É fato inegável que o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, tem se destacado como um ceifeiro, que usa a Polícia Militar (PM) de São Paulo (SP) para promover sua guerra sanguinária contra o povo pobre no estado. Somente sua última Operação Escudo, coordenada com um outro notório sanguinário, Guilherme Derrite – conhecido pelas suas convicções de que é “vergonhoso” um policial não ter envolvimento em ao menos três mortes após cinco anos de rua –, deixou um saldo de 56 vidas ceifadas. Foi a maior chacina desde Carandiru, em 1992. No curso da operação, Tarcísio e Derrite aproveitaram para reformar quase todo o coronelato da PM, elevando os “linha dura”. A outra Operação Escudo, feita em 2023, também terminou com um elevado número de assassinatos, execuções e evidências claras de torturas. A nova “luta” de Tarcísio, agora, é contra as câmeras nas fardas policiais, ou pela “liberdade” dos PMs decidirem quando irão ligá-las e desligá-las.
Dessa forma, não surpreende que policiais de outros estados estejam com inveja de seus colegas de farda na PM paulista. Recentemente, um comandante da PM de Rondônia, de nome Regis Wellington Braguin Silverio, declarou em um podcast policialesco sua inspiração na política assassina de Tarcísio para uma nova ferramenta que está em desenvolvimento no estado do Norte brasileiro. “Assim como tem lá em São Paulo. Hoje foi lançada a Operação Escudo. Dois meses depois da Operação Escudo, 52 mortos. Bandidos mortos. Não são pessoas mortas, são bandidos mortos. Por que? Porque atiraram em policial”, diz ele ao programa do tipo “espreme que sai sangue”. Dentre os mortos da Operação Escudo, estavam trabalhadores como o catador de latinhas José Marques Nunes e o jovem deficiente visual Hildebrando Simão Neto, executado a sangue frio na sua casa junto de Davi Gonçalves Dias.
Não está claro quais os mecanismos da ferramenta em desenvolvimento em RO, mas é muito possível que ela dará mais liberdade de atuação aos PMs do estado, já conhecidos pela atuação irregular. O foco dessa atuação é contra a os camponeses sem terra na região que é um dos palcos da luta pela terra no País. É recorrente que PMs rondonienses tomem parte em bandos paramilitares contratados por latifundiários para assassinar camponeses em acampamentos erguidos em terras do latifúndio. Em 2022, uma operação das polícias civil e federal junto do Ministério Público (MP) comprovou que bandos paramilitares do estado tinham policiais, tanto militares quanto civis, e até delegados, entre seus integrantes. Eles trabalhavam para o latifundiário Antonio Martins, também chamado de “Galo Velho”, e chegaram a agir junto de uma operação policial para tentar despejar 800 famílias camponesas de uma área ocupada em Nova Mutum-Paraná.
Os mercenários também lavavam dinheiro, fraudavam processos judiciais de desapropriação de terras, cometiam abusos e execuções sumárias, tudo a soldo e com o uso de armamentos e viaturas oficiais das polícias. Tudo isso já era denunciado pelos camponeses há anos, mas só em 2022 foi levado a cabo em operação do MP. Isso não significa que o vínculo umbilical das PMs com os bandos sicários tenha sido abolido: a estrutura continua, apesar do processo contra alguns poucos envolvidos no esquema do Galo Velho. Agora, os PMs do estado querem novas ferramentas que garantam que vão poder continuar com as execuções, assassinatos e torturas, dentro da corporação ou nos bandos paramilitares, sem serem afetados pelas investigações. O modelo da Operação Escudo é uma boa referência, uma vez que as denúncias de torturas e execuções, levadas até mesmo ao Tribunal de Haia, foram ignoradas por Tarcísio de Freitas, e recaíram no silêncio sem a punição de nenhum militar. Junto da Operação Escudo, o próprio Tarcísio de Freitas se eleva como figura garantidor das chacinas.
O governador paulista, de fato, costura seu caminho como a próxima figura nacional da extrema-direita, com olhos em 2026. Nesse caminho, angaria apoio até mesmo de alguns do “centrão” e da “direita liberal”, que apostam na necessidade do “bolsonarismo moderado”. Na semana passada, ele se reuniu com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o quase sempre possível candidato a presidente, Luciano Huck. As PMs do Brasil olham com esperança para toda essa movimentação. Se a direita liberal cultiva a candidatura de Tarcísio de um lado, as matilhas nos quartéis olham para a figura com o mesmo brilho, sedentas pela política de aprofundamento da guerra aos pobres que o novo capitão do mato coordenará.