USA: Protestos em diversas cidades após assassinato de jovem preto exigem fim da violência policial

Ao longo da última semana, milhares de estadunidenses levantaram-se em protestos contra a violência policial contra o povo preto.
Milhares de estadunidenses foram às ruas de diversas cidades do país contra a violência policial. Foto: Reuters/Jeenah Moon

USA: Protestos em diversas cidades após assassinato de jovem preto exigem fim da violência policial

Ao longo da última semana, milhares de estadunidenses levantaram-se em protestos contra a violência policial contra o povo preto.

Ao longo da última semana, milhares de estadunidenses levantaram-se em protestos contra a violência policial contra o povo preto. Os atos ocorreram em diversas cidades do Estados Unidos (USA) logo após a liberação do vídeo do assassinato de Tyre Nichols, um jovem trabalhador de 29 anos que morreu após ser espancado pela polícia genocida na cidade de Memphis, no Tennessee, no dia 07/01. Durante os recentes protestos, os manifestantes bloquearam importantes vias e pontes, atacaram viaturas e exigiram a condenação dos policiais assassinos e o fim da violência policial. 

Os protestos são um crescimento de uma mobilização iniciada pela família de Nichols no dia 14/01, que garantiu a demissão e condenação dos policiais assassinos e o afastamento de outros dois militares reacionários envolvidos no caso e três bombeiros que demoraram a prestar socorro.

Os protestos da última semana começaram ainda no dia 27 de janeiro, horas depois do vídeo filmado pela câmera corporal dos policiais ser divulgada. Centenas de massas tomaram as ruas de Memphis e bloquearam a ponte I-55, que conecta os estados de Tennessee e Arkansas, por aproximadamente 3 horas. Após saírem da ponte, os manifestantes bloquearam as ruas da cidade e exigiram a condenação dos policiais em frente à delegacia. Placas e cartazes com os dizeres O povo exige: acabe com o terror policial! e Justiça para Tyre Nichols foram erguidos durante os protestos. 

Ainda no dia 27/01, o governador reacionário da Georgia, Brian Kemp, temeroso de um grande levantamento de massas no país, decretou um estado de emergência preventivo para o estado. 

PROTESTOS SE ESPALHAM POR TODO O PAÍS

Viatura policial foi atacada durante protesto em Nova Iorque. Foto: John Lamparski/NurPhoto/REX/Shutterstock

No dia seguinte, os protestos se espalharam por diversas cidades do país. Em Nova Iorque, protestos tomaram a Time Square, área central da cidade, e pontos como o Washington Square Park. Uma viatura foi destruída pelos manifestantes durante o protesto e ao menos três pessoas foram presas. Gritos de ordem como Sem justiça, sem paz! foram entoados e cartazes contra a violência policial foram erguidos.

Em Milwaukee, um protesto ocupou o Red Arrow Park e rumou até o quartel-general do departamento de polícia da cidade, onde os manifestantes exigiram justiça para Tyre Nichols e o fim da violência policial em todo o país. Arturo Memboza, um manifestante, relatou ao monopólio de imprensa Milwaukee Journalism Sentinel que a violência policial contra o povo preto é constante: “Eu moro aqui há muito tempo e, o que aconteceu com Tyre Nichols, eu já vi acontecer várias vezes em Milwaukee”. 

Em Washington, capital do USA, os manifestantes se reuniram em frente à Casa Branca para condenar o assassinato de Tyre Nichols e a violência policial no USA, sobretudo contra o povo preto do país. Os protestos ocorreram ainda nas cidades de Detroit, Nova Orleans, Baltimore, Boston, Los Angeles, Raleigh, São Francisco e Charlotte. No dia 29/01, manifestantes se reuniram novamente em frente a uma delegacia de Memphis.

ASSASSINATO DE TYRE NICHOLS ESCANCARA CARÁTER DE CLASSE DO IMPERIALISMO IANQUE 

Tyre Nichols e sua mãe, RowVaughn Wells. Foto: Reprodução

Tyre Nichols foi espancado no dia 07/01 por cinco policiais de Memphis. Na ocasião, Nichols estava em seu carro e foi parado pelos policiais sob a acusação de “dirigir de maneira irresponsável”. Logo no início da abordagem, os policiais apontaram as armas para o jovem, abriram a porta do carro e o arrancaram para fora. Sob gritos de ordens incessantes e muitas vezes contraditórias, Nichols foi cercado pelos cinco policiais, que tentaram o imobilizar e, logo depois, o atacaram com spray de pimenta. Desesperado pela brutalidade da abordagem, Nichols conseguiu se desvencilhar dos policiais assassinos e correr para longe, mesmo após ser atingido por um taser

Depois de oito minutos de perseguição, o jovem foi novamente derrubado pelo grupo de cinco policiais. No chão, Nichols foi alvo de um espancamento que perdurou de maneira contínua por aproximadamente três minutos. Os policiais o alvejaram com chutes por todo o corpo e cabeça, ergueram o rapaz do chão e o acertaram múltiplas vezes com cassetetes. Após o espancamento, Nichols demorou em torno de 15 minutos para ser atendido por algum profissional de saúde. O vídeo mostra que houve um aumento constante da força empregada pelos policiais durante o espancamento, mesmo com o trabalhador não tendo oferecido perigo aos militares reacionários. Tyre Nichols trabalhava há 9 meses na FeDex, empresa de correspondência do USA, possuía um filho de 4 anos e era, segundo a família e amigos, uma pessoa “feliz e amável”.

No dia seguinte ao assassinato, a polícia da cidade publicou uma nota afirmando que um homem havia sido levado ao hospital após “dois confrontos” durante uma abordagem policial. No dia 10/01, Tyre Nichols morreu. 

O que se seguiu à morte do jovem foi uma mobilização por parte de seus familiares, amigos e apoiadores por justiça à Tyre e pelo acesso e publicização do vídeo gravado pela câmera corporal dos policiais. No dia 14/01, um protesto ocorreu em frente à delegacia de Memphis para que o vídeo fosse disponibilizado. Dois dias depois, um novo protesto ocorreu, desta vez no Museu de Direitos Civis da cidade. 

No dia 20/01, a polícia de Memphis anunciou que os cinco assassinos haviam sido demitidos. No dia 23/01, a família e advogados inspecionaram o vídeo e denunciaram publicamente a brutalidade das cenas. Um dia depois, a polícia de Memphis anunciou que havia afastado mais dois policiais que estavam envolvidos na investigação do processo de Nichols. Um dos policiais manteve a remuneração durante o período de afastamento, estando, na prática, em “folga remunerada”. No dia 27/01, um dia antes do vídeo ser liberado, os policiais foram indiciados por assassinato de segundo grau (quando um assassinato ocorre sem ser premeditado), sequestro, opressão oficial, espancamento e falta de conduta. No dia 27/01, o vídeo foi disponibilizado. 

POVO SE LEVANTA CONTRA VIOLÊNCIA POLICIAL

Rebelião popular cresce no USA na medida em que número de assassinatos pela polícia aumenta. Foto: Andrew Kelly Reuters

A morte de Nichols ocorreu há menos de três anos do assassinato de George Floyd, em 2020, ano em que milhares de massas estadunidenses se levantaram em todo o país para exigir o fim do assassinato da população preta e pobre pela polícia ianques. Desde então, as forças policiais do país elevaram o terror contra as massas do país na tentativa de impedir preventivamente uma nova rebelião: entre 2020 e 2021, o número de mortes por policiais do USA subiu de 43 para 57. 

Contudo, na medida que cresce a violência policial contra o povo preto do país, se eleva também a resistência popular contra os constantes assassinatos: em dezembro de 2020, centenas de pessoas foram às ruas do país  após o assassinato de um homem de 46 anos pela polícia em Ohio; em abril de 2021, em Minnesota, (cidade vizinha à que George Floyd foi assassinado), as massas voltaram a se levantar após o assassinato de Daunte Wright, de 20 anos, pela polícia; em fevereiro de 2022, outro protesto reuniu milhares de pessoas para condenar o assassinato de um jovem preto em Minneapolis; o mesmo ocorreu em duas ocasiões em julho de 2022 após o assassinato de Jayland Walker, 25 anos, em Ohio, e uma operação da Swat no Novo México, que vitimou Brett Rosenau, de 15 anos.

Imagem de destaque: Milhares de estadunidenses foram às ruas de diversas cidades do país contra a violência policial. Foto: Reuters/Jeenah Moon

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