UnB outorga diploma póstumo a Honestino Guimarães

O evento contou com a presença de alunos e professores da UnB, ativistas, amigos e familiares de Honestino Guimarães.

UnB outorga diploma póstumo a Honestino Guimarães

O evento contou com a presença de alunos e professores da UnB, ativistas, amigos e familiares de Honestino Guimarães.

No dia 26 de julho, ocorreu na Universidade de Brasília (UnB), a outorga do diploma post mortem de geólogo a Honestino Guimarães, militante assassinado pelo regime militar. 

O evento iniciou com uma breve apresentação da história de Honestino, de suas atividades acadêmicas na UnB e sua vida de militante estudantil. O ex-reitor da UnB, José Geraldo de Souza Junior fez questão de lembrar dá extrema importância da decisão de homenageá-lo, visto que é se trata do primeiro diploma post mortem outorgado pela UnB, afirmando que se trata de uma importante reparação. “Faz justiça a um dos maiores nomes da luta contra a ditadura militar do Brasil”, afirmou José Geraldo.

O ex-reitor também enfatizou sobre a necessidade de um reconhecimento e pedido de desculpas oficial do velho Estado brasileiro à Honestino e sua família, além da retificação do atestado de óbito constando a causa da morte como desaparecido político em virtude de atos repressivos praticados pelo estado brasileiro com motivação exclusivamente política.

Honestino, histórica liderança do movimento estudantil durante a ditadura militar e aluno exemplar do curso de Geologia da UnB, foi sequestrado pelo regime em 1973. Seu corpo nunca foi encontrado. Militante da organização marxista-leninista Ação Popular (AP), Honestino passou à clandestinidade em 1968, após o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Prosseguiu a luta em São Paulo e no Rio de Janeiro até ser preso em 1973.

‘Confiro a Honestino Monteiro Guimarães o título de geólogo’

Após a fala do ex-reitor, a atual reitora, Márcia Abrahão, entregou o diploma ao primo de Honestino, Sebastião Lopes Neto, afirmando que “a UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”. O momento de lágrimas foi dividido com aplausos e gritos de Honestino, presente!.

Sebastião Lopes, primo de Honestino, trouxe consigo o livro “Onde Estou?”, livro histórico da AP, organização em que Honestino militou. O livro foi produzido pelas mães dos desaparecidos. Sebastião saudou as mães, que eram linha de frente na causa dos desaparecidos da ditadura, dizendo que “sem elas, eles não teriam alcançado o que alcançaram”.

Também falou sobre a fragilidade do sistema burguês, de como, dentro das próprias leis, os mesmos militares conseguem estar no poder. Assim como tratou sobre a privatização das escolas e como hoje em dia, uma história como a de Honestino que “se formou no ensino público e veio a passar em primeiro lugar no vestibular é muito mais raro.” Finalizou recordando de como Honestino se negou a sair do Brasil, mesmo conseguindo todos os documentos falsos necessários. Ficou, e decididamente lutou contra o regime militar.

“Esperamos que possa haver um programa e uma deliberação relativa a tantos jovens na mesma situação do Honestino em várias universidades. Eu acho que deveria haver uma ação nacional de reconhecimento e diplomação”, afirmou Sebastião


Diversos representantes estudantis também levantaram pontos importantes durante o evento. Recordando sobre os eventos do 8 de janeiro e como os financiadores e generais golpistas ainda não foram presos. Assim como trataram das lutas atuais dentro da UnB, como a luta pelo pagamento das bolsas de extensão, contra o arcabouço fiscal, contra o NEM e pela implementação de cotas trans. 

Estudantes entoaram palavras de ordem como Nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil!’, relembrando o legado de luta junto ao movimento estudantil combativo que Honestino Guimarães deixou na universidade.

O legado de Honestino Guimarães

Nascido em 28 de março de 1947 na cidade de Itaberai – GO, mudou-se para Brasília com sua família nos anos 60 acompanhando a leva de migrantes que vinham em busca de melhores condições na nova capital. Passou a atuar no movimento secundarista do Colégio Elefante Branco, sendo o fundador do seu Grêmio. Ingressou em 1963 na Ação Popular (AP), organização de massas até então ligada à igreja católica, que posteriormente viria a se tornar APML após a cisão com a igreja e adoção do marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsetung.

Foi eleito para o Diretório Acadêmico de Geologia e  enfrentou sua primeira prisão em 1967 acusado de participar de ações de pichação contra o governo Costa e Silva, no mesmo ano enfrentaria sua segunda prisão acusado de participar de uma tentativa de preparar um movimento guerrilheiro em Itauçu – GO. Foi torturado em ambas as ocasiões e não entregou nenhum de seus companheiros.

Mesmo preso, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub). Após sua soltura, em agosto de 1968 as forças do Exército reacionário e da polícia invadiram a UnB, para cumprir mandados de prisão contra Honestino e mais sete líderes estudantis. Honestino foi arrancado da sede da Feub e ficou preso até novembro. Em 26 de setembro de 1968, como punição por ter liderado a expulsão de um falso professor da UnB, foi desligado da universidade.

Após o AI-5, passou a viver clandestinamente em São Paulo, com sua esposa Isaura Botelho, também militante estudantil. Integrou a diretoria da UNE a partir de 1969, mas quando o presidente da UNE Jean Marc von der Weid foi preso, Honestino assumiu a presidência interina da entidade. Permaneceu como interino até 1971 e, durante o congresso da UNE realizado no mesmo ano, na Baixada Fluminense, foi eleito presidente.

Participou do processo que levou à fusão da APML com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), reconhecendo nesse, à época, o único capaz de fazer a revolução através da luta armada sob a estratégia da Guerra Popular. Foi capturado aos 26 anos de idade no Rio de Janeiro pelo Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), a acusação é de que tinha participação ativa no apoio à Guerrilha do Araguaia. Desde então, nunca mais foi visto.

Honestino Guimarães foi um grande dirigente estudantil e marxista-leninista. Representante da parcela mais consequente da Juventude Combatente da década de 1960, sua memória e militância devem ser relembradas e exaltadas por todos os estudantes em luta. Levar adiante o legado de Honestino é combater aqueles que traficam com sua imagem, reduzindo seu papel a um estudante inconformado com o regime militar. Levar adiante seu legado, é levantar a bandeira da luta estudantil independente e combativa contra todos os ataques à educação e às massas de todo o Brasil, recordando que ele e tantos outros jovens revolucionários, deram suas vidas pelo que realmente o Brasil precisa: uma grande revolução.

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