Mais de 50% das cestas básicas que deveriam ser entregues aos Yanomami não foram sequer enviadas. Faz pelo menos três meses que a entrega dos alimentos está completamente parada, com exceção de algumas poucas entregas muito esporádicas. Enquanto os indígenas fenecem por uma crise gerada pelo velho Estado, governo e militares – responsáveis por enviar as cestas básicas aos indígenas – alegam que “falta verbas” para a entrega dos materiais. No mesmo período, generais do Exército aprovaram ajudas de custo que variam entre R$ 50 mil e R$ 300 mil, ministros do STF aprovaram um aumento de seus próprios salários para R$ 41 mil e o governo federal envia verbas milionárias para o “agronegócio”.
A situação calamitosa das cestas básicas foi revelada por reportagem da Agência Pública no dia 20 de junho. Segundo o portal, as cestas básicas estão estocadas em galpões nos municípios de Boa Vista (RR) e Manaus (AM), enquanto o governo e militares argumentam, ambos, a própria incapacidade em fazer as entregas.
Desde o início do ano, somente cerca de 23 mil das 50 mil cestas foram enviadas pelas entregas aéreas feitas pelos militares. Já as entregas por via fluvial, que foram solicitadas ao ministério da Defesa em abril, nem começaram. De acordo com o plano, a Marinha deveria auxiliar na retirada de cestas de Manaus e no envio, por rios, para os municípios São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, mas nada disso ocorreu. As justificativas para mascarar o genocídio indígena em andamento foram várias.
Primeiro, o ministério da Defesa, por meio do almirante da Marinha Renato Rodrigues de Aguiar Freire, alegou a falta ou limitação de estruturas militares nos municípios de Santa Isabel, Barcelos e São Gabriel da Cachoeira para a realização das entregas.
Depois, o ministério, coordenado pelo semibolsonarista José Múcio, alegou inviabilidade de navegar em determinadas parte do rio Negro “em qualquer época do ano”. Assim, para realizar o feito, seria necessário um esquema complexo, que envolveria cerca de R$ 1,6 milhão, supostamente indisponíveis nos cofres do velho Estado.
Ainda de acordo com a Agência Pública, o ministério da Defesa afirma não ter verba própria e não ter recebido verbas da Funai para a realização das entregas. A Funai, por sua vez, não respondeu à reportagem da agência.
Supersalários
Enquanto as classes dominantes e seus representantes alegam o velho e falso problema da “falta de verbas”, o governo de Luiz Inácio segue a destinar verbas bilionárias para os diferentes grupos de poder e classes dominantes do velho Estado. Ao tempo que os Yanomami são assolados por doença e fome, ministros do STF receberam, em março, a notícia da aprovação de um aumento salarial de R$ 39,2 mil para R$ 41,6 mil. Já os militares, responsáveis por auxiliar nas entregas das cestas, acumulam gordos soldos por meio dos salários e benefícios. Desde o início do ano, com as mudanças de cargo promovidas pelo comando do Exército sob beneplácito do governo, foram pagos centenas de milhares de reais dados em “ajuda de custo”.
Caso escancarado é o do general do próprio Comando Militar da Amazônia, Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves, que recebeu um “auxílio” de R$ 175 mil para mudar para Manaus e assumir o novo cargo. Se somados auxílios similares recebidos no ano passado, o valor atinge R$ 290 mil. Já o general Andrelucio Ricardo Couto, que coordenava o Comando Militar da Amazônia antes de Ferreira e foi transferido para Goiânia em março, recebeu, para “viabilizar” suas mudanças realizadas no ano passado e este ano, um total de R$ 275 mil. Os casos se repetem por todo o Brasil, por diversas situações. No caso de generais que vão para a reserva, chegam a receber ajudas de custo de R$ 300 mil.
Créditos bilionários
Na mesma linha, o governo de Luiz Inácio segue amamentando o latifúndio (“agronegócio”), setor declaradamente inimigo dos povos indígenas e causador da crise na TI Yanomami. Nos últimos dias, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), anunciou orgulhoso que o país terá o “maior Plano Safra da história do Brasil”. Em questão de valores, o reacionário e latifundista ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o valor para o ciclo de 2023/2024 do plano deve ultrapassar R$ 400 bilhões. Isso se soma aos recentes investimentos bilionários já feitos ao agronegócio na forma de créditos de curto prazo com juros subsidiados.
Antes de viajar para Europa, Luiz Inácio deixou claro, em reunião com Carlos Fávaro (Agricultura), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Fernando Haddad (Fazenda), que a verba repassada ao latifúndio via plano Safra deve ser gigante. Este ato foi comemorado pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Enquanto isso, no mês de maio, indígenas se levantam em todo o País contra a aprovação do “marco temporal”, medida que beneficia plenamente o agronegócio ao restringir ainda mais o direito indígena à terra.
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