Em Assembleia Geral realizada no dia 13 de novembro de 2019, trabalhadores da saúde, principalmente enfermeiros e técnicos de enfermagem, decidiram deflagrar greve por tempo indeterminado em todas as unidades de saúde de Roraima, a partir do dia 26 de novembro. A vitoriosa greve se mantém e completou 39 dias em 6 de janeiro de 2020, enquanto o velho Estado realiza apenas mais promessas e trocas de secretários de saúde como modo de enganar os trabalhadores da saúde e a população. No dia 27 de dezembro foi exonerado o terceiro secretário de saúde. Diversos atos denunciando a situação caótica ocorreram em Boa Vista e no interior ao longo de todo 2019.
Em fevereiro de 2019 os trabalhadores de saúde realizaram um ato denunciando as precárias condições de trabalho nos hospitais de Roraima e também a redução no orçamento estadual para saúde de 18% para 12%. Já em janeiro diversas cirurgias foram canceladas por falta de materiais diversos que vão desde medicamentos até fios de sutura utilizados em cirurgias.
O dirigente do Sindicato dos Profissionais da Enfermagem de Roraima (Sindprer), Melquisedek Menezes, afirmou que a redução nas verbas para saúde irá agravar ainda mais a situação. “O profissional está sobrecarregado e doente. Além disso, a retirada desse percentual que o governo é obrigado a fazer, como vai ser, se a saúde já está sucateada? Não tem medicação, não tem material. Se for fazer cirurgia é fora da rede pública, vai para uma rede privada, se não tiver um plano de saúde privado piora muito mais. Tem muitas pessoas indo para outros estados, porque não têm condições de fazer em Roraima. A população e os trabalhadores não aguentam as condições em que se encontram as unidades de saúde do Estado. Por isso estamos reunidos com os profissionais e a população, reivindicando direitos”, afirmou.
Em outubro de 2019 foi realizado outro ato denunciando os mesmos problemas, além das promessas não cumpridas pelo velho Estado. Novamente o dirigente do Sindprer denunciou uma alta quantidade de nomeados para cargos de confiança, apesar da crise econômicas. “Mesmo com o decreto de Calamidade Financeira é alta a quantidade de nomeados para cargos comissionados dentro dos órgãos e entidades do Executivo. Enquanto isso, temos as perdas salariais que não são repostas para este problema que se arrasta desde 2016”, afirmou.
Em novembro de 2019, cansados de promessas, os trabalhadores decidiram anunciar greve geral. De acordo com o Sindprer, mais de 3 mil trabalhadores da saúde estão em greve em todas as unidades de saúde de Boa Vista e nos 14 municípios de Roraima, para não prejudicar a população 30% dos trabalhadores estão em atividade.
A trabalhadora da saúde, Raimunda Araújo, denuncia que além das condições de trabalho precárias e baixos salários, os trabalhadores estão sobrecarregados e adoecidos, contexto que influencia diretamente no atendimento a população. “Hoje temos uma sobrecarga e a quantidade de profissionais é insuficiente para dar assistência à população. Neste momento, pedimos o apoio de todos para que esta greve dê resultados. Não estamos sendo indiferentes aos pacientes e as famílias, mas lutamos para exercer a nossa profissão da melhor forma”, conta.
No dia 3 de dezembro de 2019 os trabalhadores realizaram uma carreata pelas principais ruas de Boa Vista até o Palácio do governo, porém novamente não foram recebidos. Acampados na frente do Hospital Geral de Roraima, o maior do estado, desde o início da greve, os trabalhadores decidiram então acampar na frente do Palácio do governo a partir do dia 23 de dezembro. No dia 24 os trabalhadores realizaram uma cantata de natal.
Governador criminaliza os trabalhadores enquanto privilegia burocracia
No dia 4 de dezembro a secretária de saúde realizou uma visita surpresa no Hospital Geral de Roraima como forma de intimidar os trabalhadores, chegando até mesmo a ameaçar os trabalhadores com transferências para outros municípios.
Conforme trecho da nota emitida pelo Sindprer, a conduta da secretária é repressiva.
No dia 18 de dezembro o governador sancionou o aumento de salários dos desembargadores e juízes do Tribunal de Justiça de Roraima, apesar da crise financeira que o estado vive. Os reajustes são de R$ 5 mil. O salário de desembargador passou de R$ 30.471,10 para R$ 35.462,22. Enquanto os salários dos juízes foi reajustado de R$ 27.424 para R$ 31.915,99. Uma semana antes houve reajuste salarial de 47,08% para delegados da Polícia Civil.
Dança das cadeiras na secretaria estadual de saúde comprova a situação caótica
No início de 2019 o médico Ailton Wanderley entregou o cargo e por meio de nota denunciou que a situação caótica na saúde de Roraima não é um acidente, nem tampouco ocorre por conta dos imigrantes. “Enquanto forem permitidas empresas de deputados estaduais; federais e senadores vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto for permitido uma cooperativa distribuindo plantões a quem não trabalha; enquanto forem permitidas famílias com poder político vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto forem permitidos médicos concursados vendendo serviços para a secretaria; enquanto forem permitidos judicializar procedimentos para beneficiar um grupo de pessoas; haverá corrupção no governo. O dinheiro da saúde nesse modelo é usado para pagar folha de pessoal, clínicas e hospitais particulares, empresas terceirizadas e de prestação de serviço e não sobra nada para investir no sistema público. Esse sistema não pode dar certo. Quando você observa, não foi investido nada no sistema público, foi tudo pago para empresas privadas”, denunciou o médico.
Posteriormente foi nomeado o coronel do Exército Antônio Élcio. Natural de Minas Gerais, ele estava em Roraima desde a intervenção federal, possuía apenas graduação em Ciências Militares e mestrado em Ciências Militares – Comando. Sua atuação era na área de Defesa principalmente em temas de recursos humanos e forças de operações especiais, sem qualquer experiência na saúde. Durante os dois meses da sua gestão os serviços de saúde pioraram e aumentaram as denúncias de falta de materiais, equipamentos e profissionais de saúde em todo o estado. Ao final desse período foi decretado estado de calamidade pública na saúde.
Logo após foi nomeada a advogada e professora de direito, Cecília Smith Lorezom, que foi exonerada em 27 de dezembro. O Ministério Público de Roraima apresentou várias denúncias como, por exemplo, superfaturamento na compra de medicamentos. Além disso, no dia 4 de dezembro, realizou uma visita surpresa no Hospital Geral de Roraima para ameaçar os trabalhadores com transferências para outros municípios.
Posteriormente foi nomeado o médico Allan Quadros Garcês que, em entrevista, se declarou como “reacionário”. Assim como os outros secretários, ele também foi denunciado por corrupção. “Me declaro de extrema-direita, político ativista de direita conservadora e fazia oposição ao governo do PCdoB que na época governava o Maranhão. Com isso acabamos ganhando desafetos, mas passei por investigações para fazer parte do atual governo federal e foi constado que sou inocente das acusações”, tentou justificar-se.
Trabalhadores da saúde em greve geral. Foto: Sindprer
Os trabalhadores protestam contra o governador Antonio Denarium do PSL. Foto: Edinaldo Morais
Os grevistas acamparam em frente ao Hospital Geral de Roraima e em frente ao Palácio do governo. Foto: Fabrício Araújo
Barracas foram montadas na frente do Palácio do governo de Roraima. Foto: Reprodução
Tendas também foram montadas pelos grevistas. Foto: Yara Walker