Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, anunciou um pacote de 1,2 trilhão de ajuda aos bancos. Foto: Raphael Ribeiro/BCB)
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, anunciou no dia 23 de março um pacote de ajuda aos bancos para enfrentar a crise econômica mundial e do capitalismo burocrático. O montante deve ultrapassar a casa de R$ 1,216 trilhão, ou 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o presidente, o objetivo da medida é evitar a falta de recursos e facilitar a concessão de crédito e tentar contrarrestar a dura crise que afundará a economia capitalista no país.
Comparado aos R$ 117 bilhões aplicados no socorro aos bancos durante a crise financeira global de 2008 e 2009, que corresponderam a 3,5% do PIB, o montante é quase 10 vezes maior.
De acordo com Roberto Campos Neto, as medidas, além de permitir que os bancos privados tenham mais dinheiro em caixa, vão permitir que os bancos possam oferecer “opções” para os clientes durante a crise, como, por exemplo, “trocar dívidas velhas por novas”, isto é, renovar as dívidas com novos juros.
O banqueiro disse ainda que os recursos liberados vão ajudar a diminuir as incertezas dos “agentes do mercado” nesse momento de crise, isto é, enchê-los de dinheiro. Questionado sobre a quantidade de dinheiro liberado, o reacionário disse: “O Banco Central tem de dar condições para que isso aconteça”.
O Banco Central também decidiu liberar empréstimos com lastro em debêntures de empresas, com potencial de R$ 91 bilhões, porém na avaliação do ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, a ação é arriscada pois é o contribuinte que pagará a conta se a empresa quebrar durante a crise. “O Banco Central está aceitando dívida privada como garantia. Isso é muito arriscado”, disse.
O presidente do Banco Central disse que as medidas têm como suposto objetivo reduzir os juros para o consumidor. Porém, segundo o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Oliveira, “as medidas amenizam os impactos da crise e dão mais dinheiro aos bancos, mas não vão ser suficientes para baixar o spread, porque os juros estão subindo e o risco de crédito é maior nesse cenário de incerteza”. Ele continua: “Com a recessão, o desemprego vai se agravar elevando a inadimplência, que é um dos itens que compõem o custo do dinheiro”.
Além de liberar dinheiro para a grande burguesia, o Banco Central também anunciou que promoverá uma flexibilização de regras de crédito do “agronegócio” (latifúndio) com um potencial adicional de liquidez aos bancos no valor de R$ R$ 2,2 bilhões.
Bancos aumentam juros apesar da liberação de crédito
Na contramão do que o Banco Central disse estar querendo resolver, os bancos não baixaram os juros, muito pelo contrário, aumentaram. Os bancos continuam aumentando os juros do cartão de crédito em 70%, justamente no meio da pandemia, onde as pessoas, por ter que ficar em casa, utilizam mais o cartão.
O próprio Roberto Campos Neto afirmou que os juros cobrados pelos bancos subiram “de forma acelerada”, mesmo com o Banco Central reduzindo a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia, de 4,25% para 3,75% ao ano, simplesmente o menor patamar da história.
Pequenos e médios proprietários protestam
Várias entidades varejistas emitiram documentos onde ressaltaram a importância de que o governo oferecer medidas de sustentação das pequenas e médias empresas e das pessoas que delas dependem.
Os pequenos e médios proprietários, a burguesia genuinamente nacional, exigem que se garanta o crédito para o varejista que se encontra impedido de produzir e já sente o impacto da crise.
No documento direcionado ao Ministério da Economia, as entidades listam nove medidas para mitigar os impactos econômicos na cadeia produtiva. Já na carta enviada ao Banco Central, são propostas cinco medidas para preservar a sobrevivência dos pequenos e médios varejistas.