Atiçados por Trump e outros reacionários, apoiadores invadem o capitólio do USA. Foto: Saul Loer/ AFP.
No dia 6 de janeiro, instigados pelo ainda presidente do Estados Unidos (USA), o ultrarreacionário Donald Trump, diversos grupos de reacionários invadiram o Capitólio durante um dos processos da chamada “transição pacífica de poder”. O episódio se deu enquanto o Congresso reacionário deste país estava em sessão para certificar os votos eleitorais que decretariam a vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.
Cerca de 3 quilômetros de distância do Congresso, próximo à Casa Branca, o ultrarreacionário Donald Trump agitava sua base de milícias contrarrevolucionárias e grupelhos em um comício. Dias antes ele se utilizou de suas redes sociais para incitar seus apoiadores a marchar sobre Washington.
Inicialmente sem enfrentar hostilidade da polícia – que, após o ocorrido, justificou a sua passividade perante os reacionários com o argumento de “estarem em menor número” –, muitos dos manifestantes empunhavam bandeiras e faixas com os símbolos mais execráveis, dignos da lata de lixo da história da humanidade, como o símbolo escravista do Estado Confederado e até mesmo bandeiras nazistas.
Ao tempo em que a invasão começou, a Polícia do Capitólio pediu por auxílio para lidar com os grupelhos, enquanto esses quebravam vidraças e empurravam os policiais do Capitólio, notavelmente desmilitarizados, ao contrário dos protestos populares de junho de 2020 após o assassinato de George Floyd. Entre os invasores havia alguns com braçadeiras e armamentos pesados, com objetivo de sequestrar políticos congressistas.
Próximo das 15h, a prefeita da cidade de Washington (Distrito Federal), decretou um toque de recolher na cidade. Uma das reacionárias, chamada Ashli Babbitt, foi baleada no peito por um policial do capitólio, morrendo mais tarde devido aos ferimentos. Ela era veterana do Exército reacionário ianque e que havia participado da guerra de agressão ao Afeganistão e Iraque. Outras quatro pessoas morreram durante as manifestações daquele dia, dentre eles um policial, durante um enfrentamento com os reacionários e três outros reacionários por “emergências médicas”.
Apesar de defenderem seu presidente com tanto “entusiasmo” no Capitólio ianque, como afirma o texto As eleições do USA e o papel de Avakian publicado na revista Internacional Comunista: “O próprio Trump é indiferente ao apoio destas poucas milícias fascistas, sua ambiguidade é uma manobra eleitoral. E embora ele seja apoiado por eles, isto não significa que ele mesmo seja um fascista. É notável que os governantes burgueses não preferem o fascismo, e sim a democracia burguesa, porque o fascismo aguça as contradições e é menos estável. As condições, sob o fascismo, são mais desafiadoras para a classe dominante e eles – os reacionários – tentarão massacrar a revolução de qualquer maneira, com ou sem fascismo. O fascismo não é a única maneira de travar uma guerra contrarrevolucionária. A centralização absoluta toma forma em duas formas: o absolutismo presidencial e o fascismo. Uma destas duas formas pode ser aplicada por reação em relação às especificidades sociais e históricas concretas do país.”
UM ULTRARREACIONÁRIO À SERVIÇO DO SISTEMA DE PODER
O absolutismo presidencialista de Donald Trump tem a ver com o fato de nem toda aplicação de violência, e mesmo tentativa de golpes (militares ou não), ser fascismo. O próprio Estado burguês conta com a violência e pratica os golpes, sendo esses uma necessidade política do imperialismo.
Dessa forma, fortalecido o poder do executivo, da alta burocracia do Estado imperialista ianque e das Forças Armadas reacionárias, o parlamento perde gradualmente funções e poder político, deformando-se, porém sem ser negado. Então, Trump não sendo fascista, mas sim um ultrarreacionário que governou do mais alto posto político do USA em um momento de crise de decomposição do sistema imperialista, se utiliza de todos os recursos que tem para se manter no poder. Antes do episódio ele estava traçando a via parlamentar (aglutinando o máximo de congressistas e senadores que corroborassem com sua tese da fraude eleitoral), o que prova que esse caminho sequer estava descartado por completo para ele.
De acordo com a revista Internacional Comunista, Trump não se declara inimigo do parlamento, nem das outras instituições da democracia burguesa como os partidos e as chamadas “liberdades individuais”, mas proclama defendê-las, acusando os governadores do Partido Democrata de subjugá-las com as medidas da “quarentena do corona”. E, na defesa do sistema de poder ianque, se utiliza da defesa mais reacionária existente entre as classes dominantes dela: conclama os seus seguidores a se organizarem para impedir o “fim da liberdade”. Para este fim, ele conta com a Segunda Emenda à Constituição que afirma que as milícias não podem ser dissolvidas pela Guarda Nacional – o que, de fato, não ocorreu, a força militar de reserva, que é subordinada ao Pentágono, não agiu, mesmo tendo sido chamada por deputados e senadores.
As milícias
A utilização política e militar das “milícias” (que se utilizam da constituição norte-americana para valer sua organização, portanto também não se pode caracterizá-las de fascistas em geral) tem a ver com o liberalismo ultrarreacionário que se dá neste país. Alguns membros destes grupos são fascista, e mesmo algumas poucas milícias também o são.
Na realidade, segundo a própria constituição e na própria realidade concreta, esses grupos são tropas auxiliares da polícia, defensores do sistema de Estado ianque e inimigos das organizações populares. Dessa forma, pela sua importância em combater a ferro e fogo a luta de classes, figuras políticas como Charlie Kirk, fundador do grupelho reacionário Turning Point USA e republicanos como Ted Cruz chegaram a financiar ônibus fretados com apoiadores do Donald Trump.
Milícias presentes no Capitólio como a The Oath Keepers (“Guardiões do juramento”, em português) são compostas majoritariamente por ex e atuais policiais, militares e outros ligados ao braço armado do Estado reacionário ianque. Esse mesmo grupo jura “defender a Constituição do USA”.
A invasão também contou com os grupos Proud Boys e Three Percenters, amplamente conhecidos e notadamente de muitos membros abertamente nazi-fascistas. Comprovação disso foi a declaração de Jeremy Bertino, membro proeminente do Proud Boys, em sua rede social Parler. O fascista afirmou que os presentes na marcha deveriam ter “levado ao próximo nível”, após dizer que a morte de Babbitt foi uma escalada por parte dos congressistas.
Rudy Giuliani, advogado pessoal do ultrareacionário Donald Trump, também atiçou os grupelhos durante um comício do protesto ao dizer que os congressistas deveriam ter “um julgamento de combate”.