‘Morte de Sinwar nos tornará mais fortes’: Hamas confirma morte de líder em linha de frente de combate em Gaza

Sinwar viu, por um ano e dez dias, os êxitos de sua operação, que impôs à causa Palestina ao mundo, segue a derrotar política, econômica e militarmente o Estado sionista de Israel e continua mobilizando, de forma sem precedentes, as forças anti-imperialistas do Oriente Médio e resto do mundo.
Yahya Sinwar em meio às massas, em Gaza. Foto: Ashraf Amra/Anadolu Agency via Getty Images

‘Morte de Sinwar nos tornará mais fortes’: Hamas confirma morte de líder em linha de frente de combate em Gaza

Sinwar viu, por um ano e dez dias, os êxitos de sua operação, que impôs à causa Palestina ao mundo, segue a derrotar política, econômica e militarmente o Estado sionista de Israel e continua mobilizando, de forma sem precedentes, as forças anti-imperialistas do Oriente Médio e resto do mundo.

Com suas roupas militares favoritas, granadas no cinto, rifle na mão e um lenço palestino no pescoço, Yahya Sinwar, o chefe do Hamas responsável por montar a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, morreu hoje (17/10), na linha de frente de um combate com tropas sionistas no bairro de Tal al-Sultan, em Rafah. O chefe protegia, com outros combatentes palestinos, a cidade do Sul da Faixa de Gaza, onde milhões de refugiados expulsos de outras áreas do estreito território vivem.

O Hamas declarou, entre os dias 17/10 e 18/10, que Sinwar morreu “como um mártir heroico, avançando e nunca recuando, portando sua arma, desafiando e confrontando o Exército de ocupação nas linhas de combate”. “Ele se moveu entre todas as posições de combate, rapidamente e estacionado na honrada terra de Gaza”.

O Hamas declarou ainda que “o martírio do irmão e líder Yahya Al-Sinwar, junto de todos os líderes e ícones do movimento que o precederam no caminho da honra, martírio e do projeto de libertação e retorno, só irá fortalecer o Hamas e nossa Resistência, nos fazendo mais determinados e firmes em seguir seu caminho, honrando seu sangue e sacrifício”.

O responsável de Relações Internacionais da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), Maher Al-Taher, disse, ainda no dia 17/10, ao portal libanês Al-Mayadeen que “Yahya Sinwar lutou honravelmente e foi martirizado enquanto portava sua arma”. A FPLP emitiu uma declaração no dia 18/10.

Como um sinal da unidade da Resistência Nacional Palestina, vários outros grupos e organizações militares da Palestina honraram a morte de Sinwar com declarações. Todas reforçaram a decisão do líder pelo caminho da luta armada. Dentre eles estão as Brigadas Al-Qassam (Hamas), Saraya Al-Quds – Cisjordânia (Jihad Islâmica Palestina), a Jihad Islâmica Palestina, Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa (FPLP), Brigadas Al-Nasser Salah Al-Din, Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa (cisão do Fatah que tomou parte pela luta armada) e outros. De fora da Palestina, o Hezbollah (Líbano), Ansarallah (Iêmen) e Resistência Islâmica no Iraque foram alguns dos que homenagearam Sinwar e prometeram seguir no caminho da luta armada antissionista.

O próprio Al-Mayadeen, jornal destacadamente pró-Resistência, confirmou a morte do líder palestino, em um Editorial intitulado O lutador até o último suspiro… Yahya Al-Sanwar.

O Exército sionista de Israel divulgou uma filmagem de um drone do que diz ser os últimos momentos de Sinwar. Nela, um homem palestino, já sem um braço e coberto de poeira dos bombardeios, parece usar o pouco de energia para lançar uma barra de ferro contra o objeto israelense.

Esta matéria seguirá aberta para as declarações de outras organizações.

Yahya Sinwar: Uma vida dedicada à luta armada

Yahya Sinwar em discurso. Foto: Reprodução

Yahya Sinwar dedicou toda sua vida à defesa de uma Palestina livre e soberana, sempre mediante a luta armada. Passou mais de 20 anos cativo nos presídios israelenses. Foi libertado em 2011 pela via das armas, uma vez que foi a captura do soldado sionista Gilad Shalit pelas Brigadas Al-Qassam, do Hamas, que garantiu que Sinwar fosse solto junto de outros mil prisioneiros em troca do prisioneiro de guerra israelense.

Cartaz do Hamas sobre a captura de Gilad Shalit. O poster diz: “Nossos campeões cativos. Que nós tenhamos um novo Gilad a cada ano”; abaixo: “Eles [os prisioneiros palestinos] não estão sozinhos”.

Em 2017, Sinwar assumiu a liderança do Hamas em Gaza, função que desempenhou até agosto de 2024, quando substituiu o antigo chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, assassinado por Israel em Teerã. Mesmo com a promoção, Sinwar não deixou Gaza, e nem a linha de frente dos combates antissionistas. Uma diferença marcante dos comandantes sionistas, muitos dos quais se demitiram por não suportar as perdas causadas pela guerra de guerrilhas palestina.

Yahya Sinwar também foi o principal responsável por ter montado, junto de comandantes como Mohammed Deif (chefe do Estado-Maior das Brigadas Al-Qassam), a Operação Dilúvio de Al-Aqsa. Ele viu, por um ano e dez dias, os êxitos de sua operação, que impôs à causa Palestina ao mundo, causou importantes derrotas políticas, econômicas e militares ao Estado sionista de Israel e mobilizou a um nível sem precedentes as forças anti-imperialistas do Oriente Médio.

Sinwar também foi o responsável por montar o Al-Majd, serviço militar do Hamas para segurança interna e contra-inteligência. Em 2014, ele coordenou política e militarmente as Brigadas Al-Qassam durante a Guerra em Gaza de 2014.

Pôster de Yahya Sinwar erguido na Turquia pelo Hezbollah da Turquia no dia 8 de outubro, em comemoração ao Dilúvio de Al-Aqsa. Na tela, se lê: “De Diyarbakır, milhares de saudações ao líder mujahid Yahya Sinwar”. Foto: Reprodução

Ao longo da sua vida, Sinwar defendeu mais de uma vez a luta armada e deixou claro que não tinha medo de morrer. “O mundo espera que levantemos a bandeira branca? Isso não vai acontecer. O mundo espera que nós sejamos vítimas bem-comportadas enquanto estamos sendo mortos? Que nós sejamos massacrados sem fazer barulho? Isso é impossível”, declarou ele, à Vice.

Em outra ocasião, durante uma entrevista coletiva em maio de 2021, Sinwar disse que Netanyahu poderia matá-lo ali mesmo. “Ele (Netanyahu) vai dizer que esta é a foto da vitória e o fim da batalha. Que ‘assassinamos’ Sinwar”, disse. “Ele quer uma imagem de vitória, eu estou pronto. Eles podem tomar a decisão de me assassinar agora mesmo. Eu não vou piscar. Fique à vontade”.

Solidariedade internacional

A solidariedade com o Hamas atingiu, já no dia 17, patamares internacionais. A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) lançou uma declaração com o título Assassinar Sinwar não deterá o fim do sionismo e a libertação da Palestina.

“Ao contrário do que os sionistas e seus vassalos da imprensa ocidental venderam por mais de um ano, Yahya Sinwar não estava ’em um túnel cercado de reféns e seguranças’, mas, sim, morreu de armas em punho, na linha de frente da resistência contra os genocidas de Tel Aviv, estes armados pelos igualmente assassinos e covardes de Washington, Londres e Berlim”, disse a Fepal.

“Enquanto os covardes, como Netanyahu e seus sócios no genocídio palestino, sairão direto dos bueiros em que se escondem direto para a latrina da história, Sinwar será lembrado como mártir e herói do povo palestino”.

“O povo palestino tem a primazia de ser dono do próprio destino, da sua vitória e de sua invencibilidade. Enquanto os palestinos são assassinados para impedir que o ocaso do projeto colonial sionista na Palestina, que conta seus dias finais, os palestinos são reconhecidos em todo o mundo como vítimas de um extermínio televisionado e um povo heróico e invencível”, concluiu a Fepal.

Uma parte inevitável da guerra

A morte de Sinwar é uma dura perda para as fileiras do Hamas, das Brigadas Al-Qassam e da luta anti-imperialista internacional. Não é, contudo, um golpe que inviabilizará ou arrefecerá a Resistência do Hamas e sua organização militar, nem da Resistência Nacional Palestina como um todo.

A perda de quadros importantes é uma parte inevitável de qualquer guerra de libertação, assumida conscienciosamente pelos envolvidos nela. A história está cheia de exemplos.

Karakoz Abdaliev (que matou 72 soldados nazistas e destruiu dois tanques), Tatyana Baramzina (sniper que morreu após tomar parte em uma heroica operação de bloqueio de estrada e decidir ficar para trás para defender companheiros feridos), Vera Belik (tenente que morreu depois de completar com êxito uma operação de bombardeio) e Yakov Djugashvili (primogênito do chefe comunista Josef Stalin, que largou a carreira de engenheiro para defender o país e morreu em um campo de concentração nazista) foram alguns dos quadros do Exército Vermelho de Operários e Camponeses da União Soviética que deram a vida pela libertação dos territórios soviéticos ocupados pela Alemanha hitlerista.

O mesmo ocorreu na Guerra Popular na China contra o imperialismo japonês e o fascismo do Kuomitang, ou na Guerra da Coreia contra o EUA. Dong Cunrui foi um soldado comunista que chinês que se explodiu para destruir um bunker do Kuomitang em 1948. Mao Anying, filho de Mao Tsetung, morreu como voluntário na Guerra da Coreia.

A própria guerra antissionista no Oriente Médio tem custado quadros a organizações como o Hamas, a FPLP e o Hezbollah. O Hamas perdeu seu antigo chefe, Ismail Haniyeh, e um comandante sênior, Saleh Al-Arouri, além de outros membros e combatentes destacados. Imad Odeh, comandante da FPLP, também foi assassinado, enquanto o Hezbollah perdeu nomes como Fouad Shukr e o próprio líder histórico da organização, Hassan Nasrallah.

Nenhuma dessas perdas levou à derrota dos Exércitos revolucionários beligerantes. A construção dessas forças pelas massas populares e a direção revolucionária sobre as organizações militares permite uma reorganização rápida de combatentes inflamados por aqueles que tombam em nome da libertação.

A morte de Sinwar, com armas nas mãos e sujo da poeira dos escombros e combate, foi uma derrota para Israel, uma vez que a morte de qualquer chefe revolucionário nessas condições inflama que outros assumam postos em prontidão de combate.

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