USA: Imigrantes presos em campos da ICE enfrentam frio e torturas em condições desumanas

USA: Imigrantes presos em campos da ICE enfrentam frio e torturas em condições desumanas


O Centro de Processamento da Ice de Pine Prairie em Alexandria, Los Angeles. Foto: Google Maps

O povo ao sul do Estados Unidos (USA) sofre e perece na metade do mês de fevereiro devido ao frio intenso pelo qual passa o sul desse país. Combinado descaso do Estado imperialista ianque e sanha por superlucros dos monopólios de distribuição de energia, a situação se agravou a tal ponto que se registraram graves denúncias da situação de imigrantes presos. Trancafiados nos campos de detenção da ICE (sigla em inglês para Imigração e Fiscalização Aduaneira), as massas mais profundas enfrentam condições horríveis. 

Ano após ano, as empresas de energia não mudam suas estruturas pouco resistentes ao frio, mesmo após revisões. Preferem pagar multas ao Estado, que, por sua vez, representam um valor muito menor que o custo para mudar o sistema completamente.

Famílias imigrantes presas em campos da ICE no Centro Residencial Familiar do Sul do Texas, denunciaram que estão vivendo com banheiros transbordando, sede, falta de meios de higiene pessoal e aquecimento irregular no centro de detenção. Cerca de 30 quilômetros desse centro, no Centro de Processamento da ICE no Sul do Texas, em Pearsall, imigrantes denunciaram retaliações e torturas sofridas pelos agentes após exigirem aquecimento.

A falta de água se dá devido ao congelamento dos canos e à impossibilidade de funcionamento das centrais de tratamento devido à falta de energia.

A ICE tem o poder de permitir que os detentos deixem as instalações se essas se tornarem cada vez mais perigosas, porém tal ato não se realiza. Resultando que nas entranhas da superpotência hegemônica única, as massas migrantes não tenham mínimas condições para um nível de vida básico (tais como banheiro, água potável, entre outros).

No Centro Residencial Familiar do Sul do Texas, Adrian, um homem hondurenho que buscava asilo no USA, denunciou que não há água na detenção da ICE desde o dia 15/02. Além de não poderem dar descargas nos vasos sanitários, os homens nos dormitórios só recebem garrafas de 500ml de água, e dois a três sucos por dia. Sendo diabético, Adrian afirmou que não pôde tomar os sucos, além de ser água insuficiente para beber.

“Nós também não temos água para tomar banho ou escovar os dentes”, denunciou Adrian ao monopólio de mídia Buzzfeed News.

Quanto ao frio, Adrian afirmou que, mesmo com o uso do gerador, só havia calor o suficiente por algumas horas por dia, o que é insuficiente. Além disso, os imigrantes receberam comida fria, como sanduíches e frango, sendo que em alguns casos o frango estava praticamente congelado.

Foi denunciado também que algumas mulheres ficaram sem poder trocar de roupas por quase quatro dias, devido a lavanderia ter parado de funcionar.

Casos de tortura se agravam para aplastar revolta dos detentos

No Centro de Processamento da ICE no Sul do Texas, gerida por uma firma de monopólio de prisões privadas, a GEO Group, os imigrantes sofreram retaliação e torturas por parte dos agentes da ICE quando exigiram aquecimento. Apesar de o Centro não ter sofrido com a falta de energia, os imigrantes ficaram sem aquecimento suficiente para enfrentar o frio.

Ao reclamarem para os agentes da ICE, os agentes ligaram ventiladores para deixar os imigrantes presos com mais frio, em clara ação de tortura. “Se eles  ouvem reclamações como,‘Ei, está frio aqui’, eles vão dizer,‘Poderia ser pior’, e ligam os ventiladores.”, denunciou o pai de família Ocha Lopez, segundo o monopólio de mídia The Intercept.

Além disso, Ocha Lopez também afirmou que agentes jogaram cobertores no lixo, após reclamações dos detentos. Tal barbárie levou a momentos de tensão entre os detentos, que chegaram a brigar pelo pouco de cobertores que ainda restavam.

A situação aumentou os temores de que o frio deixe os detidos ainda mais vulneráveis ao Covid-19 em uma unidade que abriga cerca de 90 pessoas. Os centros de detenção da ICE foram assolados por infecções por coronavírus, em parte graças à natureza fechada do ambiente. Detidos, advogados e denunciantes também relataram má gestão e negligência médica.

Já no centro de detenção da ICE em Paine Praire, Louisiana, o sistema de punição dos detentos tornou-se muito mais severo com o frio. Angel Argueta Anariba, que está detido lá, disse ao The Intercept que, embora algumas outras partes da instalação tenham aquecimento, a unidade de segregação solitária não o tem.

Argueta Anariba foi colocada em uma cela de segregação individual alguns dias antes do frio se instalar – uma situação que ele descreve como uma retaliação. Argueta Anariba tem uma condição de saúde que requer uma dieta especial. Durante meses ele pressionou as várias instalações do ICE para as quais foi transferido para cumprir suas exigências dietéticas, sem sucesso. Ele disse que a explicação da administração de Pine Prairie para colocá-lo em segregação, de que ele havia destruído propriedade do governo, é falsa. Ao invés disso, ele afirma que foi uma retaliação pela pressão contínua que ele exerceu sobre a instituição para lhe dar as refeições corretas.

O centro de Pine Prairie foi recentemente acusado de outros esforços de retaliação. O Intercept informou este mês que um guarda da prisão privada havia ameaçado os detentos de serem colocados na ala de infectados por coronavírus se eles não se submetessem às ordens de deportação.

Para Argueta Anariba, as tensões típicas do confinamento isolado foram inesperadamente agravadas pelo frio. Embora os presos em segregação estejam em celas individuais, Argueta Anariba foi capaz de falar com os outros através das paredes. “Não há calor, não há nada – éramos oito pessoas morrendo de frio”, denunciou ele. 

Ele disse que as refeições chegavam frias à cela e seus ossos doíam. “Eu sou asmático”, disse ele. “No domingo eu tive dores no peito terríveis”. Embora os dias de congelamento tenham chegado em 12/02, Argueta Anariba disse que só no dia 14 lhe foi oferecido um cobertor extra.

Os funcionários do ICE alegam que embora o Pine Prairie tenha feito uso de um gerador no dia 10/02, as instalações nunca perderam aquecimento ou energia. “Todas as instalações também implementaram planos de contingência desenvolvidos em antecipação às condições meteorológicas severas do inverno”, disse um porta-voz da instituição.

O depoimento não correspondeu à experiência de Argueta Anariba. “Há sete pessoas ainda nessas condições”, disse ele no dia 18/02. “Deixar as pessoas naquelas condições é desumano”.

Origem dos problemas nos centros não é o frio

Embora o clima extremo tenha agravado a situação de miséria nos centros de detenção da ICE este mês, muitas das condições precedem as tempestades de inverno. Mesmo em áreas habituadas ao frio, os centros de internação da agência de imigração têm o histórico de não manter as pessoas aquecidas.

Nas últimas semanas, por exemplo, a cadeia do condado de Bergen, em Nova Jersey, que abriga os detentos do ICE, não tem tido aquecimento. Em 29 de janeiro, movimentos de defesa dos direitos dos imigrantes denunciaram que um agente havia dito a pelo menos um detento que o aquecimento não seria ligado pois “o frio mataria o coronavírus”.

Enquanto isso, um denunciante que trabalhava no Centro Correcional Richwood da Louisiana, dirigido pela empresa prisional privada LaSalle Corrections, disse que foi exigido aos agentes que baixassem as temperaturas do ar condicionado a fim de esconder os casos Covid-19. As temperaturas dos detentos seriam tiradas da testa; a idéia era “congelá-los” e manipular o termômetro para que os vôos de deportação não rejeitassem as pessoas com febre.

Enquanto isso, as celas de detenção operadas pela ICE são conhecidas há muito tempo como “hieleras” (em espanhol), ou caixas de gelo.

Em resposta às reclamações sobre Bergen, funcionários do ICE disseram, cinicamente, que “As verificações de temperatura em Bergen hoje mostraram que todas as áreas das instalações estavam dentro da faixa de temperatura aceitável e nenhuma reclamação sobre calor foi relatada pelos detentos nas instalações”.

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