dos policiais e nas próprias condições para se manterem na corporação, impõe-se que tais atrocidades sejam cometidas e ensinadas. Afinal, são recorrentes os escândalos de cursinhos para a PM que ensinam técnicas de tortura e execução.
O próprio Henrique Velozo foi formado na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Essa é a mesma academia onde o professor e ex-capitão da Polícia Militar (PM) de São Paulo, advogado e professor de Direito da AlfaCon, Norberto Florindo Júnior, ministrou cursos de formação de soldados e sargento. Norberto foi alvo de um dos mais recentes escândalos envolvendo esses cursos preparatórios em que ensinava a torturar e executar. Norberto foi demitido da PM em 2009, após ser flagrado usando cocaína no alojamento da Diretoria de Ensino.