Milhares de presidiários e presidiárias no Estados Unidos realizaram uma greve nacional que impactou pelo menos 17 estados do país entre os dias 21 de agosto e 9 de setembro. Os grevistas exigiram o fim do que chamam “escravidão moderna” nos presídios. Embora a greve tenha terminado oficialmente após quase três semanas, pessoas presas continuam a realizar greves de fome e paralisações, alguns até decidindo por greve indefinidamente. Centenas de migrantes detidos se uniram em solidariedade.
Mesmo antes de seu início, líderes de prisioneiros em Ohio, Flórida e Texas foram isolados. As tentativas do Estado ianque de se antecipar para impedir a greve em algumas instalações chegaram a desembocar em rituais humilhantes e tortura. Na prisão de McCormick, por exemplo, há relatos de que alguns presos foram obrigados a andar em torno de um poste de metal com apenas suas cuecas e a desfilarem mesmo em frente a mulheres.
Como já noticiamos na edição de AND (ver nº 211), entre as dez reivindicações encontram-se o fim imediato da “escravidão” prisional. Eles exigem que todas as pessoas encarceradas em qualquer local sob a jurisdição do USA deve receber o salário predominante no estado ou território de seu trabalho; melhorias imediatas nas condições das prisões e políticas prisionais que reconheçam a humanidade de homens e mulheres encarcerados; fim imediato do excesso de condenações, excesso de sentenças e negação de liberdade condicional às pessoas negras (hoje, no USA, presidiários negros têm seus pedidos de liberdade condicional negados pelo fato das vítimas dos seus crimes serem brancas, que é um problema especialmente nos estados do sul); o fim imediato do aprimoramento das leis racistas contra gangues, cujos alvos são as pessoas negras; bolsas de estudos aos presos reintegradas em todos os estados e territórios do USA; entre outras.
As datas programadas para início e fim da greve carregam também um simbolismo. O dia 21 de agosto, data do início da greve, marcou o dia em que George Jackson (uma das mais expressivas lideranças da luta do povo negro em todos os tempos) foi assassinado em 1971, na Prisão Estadual de San Quentin, Califórnia; e o dia 9 de setembro, dia em que greve foi programada para terminar, marcou o dia em que os presos assumiram o controle do Attica Correctional Facility, presídio de segurança máxima de Nova York, durante uma rebelião no mesmo ano.
Mobilizações nas prisões
Segundo notícias do monopólio de imprensa, os detentos da Hyde Correctional Institution, na Carolina do Norte, penduraram três bandeiras na cerca da prisão durante a primeira semana de greve, enquanto os apoiadores se reuniam do lado de fora. Um cartaz exigia melhorias na alimentação servida aos presos; outro exigiu o direito à liberdade condicional.
Na Declaração de Greve para a Imprensa, o Comitê Organizador dos Trabalhadores Encarcerados divulgou ações do movimento empreendidas em diversas cadeias do país, incluindo nos estados de Washington, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Califórnia, Ohio, Indiana, Novo México, Flórida, entre outros.
Na Nova Escócia, Canadá, prisioneiros de Burnside entraram em greve e emitiram uma declaração de protesto em solidariedade à greve e pautando demandas locais. Eles passaram por um bloqueio e extensas negociações com as autoridades. Aqueles que se recusaram a capitular foram punidos e trancados em uma cela seca (sem água ou banheiros) por três dias, segundo os detentos.