Estudantes enfrentam agentes da repressão. Foto: Kemal Aslan.
Dos dias 4 à 6 de janeiro, milhares de estudantes da Universidade Boğaziçi em Istambul enfrentaram a repressão enquanto protestavam contra a nomeação de um novo reitor aos mandos do presidente fascista turco, Recep Tayyip Erdogan. Melih Bulu, o reitor apontado a assumir, já havia tentado um cargo no parlamento pelo AKP (“Partido da Justiça e Desenvolvimento”, o mesmo de Erdogan) em 2015. A indicação de Bulu foi mais uma da série de ataques do governo de turno reacionário contra a autonomia universitária.
No dia 04/01, os protestos se radicalizaram quando Bulu apareceu no prédio administrativo em frente aos manifestantes. Indignados, os jovens atacaram as forças da reação, empurrando agentes policiais e chutando os seus escudos.
Na manhã do dia 05/01, a polícia iniciou uma série de invasões domiciliares buscando supostos organizadores da manifestação do dia anterior. Dezessete estudantes foram presos. Nos protestos que ocorreram no dia, os manifestantes também denunciaram o caráter reacionário da polícia.
No terceiro dia de protesto, 06/01, mais de mil estudantes se reuniram na Praça de Kadıköy, após o governo proibir manifestações nos bairros onde ficam os campus da Universidade sob o pretexto da pandemia da Covid19. Enfrentando o bloqueio imposto, os estudantes marcharam cantando palavras de ordem como AKP, tire suas mãos da nossa universidade!.
Nos três dias, a repressão foi intensa, com as forças policiais do velho Estado fazendo uso de spray de pimenta, gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha. Todo aparato acabou por atingir não somente os manifestantes, mas também jornalistas que faziam a cobertura.
Os professores e demais servidores públicos da Universidade também participaram dos protestos. Dentro das suas queixas estava o fato de que antes de 2016 os reitores eram escolhidos por membros do corpo docente e estudantes através de eleições. Isso mudou com um decreto emergencial que concedeu esse poder a Erdogan.
O novo reitor também não fazia parte da equipe acadêmica de Boğaziçi, ao contrário de todos os reitores das últimas décadas. Houveram ainda acusações de plágios em seu currículo acadêmico, até mesmo em sua tese de doutorado.
Velho Estado turco teme a fúria da juventude
Desde 2016, a administração de diversas universidades passou por um aparelhamento de acordo com a linha política do governo reacionário. No ano passado, por exemplo, 27 reitores foram nomeados por Erdogan.
Tudo isso se mostrou bastante expressivo após 2018, quando enormes protestos tiveram lugar também na Universidade Boğaziçi, numa revolta dos estudantes contra as campanhas militares do velho Estado turco na Síria. Dezenas de jovens foram detidos nos protestos e mais de vinte foram efetivamente presos. Na época, Erdogan tentou demonizar os estudantes acusando-os de “terroristas” e “comunistas”, além de firmar a promessa de que iria os expulsar da Universidade.
Em tom similar, no dia 06/01, o parceiro da coalizão de Erdogan, Devlet Bahceli, falou em entrevista que os protestos recentes precisam ser esmagados, acusando os estudantes de “separatistas” e “peões de terroristas disfarçados”. Ele também afirmou que os manifestantes estavam tentando iniciar uma nova revolta como as do Parque Gezi, que abalaram o velho Estado turco em 2013.