O colégio Vasco da Gama, nas dependências do Complexo de São Januário
No último dia 5 de agosto, após completos três meses de salários atrasados, docentes do Colégio Vasco da Gama, localizado no Complexo de São Januário, Zona Norte da capital fluminense, deflagraram uma greve com o objetivo de reivindicar a normalização de seus salários e também a compra de materiais essenciais para o funcionamento das instalações da instituição de ensino.
Comovidos com a situação, torcedores do clube resolveram criar e divulgar uma campanha de arrecadação na internet com a finalidade de, no mínimo, regularizar os vencimentos dos funcionários. O movimento foi um sucesso: em pouco mais de um dia, a meta da ‘vaquinha’, que inicialmente era de R$ 70 mil, já havia sido alcançada, fazendo com que os organizadores passassem a permitir valores maiores que, por fim, chegaram em torno de R$ 100 mil.
Com a aparente resolução do problema, o sindicato dos professores encerrou a greve na última segunda-feira (12), retomando as atividades e aguardando a execução dos repasses. Uma desagradável surpresa, no entanto, veio logo depois: o clube, por meio de nota oficial publicada na última quinta-feira (15), informou em seu site que utilizaria o montante para a construção de uma nova instalação, alegando que “(…) não seria justo ou correto que o clube quitasse parte do salário de apenas uma classe de funcionários (…)”.
Agravando as circunstâncias do posicionamento oficial da diretoria, segundo informações apuradas pelo monopólio da imprensa juntamente ao clube, a mesma teria alegado que o valor arrecadado não seria suficiente nem mesmo para regularizar um dos três meses de salários atrasados. No entanto, o grupo Guardiões da Colina, responsável pela criação da campanha, alegou em nota que procurou antecipadamente pelo departamento competente do clube que, por sua vez, teria repassado a informação de que os débitos estavam na casa dos R$ 65 mil.
Além de outras informações, a nota do grupo Guardiões da Colina alega que a diretoria do clube quer usar o dinheiro para valorizar a própria infraestrutura porque prometeu cumprir com suas responsabilidades quanto ao atraso de pagamento dos professores, e ainda acrescenta que a plataforma utilizada para a arrecadação estabelece um prazo para a retirada do valor, que será usado para observar se os pagamentos serão feitos aos professores com recursos próprios do clube antes do repasse da campanha para fins diversos.
Nas redes sociais, torcedores começaram a questionar e demonstrar profundo repúdio com as intenções da diretoria:
Não tem que deixar de pagar ninguém. Pq então não reverteu esse dinheiro pra pagar os q recebem menos? Pegar um dinheiro q é pra pagar funcionários e investir em melhoria do colégio é um absurdo. A melhoria imediata q o colégio precisa é o pagamento aos professores e funcionários
— Vascaíno Doentio (@VDoentio) August 15, 2019
Eu não acredito que o Campello não vai pagar os professores com dinheiro arrecadado e ainda por cima vai fazer outro colégio dentro de SÃO JANUÁRIO. Esse está muita merda no Vasco e ninguém faz nada. Como pode?????? Duas escolas, sem professores, sem dinheiro e mais dívida.
— ederli ✠ (@crvgederli) August 15, 2019
Ta na cara o que vai acontecer: Vão “”””””pagar””””” os professores antes do prazo de 30 dias, sumir com o dinheiro da vaquinha, e não construirão colegio novo porra nenhuma. Por isso não sou sócio. Não sou otário de botar dinheiro soado meu na mão de ladrão de graça
— Tarcisio Benicio ✠ (@tarcisiobenicio) August 15, 2019
Se fazem um crowndfunding para auxiliar o pagamento de tratamento médico de alguém doente e depois resolvem destinar o valor arrecadado para obras de melhorias na casa dele, você acharia certo?
Então, não cabe muita explicação no caso do Colégio do #Vasco.
— Freud Irônico ™ (@freud_ironico) August 15, 2019
O destino que a diretoria deu para o dinheiro arrecadado, como pagamento dos salários em atraso dos professores do Colégio Vasco da Gama, está dando pano pra manga. Muitos torcedores reclamando da mudança de rota após um objetivo traçado.Temem que a direção não honre o combinado.
— Detetives Vascaínos ᶜʳᵛᵍ✠ (@detetivesvascao) August 15, 2019
PRECARIZAÇÃO DO COLÉGIO É ANTIGA
Atletas da base vascaína posam para foto na biblioteca do colégio; entre eles, o atual camisa 11 da Seleção Brasileira, Philippe Coutinho
O Colégio Vasco da Gama foi criado em 2004 sob a justificativa de conciliar a formação desportiva e educacional de seus atletas, extirpando uma série de violações aos direitos da criança e do adolescente que, até os dias de hoje, são comuns no futebol de base. Por conta do pioneirismo da medida, a escola se tornou um orgulho para os torcedores. Nos seus 15 anos de existência, no entanto, vem sofrendo com a falta de recursos derivada da decadência econômica pelo qual passa o clube, tida como a maior de sua história.
No início deste ano, por exemplo, diversos profissionais foram demitidos de forma sumária pelo clube e substituídos por quadros de uma empresa terceirizada (Sistema de Ensino GPI) que havia firmado parceria com o Vasco. Meses depois, as partes começaram a travar uma batalha judicial por suposta quebra mútua de contrato.