O imperialismo ianque lança há dois anos uma série de bombardeios sem precedentes contra a Somália sob a retórica de “combate ao terrorismo”. No ano passado foram mais de 31 ataques, segundo estimou o Comando do Estados Unidos para a África (Africom) em outubro deste ano. Até o dia 22 de novembro, o órgão do imperialismo inglês The Guardian e outros órgãos da imprensa anunciavam a marca de 33 ataques.
Os ataques, segundo o próprio The Guardian, representam um grave perigo para a população civil e têm fracassado no objetivo de destruir os grupos armados islâmicos que travam luta armada contra as forças estrangeiras invasoras – coordenadas pelo imperialismo ianque, por meio da “União Africana”.
Do total dos ataques de 2018, 29 foram dirigidos contra o Al Shabaab (“Movimento da Juventude Combatente”, tradução livre), organização que, apesar de sua ideologia reacionária, tem sido a principal força da Resistência Nacional.
Pesquisadores do Instituto Hiraal, parceiro do governo lacaio e com sede em Mogadíscio, capital da Somália, indicam que apesar das ofensivas do Al Shabaab contra as forças armadas ocupantes da União Africana terem diminuído, há um aumento nos ataques contra o aparato político-administrativo do Estado. Segundo eles, isso indica um fortalecimento da organização em territórios sob seu controle.
‘Não é possível derrota-los’ sem retirar as tropas estrangeiras
Oficiais do governo lacaio, como Hussein Sheik Ali (ex-chefe da contra-inteligência do velho estado somali e atual presidente do Instituto Hiraal), já reconhecem que não é possível derrotar o Al Shabaab militarmente. “Temos que negociar com o Al Shabaab”, disse Ali, em entrevista ao The Guardian, no dia 14 de outubro de 2018. O ex-oficial também admitiu que é necessário que os ataques aéreos ianques sejam encerrados e que as tropas da União Africana sejam retiradas para que se possa, em suas palavras, “trazer estabilidade” para a Somália.
A intervenção militar na Somália pela União Africana é coordenada diretamente pelo Africom – ou seja, pelo USA – e tem o objetivo de despojar os vastos territórios que hoje são controlados por vários grupos armados islâmicos, como o Al Shabaab. O que desenvolvia-se como pugna entre vários grupos de poder e frações das classes dominantes – das quais faz parte o Al Shabaab, que tem uma base econômica latifundiária semifeudal –, passou a desenvolver-se como guerra de resistência nacional quando a nação foi invadida pelos vizinhos, em especial pela Etiópia, com a justificativa de que a situação na Somália atentava contra a segurança de tal país. A partir daí, a União Africana também interviu no país – uma vez que tal caos na região constitui um problema para o imperialismo, que demanda alguma estabilidade para o funcionamento da superexploração levada a cabo pelos seus monopólios.
O Al Shabaab, surgido após décadas de combate do povo da Somália contra o imperialismo, incluindo contra o social-imperialismo da União Soviética, possui uma ideologia reacionária essencialmente religiosa, entretanto, com considerável viés de preservação do território islâmico e africano de seu país. Nascido como ala jovem e radical do Conselho Islâmico (Shura), organizador da resistência à intervenção militar etíope na Somália na primeira década dos anos 2000, o movimento então fez um juramento religioso de lealdade semelhante à vassalagem ocidental à Al Qaeda. O Al Shabaab hoje também é notório por ter considerável apoio camponês.
Em 2014, a agência de notícias Al Jazeera noticiou que a assolada e faminta economia camponesa da Somália estava sendo salva pela expulsão de Organizações Não-Governamentais (ONGs) dos territórios controlados pelo Al Shabaab. “As ONGs compravam comida de fora e nunca de nós, produtores locais”, disse à época um camponês para a agência de notícias do Catar.
O Al Shabaab, de acordo com o artigo de 2014, organizava também os chamados “projetos anti-ONGs”, que incluíam o “Prato Nacional” que consistia em restaurantes com preços populares para escoar a produção camponesa local, além de construção de canais de irrigação. A infiltração das ONGs por “agências de inteligência ocidentais” no território somali também é um dos motivos citados pela Al Jazeera para a expulsão desses supostos “grupos humanitários” pelo Al Shabaab.