‘Narco-latifúndio’: Traficante de drogas e latifundiário é preso no MS

Latifundiários estavam com 2 toneladas de maconha, 62 quilos de skunk e veículos usados para transportar narcóticos.

‘Narco-latifúndio’: Traficante de drogas e latifundiário é preso no MS

Latifundiários estavam com 2 toneladas de maconha, 62 quilos de skunk e veículos usados para transportar narcóticos.

Uma poderosa família de latifundiários tinha um papel central no abastecimento do tráfico brasileiro, segundo as conclusões da Operação Rottweiler, deflagrada no dia 16 de abril em Dourados, Mato Grosso do Sul. 

Cinco envolvidos foram presos, entre eles o advogado Helder Stefanes de Azambuja e seu pai, o pecuarista Heitor de Azambuja Junior, ambos de Dourados, com conexões em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. Também foram detidos o caminhoneiro Edilson Souza Martins, o comerciante de gado Valcir Moraes Eugênio (residente em Ponta Porã) e Sérgio Antônio da Silva, funcionário de Heitor, que morava no sítio onde parte do carregamento de 2 toneladas de maconha e 62 quilos de skunk foi encontrada. 

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No conjunto das operações, também foram encontrados veículos utilizados no transporte dos narcóticos – dois caminhões e duas caminhonetes, todos com aparência rústica, adequados para trafegar discretamente por estradas de terra entre fazendas. 

As drogas saíam do Paraguai, cruzavam a fronteira por vias rurais e passavam por municípios do interior do Mato Grosso do Sul, como Dourados e Santa Rita do Pardo, até serem transferidas para caminhões mais novos e enviadas a São Paulo, um dos principais centros de distribuição do país. A rota, discreta e bem planejada, foi apelidada por investigadores de “rota sertaneja”, por se desenvolver inteiramente no interior do território agrícola. 

A organização tinha uma logística sofisticada e estável. As investigações apontam que os envolvidos podem ter participado de negociações por trás de outras grandes apreensões, incluindo 34 toneladas de maconha e 200 quilos de cocaína encontradas em operações anteriores. 

Narco-latifúndio 

O caso da família Azambuja faz parte do pano de fundo do tráfico brasileiro, em que as classes dominantes (grandes empresários, latifundiários e agentes imperialistas) e as chamadas “forças de segurança” são os verdadeiros responsáveis pela entrada e transporte das drogas no País. 

Esse fenômeno é tão generalizado que tem sido apelidado pelo pesquisador uruguaio Raúl Zibechi de narco-latifúndio. O conceito também é usado por movimentos sociais como Pueblos en Camino (Colômbia), Movimiento Sin Tierra (Paraguai) e Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra de Honduras (Honduras). 

Neste modelo, as terras não servem apenas à produção agropecuária, mas tornam-se corredores e armazéns do tráfico. A infraestrutura rural – estradas de fazendas, caminhões velhos e galpões afastados – é adaptada para sustentar economias ilícitas sem chamar atenção. Os latifundiários também usam paramilitares para manter o controle local.

A reportagem da Revista Piauí, “Drogas, mortes e luxo na fronteira do Brasil”, amplia ainda mais essa análise. Mostra como o tráfico, nas regiões de fronteira como Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, está profundamente entranhado em práticas tradicionais de elite: pecuaristas, políticos e empresários que mantêm uma imagem de legalidade enquanto operam (ou protegem) negócios ilegais. O luxo visível das mansões e festas contrasta com a violência invisível e sistemática que marca o cotidiano rural da região. 

O caso dos Azambuja, com um advogado e um pecuarista no comando de uma rota de tráfico milionária, escancara essa zona cinzenta entre legalidade e ilegalidade, típica do narco-latifúndio. 

Impunidade vs repressão

Apesar dessa realidade, a polícia e o Estado brasileiro insistem na lógica de repressão máxima às massas populares sob a justificativa de “combater o tráfico” – na verdade, guerra implementada para aterrorizar o povo e buscar impedir protestos populares por melhores condições de vida por meio de constantes operações violentas. 

A mesma PRF que prendeu com delicadeza a família Azambuja e faz vista grossa a (ou participa ativamente em) tantos outros casos de transporte e comercialização de drogas por latifundiários é envolvida em chacinas brutais no Rio de Janeiro. Uma delas foi o massacre na Vila Cruzeiro, que acabou com 23 pessoas assassinadas. 

Em São Paulo – destino das drogas traficadas pelos Azambuja – a violência policial também tem sido uma constante. Em 2024, as mortes de pessoas pela PM no estado aumentaram 46%.

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