O presidente ultrarreacionário ianque Donald Trump formará uma equipe com o mandatário russo Vladimir Putin para negociar o fim da guerra na Ucrânia sem que o presidente do país agredido, Volodymyr Zelensky, participe.
O anúncio foi dado após uma reunião de representantes dos imperialismos norte-americano e russo na Arábia Saudita ontem (18/2). O secretário de Estado do EUA, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmaram que vão nomear “equipes de alto nível” para resolver a guerra.
O presidente ucraniano respondeu ao acordo ianque-russo dizendo que o “Estados Unidos estão decidindo agora coisas que são muito favoráveis a Putin porque querem agradá-lo”.
Rubio disse que “ninguém ficou de fora” do acordo e que as negociações podem produzir “algumas coisas muito positivas para os Estados Unidos, para a Europa, para a Ucrânia, para o mundo (…) mas, primeiro, temos que pôr fim a esse conflito”.
Desdobramento
A negociação entre as superpotências é um desdobramento da ligação feita por Trump a Putin no dia 12/1. Na ocasião, Trump disse que a Ucrânia perderia territórios na guerra e nunca entraria na Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan.
Depois da conversa, o chanceler do governo ucraniano, Adrii Sibiha, disse que “nada pode ser discutido sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, ou sobre a Europa sem a Europa”.
‘Se apresse ou perca o país’
Na onda da nova rodada de negociações, Trump chamou Zelensky de “ditador” e disse que “(Zelensky) é melhor agir rápido ou ele não ter mais um país. Enquanto isso, estamos negociando com sucesso o fim da guerra com a Rússia”, em uma publicação nas redes sociais.
Na mesma publicação, Trump acusou Zelensky de ter “começado uma guerra que sabia que não podia vencer”. “Pense nisso, um comediante modestamente bem-sucedido, Volodymyr Zelenskyy, convenceu os Estados Unidos da América a gastar US$ 350 bilhões de dólares para entrar em uma guerra que não poderia ser vencida, que nunca teve que começar, mas uma guerra que ele, sem os EUA e “TRUMP”, nunca será capaz de resolver.”
Análises comprovadas
Desde o início da guerra da Ucrânia, o AND apontava que a guerra, iniciada através de uma agressão russa em resposta ao cerco ianque, era uma guerra injusta; e delineava os interesses por trás do conflito:
“Como já analisamos no Editorial Imperialistas rufam tambores de guerra que não podem desatar agora, os ianques, desde a desintegração da URSS social-imperialista, avançam ao leste europeu com o evidente objetivo de cercar a Rússia, através da OTAN. Cercar militarmente, para neutralizá-la em sua capacidade bélico-atômica e, consequentemente, quebrar o equilíbrio que perdura entre ambos graças à relativa equanimidade de meios de guerra de alta intensidade. O agravamento dessa contradição, especificamente agora, se expressa através da disputa entre ao menos três imperialistas (USA, Rússia e Alemanha), principalmente as duas primeiras (superpotências), pelo controle semicolonial sobre a Ucrânia, em que o imperialismo russo torna-se inimigo principal por intentar modificar o status do país de semi-independente (semicolonial) para colonial através da guerra de rapina, tentativa jamais aceita pelo povo ucraniano ao longo de seus muitos séculos de história.“, diz o Editorial Viva a resistência da nação ucraniana contra a rapina imperialista!, que cita o Editorial Imperialistas rufam tampores de guerra que não podem desatar agora.
“A Rússia, acossada que se encontra, para manter sua condição de superpotência imperialista e não ser subjugada pelos ianques, se debate como besta ferida, provocando distúrbios através de suas intervenções. E Vladimir Putin – isto que de pior se produziu do refugo da restauração capitalista da URSS, homem que se crê chamado pelo destino a restaurar o Império russo – como arma ideológica passou a atacar, da forma mais abjeta, que o povo ucraniano em verdade não existe, é parte do povo russo, assim como a Ucrânia fora invenção de Lenin. Pelo menos, aqui, se marca uma linha intransponível entre os comunistas e a ideologia fascista russa (‘quarta teoria política’).“, continua o Editorial.
Desde já, o AND apontava também o papel de Zelensky enquanto um capitulador. “Zelensky, como não poderia ser de outra forma, busca o melhor preço da capitulação, querendo sentar à mesa com Putin para vender a integridade do território ucraniano em troca de salvar seu medíocre governo lacaio dos imperialistas do ocidente. Para não ser enxotado pelas próprias massas, pronuncia uma ou outra palavra radicalóide, sobre expulsar os russos, que não convence a ninguém.“
E apontava o papel das massas na luta de libertação nacional: “Ao fim e ao cabo, a nação ucraniana, para não perecer, deve contar apenas com seus próprios esforços. Sob as consignas de Morte ao invasor russo! e Abaixo o imperialismo ianque, inimigo principal dos povos do mundo!, as forças populares devem conformar seu próprio exército guerrilheiro, unir a maioria do povo ucraniano na frente única revolucionária e rechaçar qualquer jogo do USA-UE; devem combater a tendência à capitulação do governo, e exigir dele que ponha à disposição das massas em armas os recursos estatais em função de expulsar os imperialistas russos. O proletariado e povo ucranianos, retomando a experiência histórica das melhores tradições bolcheviques, devem se armar delas e combater até o fim para mais uma vez derrotar e expulsar o invasor imperialista.“
Em março de 2023, o AND já apontava para a tendência dos ianques negociarem o fim da guerra por trás de Zelensky, enquanto buscavam desgastar o imperialismo russo através do apoio à guerra. “O imperialismo norte-americano e a OTAN estão adotando uma linha dupla para a questão da guerra na Ucrânia: primeiro, dão suporte, armas e recursos para o governo Zelensky para desgastar, o máximo possível, a Rússia, uma vez que interessa ao imperialismo ianque e à União Europeia (principalmente Alemanha) manter uma Ucrânia sob suas esferas de influência (e, entre eles, há disputas). Por outro lado, os norte-americanos também atuam para negociar, por cima da Ucrânia, com Putin, buscando evitar ao máximo que o conflito tome proporções e desborde a uma guerra mundial, já que não têm garantia de vencê-la enquanto não neutralizam a capacidade bélica-atômica que a Rússia possui através da instalação de escudos antimísseis o máximo próximo da fronteira.“, diz o artigo Imperialsimo russo atolado na Ucrânia, de Victor C. Bellizia.
Apontava sem ilusões, que “o fim da guerra de agressão através de um acordo“. E que “no que depender dos interesses das superpotências e potências imperialistas, a tendência é que, diante da escalada do conflito e dos meios de guerra utilizados, seja inevitável um acordo, no qual ambos os imperialistas “cedem” partes do seu interesse para evitar uma confrontação direta interimperialista. Para tanto, o imperialismo ianque e a OTAN sacrificarão a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, frente a qual Zelensky é um lacaio colaborador da repartilha do território ao atribuir ao imperialismo ianque a “defesa” da Ucrânia.“
Mais recentemente, no artigo Os provocadores da guerra imperialista e o perigo da Guerra Mundial, de Jaílson de Souza, o AND, recapitulando a análise da guerra na Ucrânia, apontou que: “Logo no primeiro semestre do ano de 2022, no momento em que os povos do mundo ainda sentiam os efeitos da crise pandêmica, Vladimir Putin invade o território ucraniano e desata uma guerra de agressão àquela nação. Longe de mera resposta ao cerco promovido por EUA e OTAN, pois há também a causa interna da própria economia imperialista em frangalhos dos herdeiros do tsar, é certo que a acentuação do primeiro conflito; entre potências e superpotências, leva ao agravamento do outro, entre países opressores e oprimidos – este sendo o principal no mundo hoje.“
E continua: “Enquanto apoiou-se por curto período nas massas do povo ucraniano, a guerra de resistência impôs pesadas baixas ao invasor russo, criando, por momentos, situação de atoleiro militar para os agressores e propício para o desenvolvimento e crescimento de ampla resistência nacional antirrussa.”
“Todavia, a atuação vergonhosa de Zelensky como capacho da OTAN e EUA e ao não se apoiar nas massas do bravo povo ucraniano, debilitou enormemente a resistência, tanto na moral, quanto na opinião pública, na medida em que se fiava nas armas dos imperialistas e contava com auxílio de grupos paramilitares neonazistas, favorecendo a propaganda de guerra russa (tão demagógica, quanto cínica) de “desnazificação” do país.“
“Em vez de buscar alianças locais, especialmente na sua fronteira, o chefe de Estado ucraniano apoiou todas as políticas imperialistas ianques de embargo à economia russa, o que golpeou a Europa e jogou as classes dominantes na Alemanha para uma situação de desespero e só fez fortalecer a burguesia imperialista chinesa. Cresceram as forças nacionalistas por toda Europa na base da condenação da desestabilização causada pelos ianques no velho continente desde o fim da Guerra Fria e na possibilidade de mais uma guerra devastadora para o seu território. Tais forças podem amanhã estar no poder e a Ucrânia seria um pária nesse cenário.“
E concluiu: “As recentes declarações dos caudilhos militares ianques sobre a Ucrânia, somadas ao papel de Zelensky reduzido ao mísero fantoche, antes palhaço (este já o era de maneira mais digna profissionalmente antes de ser um títere ocidental) e a necessidade de Trump por conter a China em Taiwan, sua batalha principal, impõem um acordo de capitulação humilhante à Ucrânia: Passar para as mãos dos novos tsares atômicos, quase metade de seu território. Selado o acordo entre as partes (EUA e Rússia), Zelensky, o peão no tabuleiro, será imprestável para os imperialistas – já o era para o seu povo. No apagar das luzes, Putin lança sobre a Ucrânia – num recado muito claro para toda Europa ocidental – um míssil com capacidade de transportar ogivas nucleares, provavelmente cedidos pelo Irã e, ato contínuo, assina uma acordo de cooperação militar com a Coreia do Norte. Voltamos à chantagem nuclear.“.
Os novos acontecimentos da guerra comprovaram as análises de AND, expressão da justeza da Linha Editorial e Política desta tribuna.