Trump anuncia tarifas contra mais de 185 países, dentre eles o Brasil

Como resultado direto, as ações das principais bolsas de valores amanheceram com uma queda em cerca de 3 trilhões (R$ 16,8 trilhões) de dólares.
Trump exibe tabela de países taxados. Foto: Reprodução/Youtube

Trump anuncia tarifas contra mais de 185 países, dentre eles o Brasil

Como resultado direto, as ações das principais bolsas de valores amanheceram com uma queda em cerca de 3 trilhões (R$ 16,8 trilhões) de dólares.

O presidente ianque Donald Trump anunciou hoje (03/04) a implementação de tarifas para produtos importados de mais de 185 países, entre eles territórios fundamentais para a produção industrial de empresas norte-americanas. Como resultado direto, as ações das principais bolsas de valores amanheceram com uma queda em cerca de 3 trilhões (R$ 16,8 trilhões) de dólares. Dentre os principais índices das bolsas, a Nasdaq teve uma queda de 5%, enquanto a S&P teve a perda de 1,7 trilhão de dólares  (R$ 9,57 trilhões), com seu índice caindo em 4%.  

A situação imediata de grandes empresas estadunidenses, sobretudo as que utilizam territórios do sudeste asiático para estabelecer suas indústrias, é de grandes perdas. A Apple, cuja grande parte da capacidade produtiva se encontra na China, país que recebeu 36% de taxa em seus produtos exportados para os EUA, teve seu valor de mercado reduzido em 250 bilhões de dólares (R$ 1,4 trilhão), uma perda de 8,2% na Nasdaq. O Vietnã, outro país que possui grandes fábricas da Apple, teve seus produtos taxados em 46%, maior do que a tarifa anunciada hoje.

Nos últimos anos, a Apple e outras empresas norte-americanas procuraram retirar suas indústrias da China e enviá-las para a Índia. Em março, as ações da empresa já haviam caído em 4,8%, como resultado da demora em atualizar melhorias em Inteligência Artificial. 

As volumosas tarifas impostas ao Vietnã afetaram diretamente a empresa de materiais esportivos Nike, que sofreu uma queda de 16,21%. O país do sudeste asiático detém cerca de 50% das fábricas da marca em todo o mundo. Como resultado, os produtos da maior e mais consumida marca esportiva dos EUA poderão receber um aumento impactante nos seus preços. 

O Brasil foi afetado com uma taxa de 10% pelas tarifas de Donald Trump, depois de já ter tido o aço taxado em 25% no início de março. Ainda no dia 03/04, o Congresso brasileiro aprovou um acordo de “reciprocidade” para responder às tarifas de Trump e o presidente Luiz Inácio disse que tomará “medidas cabíveis” sobre a situação. Contudo, nenhuma medida concreta foi anunciada ainda. Em março, a tarifa sobre o aço brasileiro passou impune, mesmo com a grande oportunidade que o governo teve à época de taxar a compra de ovos brasileiros pelo EUA frente ao aumento das exportações por conta da gripe aviária no país norte-americano – algo que, além de retaliar as tarifas autoritárias ianques, ajudaria a manter uma quantidade de ovos no Brasil e abaixar o preço da mercadoria no plano interno. 

Falsas justificativas e absolutismo presidencialista

O “tarifaço” de Trump é falsamente justificado para as massas populares com o argumento de que as sanções vão reforçar a economia nacional e incentivar a indústria nacional, o que é uma mentira, já que o imperialismo norte-americano, como superpotência hegemônica única, tem fábricas espalhadas pelo mundo inteiro – que foram retiradas do EUA por conta do crescimento do movimento operário e sindical local e por conta das condições de maior exploração da mão de obra barata nas semicolônias e colônias – e levar essas fábricas de volta para o EUA é um processo muito mais custoso do que o pagamento das tarifas de importação. Custo que, inevitavelmente, recairá sobre o povo norte-americano. 

No âmbito político, a estratégia do ultrarreacionário presidente ianque é impor tarifas contra vários países, inclusive aqueles que são plataformas de exportação (como é o caso do México, Canadá, Vietnã – que não à toa foi um dos mais taxados – e outros países da Ásia, como Coreia do Sul – taxada em 25% – e Taiwan – taxado em 32%), para fortalecer as relações bilaterais do Estados Unidos com esses países. Isso é importante para os reacionários ianques porque serve a enfraquecer “blocos” hegemonizados por outras potências, a exemplo da União Europeia, hegemonizada pelo imperialismo alemão. 

Essa análise é levantada também por analistas burgueses, mesmo que com limitações. É o caso do já citado por AND, Jesús A. Núñez Villaverde: “da perspectiva da União Europeia (UE), essa perspectiva anuncia problemas. Por um lado, porque podemos ver que, com todo seu poder econômico e tecnológico, ele buscará dividir e enfraquecer os Vinte e Sete, fortalecendo as relações bilaterais com cada um deles em detrimento de Bruxelas.”, disse ele, no texto “Trump no Código Imperial”, publicado no portal Real Instituto El Cano

Outro aspecto importante é que, do ponto de vista interno do EUA, é o modo unilateral como Trump tem encaminhado as tarifas. Até agora, o reacionário assinou todas as tarifas sem passá-las pelo Legislativo – mesmo que haja, no Senado, um movimento de senadores para aprovar um projeto de lei que obrigue Trump a passar novas tarifas pelo Congresso. A relevância deste aspecto está na sua relação com o processo de crescente concentração do Poder no Executivo na forma de governo ianque, uma característica associada ao absolutismo presidencialista típico de países em processo de reacionarização com tendência ao fascismo. 

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