A Meta, proprietária do WhatsApp, Instagram e Facebook, revelou que a empresa israelense de espionagem Paragon Solutions realizou ataques hackers contra cerca de 90 usuários da plataforma WhatsApp em mais de 20 países. O ataque se concentrou em jornalistas e ativistas.
Segundo a Meta, o ataque explorou uma vulnerabilidade em seus sistemas, permitindo a instalação de um spyware conhecido como Graphite, tipo de vírus que não interfere no funcionamento do sistema, que permite acessar informações confidenciais do celular do alvo. O ataque permitiu que os invasores acessassem mensagens em aplicativos criptografados, como WhatsApp e Signal.
As pessoas afetadas pelo ataque sofreram uma invasão hacker conhecida como zero click, onde recebiam documentos eletrônicos, que, ao serem recebidos, infectavam o dispositivo sem necessidade de qualquer ação por parte do usuário. A Meta informou as vítimas e enviou uma notificação à Paragon Solutions, ressaltando “cessar e desistir”.
“O WhatsApp interrompeu uma campanha de spyware da Paragon que tinha como alvo vários usuários, incluindo jornalistas e membros da sociedade civil. Entramos em contato diretamente com as pessoas que acreditamos terem sido afetadas. Este é o exemplo mais recente de por que as empresas de spyware devem ser responsabilizadas por suas ações ilegais. O WhatsApp continuará a proteger a capacidade das pessoas de se comunicarem de forma privada”, disse um porta-voz do WhatsApp ao monopólio inglês The Guardian.
A Paragon teria sido comprada pelo grupo imperialista AE Industrial Partners, com sede na Flórida, nos Estados Unidos, no mês passado. Segundo o site da empresa sionista, os serviços oferecidos são “ferramentas, times e dicas baseadas em ética” contra potenciais ameaças no ambiente virtual, e que só vende seus produtos para empresas ou governos de países que tenham um regime democrático “estável”. Em outras palavras, o EUA e seus aliados, podendo assim retirar desta lista inúmeros países de “democracias não-estáveis”.
Jornalistas hackeados
O governo da Itália confirmou em um comunicado na quarta-feira que sete pessoas no país foram alvos, chamando o incidente de “particularmente sério”. O gabinete da primeira-ministra reacionária Giorgia Meloni negou qualquer envolvimento e pediu à Agência Nacional de Segurança Cibernética da Itália (ACN) que investigasse o assunto.
Na manhã de quinta-feira (05/02), a Paragon encerrou seus contratos com a Itália. Segundo apurado pela imprensa italiana, os contratos em questão – que o governo Meloni não mencionou em seu comunicado à imprensa – eram dois: um com a polícia e outro com uma agência de inteligência. Ambas públicas e sob controle governamental, já que essa é a condição sob a qual a Paragon vende o software.
Francesco Cancellato, jornalista investigativo do site Fanpage.it, crítico do envolvimento da Itália na Líbia, e Luca Casarini, fundador da ONG Mediterranea Saving Humans, que auxilia migrantes, revelaram ter recebido uma mensagem da Meta na qual eram avisados de que os seus celulares tinham sido hackeados por um software israelense.
Violações sucessivas
No mundo, há uma série de casos de uso indevido de tecnologias de vigilância por parte de governos que adquiriram ferramentas de espionagem sionistas. Uma investigação do monopólio israelense Haaretz revelou que a Cognyte comercializou softwares de rastreamento de alvos em tempo real, utilizando dados de GPS, para o governo de Myanmar. A venda ocorreu um mês antes de um golpe militar no país.
Segundo a Anistia Internacional, o governo do Sudão do Sul também utilizou produtos desenvolvidos pela empresa israelense para monitorar, perseguir e violar os direitos de opositores políticos.
A utilização dessas ferramentas com a finalidade de espionar jornalistas, ativistas e críticos de governos não é novidade. Ataques semelhantes ocorreram anteriormente com os spywares Pegasus e First Mile, também de origem israelense. No Brasil, A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou 33 mil monitoramentos ilegais de telefones por meio do programa First Mile durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro.
Um desses investigados, listado como monitorado pela Abin com o programa espião israelense First Mile, foi o internacionalista pró-Palestina Pedro César Batista, do Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima e ativista do Comitê de Solidariedade à Palestina – DF. Batista foi vigiado entre 2019 e 2022 pela Abin.
Recentemente, o ativista internacionalista Thiago Ávila denunciou ameaças recebidas por ele assinadas pelo Serviço de Inteligência Israelense Mossad. A ameaça foi enviada por meio de um documento com logotipo do serviço de inteligência. O texto diz que Ávila é “acusado de atos de terrorismo contra o Estado israelense” e que o Mossad responderá “precisamente a esses atos”.
Ávila já recebeu várias ameaças de sionistas por conta de seu ativismo pró-Palestina, que envolve ações como a participação em protestos e a organização de missões humanitárias de barco à Faixa.
As perseguições a jornalistas e ativistas pró-Palestina também atingiram esta tribuna. O AND tornou-se um alvo das garras da perseguição anti-Palestina no dia 14/01, com a desmonetização de seu canal e subsequente banimento da plataforma monopolista Youtube a serviço do sionismo.