Pistoleiros queimaram três casas da comunidade, além de espancarem e roubarem camponeses. Foto: Reprodução
Pistoleiros agrediram, roubaram e queimaram casas de camponeses da Gleba Tauá, situada no município Barra do Ouro, no norte do Tocantins, nos dias 4, 5 e 6 de novembro. Segundo a Comissão Pastoral da Terra – Regional Tocantins (CPT-TO), o camponês Bismark Bezerra dos Santos, ao filmar a uma provocação dos pistoleiros do latifúndio em sua terra, foi agredido com socos e chutes e teve seus pertences roubados. Nos dias que se seguiram, os agentes paramilitares voltaram à área e queimaram três casas. Os camponeses denunciam Pedro Amaro, que se diz proprietário de uma área onde hoje vivem famílias camponesas, como mandante da ação criminosa.
Os camponeses afirmam que, no dia 26 de outubro, os agentes paramilitares do latifúndio já haviam ido até a chácara Quatro Corações, de posse de Bismark, para avisá-lo que no dia 7 de novembro iriam instalar uma cerca dentro de sua terra. Tentando intimidar o camponês, os pistoleiros afirmaram que, caso ele demonstrasse resistência na ocasião, “iria ser atropelado” e que, se tentasse arrancar a cerca, eles iriam colocá-la de volta.
No dia 04/11, antes da data anunciada, um grupo de 11 pistoleiros, que se apresentaram como “funcionários” de Pedro Amaro, foi até a chácara e começou a instalar a cerca. O camponês prontamente começou a filmar a ação no intuito de poder denunciar os invasores. Neste momento, os pistoleiros o seguraram para tomar o celular e passaram a espancá-lo. No dia seguinte, o mesmo bando de pistoleiros não somente continuou construindo a cerca, como também queimou a casa do vizinho de Bismark. No dia 06/11, os pistoleiros foram novamente à área, queimam outras duas casas de camponeses da região, destroem a cerca da posse de vários moradores e agridem um terceiro camponês, Francisco.
A HISTÓRIA DA GLEBA TAUÁ
A Gleba Tauá é uma comunidade de posseiros e camponeses pobres que se fixaram nessa terra na década de 50. As famílias, que viviam em terras comuns de forma itinerante, migraram do estado do Maranhão em busca de terra e melhores condições de vida.
Até o ano de 1980, os camponeses mantinham o uso coletivo da terra, sem lotes individualizados. Mas no ano de 1985 a organização das terras sofreu alteração após a regulamentação fundiária realizada pelo Grupo Executivo de Terra do Araguaia Tocantins (Getat). O processo que poderia garantir a posse das famílias não o fez, pois do total da área, que corresponde a 17,7 mil hectares (ha), apenas 5,7 mil ha foram titularizados em forma de lotes individualizados. Das restantes 11,9 ha de terras da União, uma grande parte delas foi ocupada pelas famílias que não tiveram acesso ao título de posse, passando a viver como posseiros.
Ocorre que o latifúndio jamais deixou de tentar expandir até as terras ocupadas pelos pequenos proprietários, que denunciam que os latifundiários grilam as terras e expulsam os camponeses do local.
A CPT destacou que essa não é a primeira vez que ataques desse tipo promovido por grupos de pistoleiros ligados ao latifúndio ocorrem dentro da Gleba Tauá. Conforme a denúncia da entidade, foram relatados casos de abusos, agressões e ameaças. Além disto, vários boletins de ocorrência já foram registrados contra o mandante, mas não surtiram efeitos.