Forças venezuelanas vigiam a costa da cidade de La Guaira, onde mercenários desembarcaram para invadir a Venezuela, no dia 3 de maio. Foto: Matias Delacroix/AP
Na madrugada do dia 3 de maio, um grupo armado lançou uma tentativa de invadir a Venezuela por meio de incursão marítima com lanchas. Os agressores desembarcaram em La Guaira, a apenas 32 quilômetros da capital Caracas, porém foram frustrados pelas forças de segurança venezuelanas, que mataram oito dos invasores e levaram pelo menos dois deles presos.
Um ex-soldado das Forças Especiais do Exército do Estados Unidos (USA), com múltiplas conexões com desertores do Exército venezuelano e com o lacaio do imperialismo ianque Juan Guaidó, assumiu a responsabilidade pela ação.
O ministro do Interior da Venezuela, Nestor Reverol, identificou os atacantes como “um grupo de mercenários terroristas da Colômbia” que pretendiam “realizar uma invasão por mar com o objetivo de cometer atos terroristas no país”. Além disso, Reverol afirmou que o grupo pretendia “assassinar líderes do governo” e “gerar caos e confusão entre o público”.
Segundo o monopólio de imprensa alemão DW News, circularam na internet de venezuelanos centenas de depoimentos de moradores descrevendo a chegada de várias aeronaves, tiros e explosões, bem como a intensificação da presença de forças de segurança na região em torno de La Guaira, no decorrer do dia 3.
Ex-boina verde assume tentativa de invasão
Jordan Goudreau, um ex-Boina Verde, como são chamados os soldados das Forças Especiais do Exército ianque, assumiu responsabilidade pela ofensiva que, afirma, tinha como objetivo derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro.
Dois dias antes do ataque, a agência de notícias The Associated Press (AP) havia publicado uma reportagem investigativa que revelou que Goudreau estava trabalhando com um general do Exército venezuelano, Clíver Alcala, para treinar dezenas de desertores venezuelanos em campos secretos da Colômbia a fim de realizar um ataque transfronteiriço contra a Venezuela.
A investigação mostrou que Goudreau se aposentou em 2016 do Exército ianque, após ter participado das guerras de agressão travadas pelo imperialismo ianque no Iraque e no Afeganistão. Atualmente, comanda a Silvercorp USA, uma empresa de segurança privada na Flórida, onde mora. Tais empresas militares privadas são classificadas como mercenárias, vide seu serviço que oferece “soldados de aluguel”, e usualmente contratam soldados aposentados para servir aos planos imperialistas como bucha de canhão.
Já Alcala, que é um dos principais militares venezuelanos opositores ao governo de Maduro, foi preso na Colômbia por agentes da Administração de Repressão às Drogas (DEA) do USA e levado para Nova York no dia 27 de março, em uma operação insolitamente conjurada pelo imperialismo ianque, como tratado pelo AND.
A AP cita diversas fontes não identificadas de que um grupo de cerca de 300 “voluntários fortemente armados” liderados por Alcala tentou derrubar Maduro em um “golpe privado” financiado por bilionários do USA.
No dia 3, Goudreau e Javier Nieto, um capitão venezuelano desertor que também vive na Flórida, postaram um vídeo juntos anunciando que haviam lançado um golpe contra Maduro que chamam de Operação “Gideon”. No vídeo, Goudreau aparece vestindo um boné do time de beisebol New York Yankees, enquanto Nieto veste um colete à prova de balas e tem uma bandeira da Venezuela amarrada ao ombro.
Goudreau diz que suas “unidades foram ativadas no Sul, Oeste e Leste da Venezuela” e que suas células de homens estão em solo venezuelano, algumas lutando sob o comando do capitão da Guarda Nacional Venezuelano Antonio Sequea, que há um ano participou de uma sublevação dos quartéis. O ianque afirma ainda que espera se juntar aos rebeldes logo.
No entanto, a AP afirma que a tentativa de incitar uma revolta “entrou em colapso sob o peso coletivo do planejamento acanhado, brigas entre políticos da oposição e uma força mal treinada que tinha poucas chances de derrotar as Forças Armadas venezuelanas”. A reportagem relembra um episódio do início do mês de março em que a polícia colombiana parou um caminhão carregado de armas e equipamentos táticos.
Ephraim Mattos, ex-membro da Marinha ianque que passou duas semanas em setembro de 2019 treinando os mercenários de Alcala na Colômbia em medicina tática básica, declarou, segundo a AP, que “não havia chance de [os mercenários] obterem sucesso sem a intervenção militar direta do USA”.
Ligações com Guaidó
Ainda de acordo com informações veiculadas pela AP, Goudreau parece ter participado também da tentativa de golpe que ocorreu na Venezuela em 2019, em que o fantoche do imperialismo ianque Juan Guaidó se autoproclamou “presidente” do país e foi apoiado por uma parcela do Exército.
Em uma entrevista realizada pela jornalista Patricia Poleo, Goudreau deu um depoimento acerca de suas atividades e o apoio que afirma ter recebido de Guaidó.
À jornalista ele forneceu um documento que diz ser um contrato de oito páginas de um total de 213 milhões de dólares assinado por Guaidó e dois consultores políticos em Miami no mês de outubro de 2019. O contrato não especifica, no entanto, o trabalho que a empresa militar de Goudreau deveria prestar, ao nele consta apenas a descrição de “serviços gerais”.
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Além disso, o mercenário também entregou uma gravação de áudio para a jornalista que foi feita enquanto o contrato era assinado. Na gravação, uma voz que Goudreau afirma ser de Guaidó pode ser ouvida dizendo em inglês: “Vamos trabalhar!”.
Segundo o monopólio de imprensa britânico Daily Mail, Goudreau o primeiro serviço de Goudreau relacionado à Venezuela ocorreu em fevereiro de 2019, quando trabalhou com a segurança de um festival de apoio à Guaidó organizado pelo bilionário britânico Richard Branson, na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia.
Lá, conheceu Keith Schiller, guarda-costas de longa data do presidente ianque Donald Trump. Em maio de 2019, então, Goudreau acompanhou Schiller em uma reunião em Miami com representantes e apoiadores do lacaio do imperialismo ianque Guaidó.
Vídeo de Jordan Goudreau e Javier Nieto: https://mobile.twitter.com/
Jordan Goudreau em um exercício de treinamento de sua empresa militar, Silvercorp USA.