Nas últimas semanas, moradores da Vila Kennedy, zona oeste do Rio de Janeiro, protestaram contra a falta de água que afetou a favela por mais de 20 dias. Os manifestantes fecharam ruas, incendiaram barricadas e estenderam uma faixa com a consigna VK sem luz e água é fogo!.
Os atos refletem um ato de revolta dos moradores, que têm frequentemente sofrido com a interrupção de serviços básicos na região.
Uma das manifestações ocorreu no dia 21 de janeiro. Nela, os moradores fecharam a rua em frente ao Mercado da Cancela com uma barricada feita de entulho para exigir água. Os trabalhadores chegaram a atear fogo na barricada como uma forma de radicalizar a luta popular.
Na mesma semana, uma faixa foi estendida em um viaduto com a frase VK sem luz e água é fogo!. A ação foi repercutida pelo Coletivo Cultural Renato Nathan e pela página de comunicação popular Voz da Vila Kennedy.
Restrição a água e luz: crime e tortura
A falta de água e luz afetou a favela no meio de semanas de intenso calor no Rio de Janeiro. Segundo dados do Índice de Calor Diário, publicados pela prefeitura, a sensação térmica média na capital fluminense ultrapassou os 49,3°C na semana passada.
A restrição de água à população é, mesmo em cenários extremos como uma guerra, considerada um crime (no caso de conflitos, um crime de guerra). Mesmo assim, o Estado brasileiro e os bilionários do mercado da água negam água ao povo dos bairros pobres e periferias sem punição. A falta de água não afeta da mesma forma as áreas nobres das cidades, onde a interrupção dos serviços é rara e, quando existe, os megacondomínios usam cisternas para abastecer os moradores.
Nas favelas do Rio de Janeiro, a interrupção do serviço de luz também é um crime grave, uma vez que afeta o trabalho de milhares de massas, sobretudo comerciantes ou pessoas que trabalham em casa. O calor também prejudica ou mesmo impede o sono, um fato comprovado por pesquisas científicas como um artigo internacional publicado em janeiro na revista científica de medicina PubMed. A privação do sono é considerada uma tortura pela Organização das Nações Unidas (ONU).