“Derruba essas jecas! Bota fogo nas palhas, nas bananas”, ordena um homem, por trás da câmera de um celular, para uma turma de 50 pistoleiros. São elementos contratados pelo latifúndio para atacar camponeses em Barro Branco, Jaqueira (PE), no dia 28 de setembro. Quem ordena tudo, segundo os camponeses, é José Antônio Fonseca de Melo, líder do grupo paramilitar “Invasão Zero” em Pernambuco, que acabou baleado no final do confronto.
Em meio à destruição, tiros são disparados. As balas partem dos pistoleiros contra os camponeses, enquanto o líder da corja orienta os alvos, dentre eles crianças: “Tem cerca de 50 homens ali, tem mulher e menino também! É bala!”, diz ele, conforme registrado em filmagens acessadas pelo jornal A Nova Democracia. Somente em dois vídeos acessados, cerca de 12 tiros foram registrados.
Nesse momento, os pistoleiros já tinham destruído estruturas dos sítios dos posseiros e queimado uma parte da plantação. A fumaça sobe rapidamente. O vídeo é gravado de longe, mas mesmo assim capta os gritos daqueles que confrontam. “Fora, ladrão! Guilherme Maranhão!”, bradam os camponeses, apoiados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e por estudantes que foram de Recife até Barro Branco para apoiar na luta. O referido Maranhão é o maior acionista da empresa Agropecuária Mata Sul S/A, envolvida nos conflitos agrários da região e, de acordo com os camponeses, mandante do ataque do dia 28/9. Outros gritos exaltam a Revolução Agrária.
Os tiros continuam. Foi no meio dessa batalha (que durou, ao todo, 6 horas), que dois camponeses e uma estudante foram baleados. A organização do povo preveniu que as balas causassem graves ferimentos. Por outro lado, dois pistoleiros também foram atingidos, e estão em estado grave.
Toda a cena de guerra ocorreu com a presença da Polícia Militar na região, mas os policiais se isentaram de agir. Um terceiro vídeo, também verificado por AND, mostra os policiais escondidos atrás de uma igreja no momento em que os tiros estão sendo disparados. “Os homens ali atirando, olha. E a Polícia Militar de Jaqueira aqui, sem fazer nada”, diz o homem que grava o vídeo, enquanto registra os policiais. “Enquanto isso, os pais de família ali”, completa ele, enquanto vira os celulares na direção dos camponeses que resistem.
A Heroica Resistência Camponesa em Barro Branco durou cerca de 6 horas. O jornal A Nova Democracia cobriu o episódio e seguirá apurando o caso, com entrevistas com camponeses e instituições. A nossa Redação já entrou em contato com a Reitoria da UFPE, por conta da estudante da universidade baleada, com a Prefeitura de Jaqueira e com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Pernambuco, mas ainda não obteve resposta de nenhum órgão.