Ao anoitecer as tropas policiais realizam despejo ilegal contra as famílias da Área Tiago Campin dos Santos. Foto: Reprodução
Em mais um vídeo enviado ao Jornal A Nova Democracia no dia 20 de outubro, os camponeses de Rondônia relatam que persiste o cerco ilegal e covarde da Polícia Militar de Rondônia (PM-RO), Força Nacional de Segurança Pública e outras unidades de órgãos de repressão. O despejo ilegal e arbitrário seguiu pela noite e pelo menos 17 caminhonetes estão dentro da Área Tiago Campin dos Santos em Nova Mutum em Rondônia.
Os vídeos mostram a chegada das tropas ao anoitecer exigindo que as famílias saíssem naquele instante. Os militares adentraram vários barracos, retirando pertences, afirmando que as moradias seriam destruídas. Questionado por uma camponesa se a operação deveria ser realizada mais cedo, o policial nada respondeu.
Em diálogo registrado em um dos vídeos é possível identificar que algumas crianças jogaram pedra na PM. Uma outra camponesa comentou: “é pouco pra eles”. Mulheres e crianças se perguntavam para onde eles seriam levados.
Em um dado momento, um militar da tropa reacionária ameaçou os camponeses dizendo: “Se os senhores insistirem em não sair teremos que usar a ‘força policial’”.
Indígenas que estavam na área também presenciaram a investida da PM e afirmam que não havia Oficial de Justiça. Eles disseram que o policial mostrou apenas um papel que não era de fato um mandado de reintegração de posse.
Crianças passam dias sem comida; camponeses denunciam velho Estado
Uma parte das famílias expulsas durante a noite da Área Tiago Campin dos Santos foi levada para um local na Vila da Penha organizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social e da Família (Semasf) de Rondônia. Policiais fortemente armados e portando também sprays de pimenta escoltavam as famílias durante a repugnante ação.
Mesmo diante da tentativa policial de suprimir o ânimo das massas, os camponeses seguiam altivos nas inúmeras denúncias contra o velho Estado.
Em um vídeo gravado na manhã de hoje, 20, na chegada de um visitante ao local, uma camponesa exclama: “Comida para as crianças!”, e denuncia: “As crianças estão com fome, fomos despejados a noite, 18h30, e agora que chegamos no lugar… As crianças tudo com fome! Isso é irresponsabilidade do Estado! Crianças com malária, pai de família com malária e trazem para um lugar deste que nem comida tem!”.
“O meu filho está sem comer desde ontem. A culpa é do Estado! A culpa é do Estado porque o Estado sabia quantas pessoas tinham dentro do acampamento!”, denunciou a camponesa.
Os trabalhadores da Semasf de Rondônia relatam que não há infraestrutura para receber a quantidade de famílias que poderão ser despejadas. Eles denunciam que a Polícia Militar os enganaram, afirmando que chegariam algumas famílias e sem mudanças, porém em meio ao despejo, os militares exigiram que as centenas de famílias retirassem os pertences mesmo sem um local para realocá-los.
Os trabalhadores também repercutem a grave denúncia de que os camponeses estão sem comer há dias, pois as tropas têm proibido as famílias de comprarem mantimentos. Eles afirmam ainda que não foi permitido aos advogados e que os camponeses que exigem seus direitos não os ouvirão.