Eleições no USA foram marcadas por altos índices de boicote eleitoral e violência política. Foto: Mark Wallheiser/Getty Images
No dia 9 de novembro foram iniciadas as eleições de meio mandato no Estados Unidos (USA), na qual governadores, membros do Senado e do Congresso disputam eleição ou reeleição para os cargos. A disputa, concentrada principalmente entre o Partido Democrata e o Partido Republicano, está ainda em contagem. Realizada em meio a uma severa crise política, aprofundada no USA desde a invasão ao Capitólio de 6 de janeiro de 2020, a farsa eleitoral contou com pouquíssima participação das massas populares do país, mesmo com toda a chantagem realizada pela burguesia imperialista. Soma-se como sintoma da crise da democracia burguesa os altos índices de violência política reacionária por todo o país.
Os resultados parciais da farsa eleitoral de meio mandato indicam que somente 46,2% da população apta a votar participou das eleições. De 50 estados, somente 14 tiveram uma participação do eleitorado acima de 50%. Em 40 estados, a taxa de participação foi menor do que nas eleições de meio mandato de 2018.
Nas semanas anteriores à farsa eleitoral, os monopólios levaram a cabo uma intensa campanha pela participação nas eleições para “salvar a democracia”. Depois da divulgação dos resultados, os monopólios de imprensa e demagogos do Partido Democrata celebraram a “vitória da democracia” contra a extrema-direita ianque. O presidente reacionário do país, Joseph Biden, anunciou que aquele era um “dia bom para a democracia”. Em sua euforia celebrativa pelo impedimento da “onda republicana”, os reacionários democratas e analistas da imprensa burguesa ignoram a quantidade enorme de pessoas que não tomaram parte no pleito e que a tendência é que cresça a desmoralização das instituições e a violência política no país.
No que tange aos resultados dos partidos reacionários, o Partido Republicano teve crescimento no Congresso, angariando oito cadeiras a mais. Já o governista Partido Democrata conquistou uma cadeira a mais no Senado, enquanto os Republicanos perderam uma. Os “democratas” ganharam duas em governos de estados (Maryland e Massachusetts), significando duas a menos para o Partido Republicano.
Três elementos da atual eleição indicam que a crise política no seio da superpotência imperialista hegemônica única não vai esmorecer, mas sim aumentar: o boicote eleitoral, expresso em norte-americanos que não compareceram às urnas; a crescente descrença das massas populares nas instituições políticas do imperialismo ianque (incluindo o “novo” parlamento); e o crescimento dos casos de violência política reacionária, cuja maior expressão ocorreu em janeiro de 2020 durante a invasão do Capitólio.
A falência histórica da democracia burguesa no USA
A crise política ianque ficou escancarada aos olhos de todo o planeta quando em 6 de janeiro de 2020 o ex-presidente derrotado nas eleições organizou seus legalistas reacionários para invadirem o Capitólio no questionamento do resultado eleitoral. A partir daí a crise política do imperialismo ianque não cessou, mas se aprofundou, não tendo ainda chegado nem perto de seu fim. Nos anos seguintes à invasão do Capitólio, a violência política reacionária e a desmoralização das instituições só aumentou.
Uma pesquisa divulgada em julho deste ano mostra que 43% da população do USA não confia na Suprema Corte do país, comparado a 27% em abril. Assim como ocorreu em janeiro de 2020, os analistas do monopólio de imprensa têm dificuldades em esconder o grau de decomposição da democracia burguesa. Em uma coluna para o The Guardian, o escritor Steven Marche afirmou que a “crença na democracia está decaindo”, e que “a legitimidade das instituições está declinando”.
No que tange à violência política reacionária por parte da extrema-direita, resultado da própria crise de decomposição do Estado reacionário, são abundantes nos jornais do Estados Unidos os casos de ameaças contra funcionários públicos, sobretudo os que trabalham em setores eleitorais, contra políticos do Partido Democrata e juízes. Em Maricopa, Arizona, funcionários das eleições receberam mais de 140 ameaças durante os preparativos para as eleições de meio mandato deste ano. Em setembro, uma juíza que investigava o caso de arquivos confidenciais encontrados na casa de Donald Trump recebeu ameaças em sua caixa-postal. Em outubro, um homem com um martelo invadiu a casa da reacionária Nancy Pelosi em busca da senadora, do Partido Democrata e, ao não encontrá-la, agrediu o marido dela com o objeto. Ademais, mais da metade dos norte-americanos acreditam que a violência política aumentará: somente 9% dos entrevistados em uma pesquisa acreditam que terá uma diminuição nos próximos anos, contra 62% que acreditam que os casos tendem a aumentar, 15% acreditam que vai se manter e 14% não sabem responder.
Somados com a constante piora da condição de vida do povo (inflação em níveis recordes de 8,2% e desigualdade econômica no ponto mais alto desde a fundação do país), todo o cenário aponta para a existência de uma situação revolucionária em desenvolvimento: os de cima não podem mais governar como antes e os debaixo não aceitam mais ser explorados como têm sido. Esta é a crise da democracia burguesa se desenvolvendo desde o centro do sistema imperialista mundial, que tende a caminhar cada vez mais para a reacionarização como forma de prolongar a sua existência, buscando restringir as liberdades democráticas para suprimir crescentemente os direitos e garantias do proletariado.