O Superintendente dos Povos Indígenas de Rondônia, Gasodá Suruí, e sua chefe de gabinete, Elisamá Cinta Larga, gravaram um vídeo com o deputado federal Alex Redano – figura conhecida por seu servilismo ao ex-presidente Jair Bolsonaro e por sua histórica proximidade com os interesses do latifúndio no estado de Rondônia. O vídeo foi publicado na página do deputado e encaminhado de maneira anônima ao correspondente local de AND em Porto Velho.
A cena, registrada e publicada nas redes sociais do parlamentar, revoltou lideranças e apoiadores da causa indígena ao evidenciar a instrumentalização política da pauta indígena por parte de um político alinhado com setores que historicamente violentam, desmatam e invadem terras indígenas.
Isso porque Redano foi o mesmo que gravou um vídeo com o próprio Jair Bolsonaro no dia 3 de fevereiro de 2022. A filmagem foi feita, segundo o deputado, em um “almoço agradável” no qual foram discutidos temas como “a legalização da exploração mineral e a expansão do agronegócio.” Na mesma época, Bolsonaro fez duros ataques ao movimento camponês em Rondônia.
Não seria a primeira vez que os reacionários buscam se aproximar de lideranças alinhadas ao bolsonarismo para avançar com seus próprios projetos. A nível nacional, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes escolheu uma deputada indígena bolsonarista, Silvia Nobre, para compor a mesa de conciliação para o “marco temporal”. A escolha foi repudiada por lideranças de todo o país.
O papel da Superintendência Estadual do Indígena
A Superintendência Estadual do Indígena (SI) foi criada pela Lei Complementar nº 1.180, de 14 de março de 2023, vinculada à Secretaria de Estado de Assistência e do Desenvolvimento Social. De acordo com a legislação, a SI deveria ser responsável por coordenar e implementar políticas voltadas aos povos indígenas em Rondônia, atuando em áreas como a promoção de direitos, fiscalização da legislação específica e estímulo ao diálogo com as comunidades indígenas, respeitando suas práticas, identidades e diversidades.
No entanto, a atuação concreta da atual gestão da Superintendência tem gerado questionamentos, sobretudo diante de episódios como o que envolve a participação de seus representantes em vídeos com políticos historicamente associados a pautas contrárias aos direitos indígenas. A falta de posicionamento crítico e a aproximação com figuras como Alex Redano colocam em xeque o real compromisso da SI com os princípios que, em tese, deveriam nortear sua existência.
A influência familiar e o domínio de espaços estratégicos
Além da controvérsia gerada pela presença do Superintendente em vídeos com parlamentares anti-indígenas, há ainda denúncias sobre a influência de sua família em cargos estratégicos. A esposa do superintendente, Leonice Tupari, atualmente ocupa o cargo de coordenadora da Associação das Guerreiras Indígenas, mas, segundo lideranças, tem defendido uma pauta considerada falsa e descolada das reais demandas das mulheres indígenas, justamente por ser alinhada aos interesses políticos do esposo. Essa aliança tem sido vista como um mecanismo de cooptação e silenciamento das vozes indígenas que ousam discordar da atual gestão.
Outra figura central nesse círculo é Marciele Tupari, filha de Leonice e enteada de Gasodá Suruí, que exerce o cargo de Secretária Executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). De acordo com a denúncia anônima, a influência da família e seus aliados sobre esses espaços estratégicos tem comprometido o papel de representatividade das entidades, que deveriam atuar com autonomia e comprometimento com as bases. A acusação aponta que os espaços vêm sendo utilizados para manter uma estrutura que “cala a boca de todos em troca de salários e viagens”.
Denúncia
O vídeo foi enviado ao AND por uma fonte anônima junto a uma mensagem. Abaixo, publicamos na íntegra o conteúdo enviado.
“Durante o Abril Indígena – período dedicado à valorização dos povos indígenas –, o Superintendente Estadual dos Povos Indígenas de Rondônia aparece em um vídeo ao lado de um deputado estadual que se autodenomina ‘padrinho dos povos indígenas’ e utiliza o termo ‘tribo’, que é considerado inadequado e ofensivo para os povos e lideranças indígenas.
A postura do parlamentar perpetua estereótipos e parece ignorar avanços no reconhecimento da diversidade e dos direitos dos povos indígenas, contrastando com os princípios que norteiam o Abril Indígena.
A ausência de posicionamento crítico por parte do representante institucional levanta questionamentos sobre o compromisso da Superintendência e do parlamentar com a promoção do respeito e da dignidade dos povos originários. Em um momento de intensificação das lutas por direitos e reconhecimento, espera-se que autoridades públicas adotem posturas alinhadas às demandas e à valorização das culturas indígenas, e não usem da pauta indígena para promoção política de sujeitos que, quando não ausentes, são pouco atuantes para efetivas políticas voltadas aos povos indígenas deste Estado.”