Reproduzimos abaixo um artigo publicado no portal do jornal libanês Al Mayadeen.
As autoridades do regime israelense alegaram no sábado à tarde que o Hezbollah lançou um foguete na cidade ocupada de Majdal Shams, matando 12 civis, incluindo 10 crianças no processo.
O comando militar israelense até mesmo especificou o tipo de artilharia de foguete usada no alegado ataque, que teriam constatado enquanto um Foguete Falaq-1.
Por outro lado, a Resistência Islâmica no Líbano – Hezbollah negou completamente qualquer envolvimento e responsabilidade pelo ataque mortal no vilarejo nas Colinas de Golã sírias ocupadas por Israel.
Então, onde está a verdade?
Uma análise preliminar do sítio do impacto e as capturas por vídeo do momento do ataque desmantelam a versão isralenese, reforçando a declaração do Hezbollah.
Alguns pontos devem ser deixados claros antes de analisar o momento do ataque em Majdal Shams e as consequências causadas pela explosão.
Primeiramente, os oficiais israelenses disseram que as forças de ocupação foram capazes de identificar o foguete usado no ataque enquanto um Falaq-1, alegadamente reforçando suas suspeitas.
O foguete Falaq-1 é um projétil de artilharia com as seguintes especificações:
• Calibre 240mm
• Comprimento 1320 mm
• Alcance estimado de 10 km
• Teto máximo de vôo de 3,5 km
• Ogiva altamente explosiva de 50 kg
• Foguete de propelente sólido
Em segundo lugar, ogivas altamente explosivas tradicionalmente contém uma mistura de explosivos juntamente com componentes que funcionam como estilhaços impulsionados pela pressão da explosão. No momento seguinte do impacto na superfície, uma cratera deveria ser formada.
O tamanho da cratera iria variar de acordo com vários fatores, que incluem a massa dos explosivos, a pressão gerada pela ogiva no chão, a composição da superfície, juntamente com outros elementos.
Em terceiro lugar, o foguete Falaq exaure o propelente sólido em menos de 2 segundos após ser disparado.
Os interceptadores do Domo de Ferro israelense registram múltiplas falhas desde Outubro
Outro nuance importante que corrobora com a negação de envolvimento do Hezbollah são as falhas dos interceptadores terra-ar do Domo de Ferro em várias ocasiões nos últimos meses.
Incluindo a queda de um míssil interceptador do Domo de Ferro em Tel Aviv ainda em dezembro de 2023 e um incêndio causado pelo mesmo foguete em al-Jalil ocupada, após uma tentativa falha de interceptação de um drone do Hezbollah em 25 de julho de 2024.
Houveram muitos incidentes como esses, com alguns sendo capturados em câmeras, incluindo um evento no qual um míssil Tamir israelense atingiu um hospital em Tel Aviv em 6 de novembro de 2023.
Vários problemas técnicos relacionados a bateria do Domo de Ferro podem resultar em uma catastrófica falha de interceptação. Essas questões incluem um mau funcionamento no radar de engajamento, um buscador de radar defeituoso, um sensor de auto detonação defeituoso, um motor comprometido entre outros potenciais problemas.
O mais perigoso desses são os problemas nos sensores de auto destruição, que deixam o operador incapaz de destruir os mísseis terra-ar.
Foi um míssil israelense Tamir que atingiu Majdal Shams?
É altamente provável que a culpa esteja em um míssil terra-ar lançado do Domo de Ferro por de trás de Majdal Shams que teria causado o grave massacre.
Majdal Shams, que está entre os vilarejos e cidades ocupados por “Israel” em 1967, abriga uma vasta maioria de Drusos Árabes sírios e uma minoria de colonos israelenses. A cidade e outros grupos demográficos semelhantes, onde as populações nativas estão significativamente representadas, não se tornaram alvos de fogo direto da Resistência Islâmica do Líbano desde 8 de Outubro.
Embora a Resistência tenha lançado armas altamente precisas tais como mísseis guiados anti tanques e drones nas posições militares israelenses em cidades como Arab al-Aramshe, nunca atirou artilharia de mísseis não guiados nessas regiões.
Especificamente, Majdal Shams nunca foi atacada pelo Hezbollah, apesar de quase 300 dias de intensos confrontos próximos da fronteira libanesa-palestina.
A Resistência também não foi tímida em aceitar as responsabilidades de erros no passado, tal como um incidente em 2006, na guerra do Líbano, onde um foguete lançado pelos combatentes do Hezbollah atingiu uma casa em al-Nasirah ocupada.
O ataque aconteceu em 19 de julho de 2006 e o Secretário Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah tomou a primeira oportunidade, apesar da corrente guerra, de se desculpar com a família.
“Para a família que foi atingida em al-Nasirah – em meu nome e de meus irmãos, eu me desculpo com essa família” disse ele.
“Eventos como esse podem acontecer. De qualquer forma, aqueles que foram mortos em al-Nasirah, nós os consideramos mártires para a Palestina e mártires para a nação. Eu presto minhas condolências a eles”
Uma cratera correspondente
Como uma evidência coletada no sítio do impacto, a cratera formada pelo projétil tem cerca de 2 metros de largura e apenas alguns centímetros de profundidade. Isso indica que a ogiva que detonou nesta área tem bem menos de 50 kg, tendo provavelmente cerca de 10 kg.
Em comparação, a cratera formada pelo foguete Falaq-1 em Kiryat Shmona penetrou através do cimento e causou um dano extensivo na infraestrutura como é visto no vídeo abaixo.
O Foguete Falaq-1 está entre as mais pesadas artilharias de foguete do Hezbollah que podem ser disparadas por múltiplos lançadores e podem causar dano extensivo aos alvos.
Em contrapartida, a cratera vista em Majdal Shams pode ser mais atribuída ao míssil Tamir.
A possibilidade de que o Hezbollah tenha usado uma munição de menor calibre para conduzir o ataque é improvável, tanto que as autoridades israelenses alegaram que o míssil usado no ataque foi o Falaq-1.
Grandes chamas produzidas pelo propelente líquido
Outro aspecto a se examinar é a quantidade relativamente grande de combustão ocorrida como resultado do impacto no campo de futebol.
Projéteis altamente explosivos geralmente não produzem grandes bolas de fogo em sua detonação. Ao invés disso, eles criam uma poderosa onda de choque e uma fragmentação intensa. A explosão de um projétil HE primeiramente gera calor, ondas de choque e fragmentos ao invés de uma bola de fogo visível. Uma grande e visível bola de fogo é tipicamente associada com a queima de combustível, tal como é encontrado em motores de foguetes ou tanques de combustíveis.
Como pode ser visto na filmagem, o projétil produziu uma grande bola de fogo.
Um míssil Tamir lançado de uma posição próxima provavelmente contaria com uma quantidade substancial de combustível, tal como os foguetes de defesa aérea foram desenhados para voar por cerca de 70 km. Isso significa que a maioria do combustível feito para o voo do míssil após seu lançamento foi detonado e produziu a bola de fogo vista no vídeo.
Apesar das acusações israelenses de um ataque do Hezbollah usando um foguete Falaq-1, uma análise substancial aponta para um mau funcionamento de um míssil de interceptação Tamir como uma causa mais plausível da explosão.
A discrepância do tamanho da cratera, a natura da explosão e o histórico de alvos do Hezbollah todos sustentam essa explicação alternativa. A verdadeira história por trás da explosão em Majdal Shams permanece obscura, mas as evidências apresentadas aqui oferecem argumentos convincentes para reconsiderar a narrativa inicial.