Três suspeitos do assassinato da líder quilombola Maria Bernadete Pacífico foram presos nos dias 25 de agosto e 1° de setembro. O anúncio foi dado no dia 04/09 pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia, que se negou a afirmar sobre as motivações do crime. As investigações também apressaram-se em tentar inocentar o latifúndio ao afirmar que os assassinos não são “pistoleiros profissionais”. É o oposto do denunciado por ativistas, apoiadores e inclusive pela família de Bernadete, que apontam diretamente para a ação do latifúndio e especuladores imobiliários como mandantes do assassinato.
O primeiro suspeito foi preso no dia 25 de agosto, oito dias depois do assassinato, em Simões Filho, mesmo município em que Bernadete foi assassinada. Ele estava com o celular da líder quilombola. No dia 1° de setembro, outras duas prisões foram feitas. Um dos suspeitos, preso também em Simões Filho, possuía duas armas compatíveis com os cartuchos encontrados na cena do assassinato. O outro, preso em Araçás, confessou ter participado do atentado.
O anúncio de Marcelo Werner, secretário de Segurança Pública na Bahia, foi no mínimo inconclusivo: “Se a gente falar em motivação agora, uma motivação A, B ou C, pode e vai prejudicar, infelizmente, as investigações. O processo está sob sigilo”, afirmou. Werner chegou a declarar que “é precipitado a gente falar em motivação”. Segundo ele, um dos suspeitos chegou a declarar o motivo, mas o conteúdo da declaração não foi compartilhado por motivos de “sigilo”. Uma verdadeira proteção aos mandantes.
Não há no que se precipitar. Maria Bernadete Pacífico era uma liderança quilombola, atuante em uma região de forte disputa com grandes empresários da especulação imobiliária e alvo constante de latifundiários, que foi executada no dia 17/08 em território quilombola em uma ação de modus operandi típico da pistolagem. Um de seus filhos, também líder quilombola, já havia sido assassinado em 2017 pelas mesmas razões que Bernadete era ameaçada. Jurandir Pacífico, o único filho vivo restante da liderança, declarou após o assassinato de sua mãe, em entrevista à TV Brasil que o atentado contra Bernadete tratou-se de “crime de mando” encomendado pela “especulação imobiliária, grilagem de terra, grandes empreendimentos”.
A conclusão é clara para qualquer um que não esteja comprometido com os interesses do latifúndio. A leniência das recentes investigações e a insistência no “sigilo” do processo, inexistentes em quaisquer processos incriminadores contra quilombolas, camponeses ou indígenas em luta, demonstram, no mínimo, a covardia dos envolvidos na averiguação; além disso, seu comprometimento integral com os latifundiários e grandes empresários, mandantes de sempre por trás da morte de Bernadete e demais crimes contra as massas em luta pela terra.