Foto: Alfândega do USA e Setor de Proteção de Fronteiras do Vale do Rio Grande via AP
Advogados de migrantes detidas revelaram, no dia 14 de agosto, que guardas da Imigração e Alfândega do USA (ICE, do Estados Unidos) de um centro de detenção de El Paso (Texas) abusavam sexualmente sistematicamente dos detidos. As denúncias incluem guardas atacando vítimas em “pontos cegos” de câmeras e dizendo-lhes que “ninguém acreditaria” se denunciassem. Tais centros de detenção prendem cerca de 50 mil imigrantes a cada ano, a uma despesa de 2,7 bilhões de dólares para os pagadores de impostos.
As denúncias foram detalhadas em um arquivo obtido pelo monopólio de imprensa ProPublica e The Texas Tribune, e expõem que os guardas agrediam sistematicamente pelo menos três pessoas (as que foram em frente com as denúncias) em um centro de detenção supervisionado pela Imigração e pela Alfândega, muitas vezes em áreas da instalação não visíveis pelas câmeras de segurança. Os guardas disseram às vítimas que ninguém acreditaria nelas porque as imagens não existiam e o assédio envolvia oficiais de alta patente, como um tenente.
De acordo com uma das queixas apresentada, vários guardas beijaram forçosamente e tocaram partes íntimas de uma mulher. Ela enfrentará a deportação na próxima semana à apresentação da denúncia, o que significa que os investigadores podem perder uma testemunha-chave.
A migrante, entretanto, disse em uma entrevista telefônica que preferia voltar ao México, mesmo estando em perigo lá. Ela disse que estava preocupada em ser alvo no centro de detenção por falar sobre o abuso. “Vai ficar pior agora”, disse ela. “Eu não posso mais lidar com isto”.
Desde que a primeira queixa foi apresentada, no dia 12/08, mais duas mulheres, incluindo uma que está atualmente detida nas instalações de El Paso e uma que já esteve detida lá, apresentaram denuncias de abuso. Pelo menos uma outra mulher foi deportada depois que um guarda a agrediu sexualmente, disseram as detentas aos advogados.
Essa queixa veio à luz quando uma das mulheres, uma salvadorenha de 32 anos, foi libertada por causa de uma condição médica e disse a uma advogada que ela temia pelos detidos que ainda estavam lá.
A salvadorenha disse à advogada que foi detida nas instalações de El Paso por cerca de três meses, onde foi repetidamente assediada. Um guarda disse que se ela não “brincasse” com ele, ele lhe daria uniformes limpos e sabão. Ele também disse a ela que lhe pagaria “muito dinheiro” para encontrar-se com ele e a estuprar em um local não visível para as câmeras. Dois outros agentes também a abusavam repetidamente.
Ela disse em uma entrevista telefônica que os guardas encorajavam as mulheres a se inscreverem para receber medicação anti-ansiedade e antidepressivas porque eles supervisionam a distribuição de medicamentos à noite e têm acesso a uma área fechada fora das câmeras.
“A maioria das mulheres que ainda estão lá têm medo de dizer alguma coisa”, disse ela. “Você não sabe o que eles podem fazer”. A advogada disse que as migrantes são especialmente vulneráveis porque muitas delas, provavelmente, serão deportadas, tornando ainda mais improvável que os guardas agressores enfrentem quaisquer consequências.
As outras duas mulheres migrantes que foram em frente com as denúncias também deram relatos sobre os abusos que sofriam no centro de detenção, além de um migrante homem que também denunciou abuso sexual por parte de um guarda.
Quase 15 mil queixas de abuso sexual foram feitas contra a ICE
Cerca de 14,7 mil queixas denunciando abuso sexual e físico foram apresentadas contra o ICE entre 2010 e 2016, de acordo com dados federais obtidos pelo grupo de advocacia Freedom for Immigrants. Além disso, apenas uma pequena fração foi investigada pelo Escritório do Inspetor Geral.
Em 2018, o ano com as estatísticas mais atualizadas disponíveis na internet, o ICE relatou 374 acusações formais de agressão sexual, das quais 48 foram investigadas pela agência e 29 permaneceram pendentes de investigação a partir daquele ano.
Mais recentemente, em uma ação judicial federal de maio em Houston, uma mulher mexicana disse que estava em uma instalação do ICE, em 2018, quando ela e duas detentas foram transferidas para uma cela isolada. Por volta da meia-noite, três homens usando coberturas faciais entraram na cela. Eles as estupraram e espancaram, de acordo com a denúncia. As imigrantes foram transportadas para o México horas depois, onde uma das mulheres acabou descobrindo que estava grávida do estuprador.
Um porta-voz da empresa que supervisionava aquele centro de detenção, CoreCivic, negou as acusações, chamando-as de “caluniosas”. A advogada da mulher, Michelle Simpson Tuegel, disse que a gravidez se alinha com a permanência da mulher na detenção do ICE, comprovando a denúncia.